por Júlia Gouveia
Inaugurado no dia 1º de março de 2013, o museu é bem localizado no Centro do Rio, por ser em um lugar de muito acesso, na Praça Mauá, no novo Porto Maravilha. Possui um mirante com uma vasta paisagem, onde pode se ver o já muito conhecido Museu do Amanhã, a Baía de Guanabara e atrás a Ponte Presidente Costa e Silva (mais conhecida como Ponte Rio-Niterói).
Vamos apresentar uma nova rota cultural, uma vez que o destino principal dos turistas, e até de moradores, quando vão passear por aquela área, se restringe ao Museu do Amanhã (o que explica os dias de superlotação naquele espaço). E enquanto o Museu do Amanhã tem um caráter futurista, o destino escolhido traz de volta ao nosso passado para que possamos refletir sobre o presente.
Então, para começar o passeio pelas exposições, o ETL (Em Todo Lugar) chegou primeiro na exposição “Luz no Caminho”, de autoria individual da artista carioca Leoa, que veio do bairro de Bangu, na zona oeste da cidade. É uma pequena mostra que fica no andar da biblioteca, com uma série de pinturas tocantes e sensíveis, que procuram mostrar o cotidiano periférico da vida suburbana fluminense, sobretudo de mulheres negras, que dialoga também com a realidade do resto do Brasil. Essa exibição mostra a força que a experiência periférica tem através de um olhar subjetivo, mesmo em um país que insiste em manter uma desigualdade social e que contribui para o apagamento e logo, para o negligenciamento das comunidades que foram colocadas à margem da sociedade.
Pois vale destacar que esses quadros ganharam o poder de humanizar as dinâmicas de convívio das comunidades, trazendo um olhar que não mostra apenas o sofrimento que a violência do Estado traz para esses grupos, e sim a realidade comum que existe em contrapartida. De certo modo, há uma calmaria nessas pinturas, de momentos singelos e que mostram também uma criação de afeto e de memórias daquele lugar.
Com curadoria de Marcelo Campos, Amanda Bonan, Jean Carlos Azuos, Thayná Trindade e Amanda Rezende, a exposição fica em cartaz até dia 27 de agosto, então não perca, que já está chegando ao fim.
Em seguida, o leitor chegará na exposição principal do MAR, “Um Defeito de Cor”. A exibição é uma interpretação do livro de mesmo nome da escritora mineira Ana Maria Gonçalves, que narra a história de uma mulher africana escravizada, chamada Kehinde, que ao chegar no Brasil precisa lutar pela sua liberdade. A mostra conta com uma recapitulação do período escravocrata no país, explorando os conflitos e os contextos sociais e culturais do século XIX.
Com curadoria da própria autora, e de Marcelo Campos e Amanda Bonan, são apresentadas 400 obras de arte, tais como desenhos, pinturas, vídeos, esculturas e instalações de mais de 100 artistas dos demais lugares do Brasil, como do Rio de Janeiro, Bahia e Maranhão, e até do continente africano, majoritariamente negros, e sobretudo de mulheres.
Para esclarecer o nome do título, o defeito de cor era um requisito da liberação racial, comum no século XIX. Naquele período, era vigente um mecanismo de racialidade baseado nas questões positivistas predominantes, como se pessoas racializadas, indígenas e negras estivessem sujeitas de ter a sua constituição biológica questionada como algo negativo, pejorativo e defeituoso, como de pouca inteligência, por exemplo. Logo, a exposição aborda o trauma que esse momento acarretou na história brasileira, através da trajetória da protagonista do livro, a africana, Kehinde.
Dividida em 10 núcleos, que fazem alusão ao número de capítulos do livro, a exibição fala das revoltas negras, do empreendedorismo negro, do protagonismo feminino no movimento, do culto aos ancestrais, sobre espiritualidade e da herança das religiões de matriz africana, da África Contemporânea, entre outros temas.
Em relação ao livro, ele completou 16 anos em 2022 e é considerado um clássico da literatura afrofeminista brasileira, e já ganhou o importante prêmio literário Casa de Las Américas, em 2007. No entanto, essa exibição também está chegando ao fim e sai de cartaz também no dia 27 de agosto.



A seguir, tem a mostra “Aqui é o Fim do Mundo”, de autoria do artista e historiador, Jaime Lauriano, que felizmente fica em cartaz até o dia 1º de outubro, em celebração dos seus 15 anos de carreira. Aqui o passado do país é a fonte dos questionamentos levantados em relação ao contexto político da atualidade. Demonstrando a sua formação de historiador, Lauriano revisita símbolos, signos e mitos formadores do imaginário geográfico da sociedade brasileira, através de vídeos, esculturas, desenhos, intervenções e cartazes pelo espaço.
E com curadoria de Marcelo Campos, Amanda Bonan, Thayná Trindade, Amanda Rezende e Jean Carlos Azuos, a exposição atravessa os signos do nacionalismo com uma visão e análise panorâmica da conjuntura atual da sociedade.


E por fim, tem a mais nova exposição: “Carolina Maria de Jesus: Um Brasil para os Brasileiros”, que tem parceria com o IMS (Instituto Moreira Salles) e acaba de chegar ao MAR, em uma versão amplificada, no dia 24 de junho e fica em cartaz até dia 26 de novembro.
A mostra homenageia a escritora/poeta mineira, Carolina Maria de Jesus, e conta a trajetória da autora do livro internacionalmente reconhecido “Quarto de Despejo”, de agosto de 1960. Além de trazer à luz a sua produção literária, também conta como foram os bastidores da sua história, assim como as suas incursões como compositora, cantora e artista circense. Além disso, não deixa de mostrar as dificuldades que a artista passou, como uma mulher negra e periférica, que viveu, cresceu e resistiu a um sistema opressor no meio do século XX, mostrando também os percalços passados dentro de um mercado editorial tradicional.
Portanto, depois do leitor ter tomado conhecimento sobre tantas exposições em cartaz, em um destino que na maioria das vezes é esquecido pelos visitantes, fica a recomendação da visita ao local, uma vez que você consegue consumir muita arte e perde até a noção do tempo ao caminhar pelos andares do museu. E ainda por cima, existe uma biblioteca muito ampla e interessante, além de claro, do mirante no terraço, que vai render muitas fotos aos visitantes.











