De fardos de palha a fibra de carbono moldada: a Fórmula 1 após 73 anos

 Por Igor Serrano. Foto de capa, Divulgação/Reprodução: XPB Images

13 de maio de 1950, Autódromo de Silverstone – Northamptonshire, Inglaterra. Diante de um público de mais de cem mil pessoas espalhadas por arquibancadas e barrancos, além da realeza (Rei George VI, Rainha Elizabeth e Princesa Margaret), Giuseppe Farina vence o Grande Prêmio da Grã-Bretanha, depois de liderar 63 das 70 voltas da prova. O pódio, somente com pilotos da Alfa Romeo, é completado por outro italiano, Luigi Fagioli, e o inglês Reg Parnell, nas segunda e terceira colocações.  

Farina antes do início do GP de F1 de Silverstone 1950. Reprodução; Auto Motor und Sport

20 de novembro de 2022, Circuito de Yas Marina – Abu Dahbi, Emirados Árabes. O holandês Max Verstappen é o vencedor do Grande Prêmio de Abu Dhabi, última etapa da temporada. Com a 15ª vitória confirmada, em 22 corridas no ano, o piloto da Red Bull torna-se bicampeão da categoria. O segundo lugar da prova é ocupado pelo monegasco Charles Leclerc da Ferrari, seguido do mexicano Sergio Pérez, também da Red Bull. 

Em mais de setenta anos de história desde o seu debut, a Fórmula 1, categoria mais famosa e midiática do automobilismo mundial, passou por muitas modificações. Muitas delas diretamente ligadas a evoluções da fisiologia e do profissionalismo esportivos, além dos avanços tecnológicos. 

Max Verstappen celebrando vitória no GP do Japão em 2022. Divulgação/Reprodução: GettyImages

No início, os instáveis carros tinham carroceria composta por alumínio, motores de “apenas” 350 cavalos que atingiam 290 km/h, não havia cinto de segurança (adicionado somente na década de 1960), nem capacete (toucas de couro e óculos eram usados em seu lugar). A média de idade era de 39 anos e hábitos como beber e fumar eram comuns entre os pilotos, que eram protegidos apenas por fardos de palha em eventuais colisões e mantinham a condição amadora/não profissional. 

Farina e Fagioli durante o GP de F1 de Silverstone em 1950. Reprodução: BRDC-Silverstone Experience

“O automobilismo não era encarado de uma maneira profissional quando a Fórmula 1 começou porque ainda havia muitos independentes, construtores de pequeno porte e poucas fábricas e isso foi mudando com o passar dos tempos. A grande fábrica que ficou e permanece na Fórmula 1, desde então, é a Ferrari”, explica Rodrigo Mattar, jornalista responsável pelo blog A Mil Por Hora e autor do livro Quase Heróis: os Campeões sem Título da Fórmula 1. 

Hoje as equipes contam com máquinas à base de fibra de carbono moldada (leve, mas com resistência ao impacto maior que o aço), com motores de 700 cavalos de potência que beiram os 400 km/h, guiados por jovens de cerca de 27 anos, detentores de salários anuais acima dos cinquenta milhões de reais e cada vez mais dependentes da preparação atlética. 

Voltando ao sábado em Silverstone, 1950. O mundo ainda vivia os primeiros anos do pós-Segunda Guerra Mundial e as competições esportivas interrompidas ao longo do período, começavam a retornar, como, por exemplo, a Copa do Mundo de Futebol masculino adulto da FIFA. 

Grande Prêmio da França de 1950, Reims-Gueux, França. 2 de julho. Direitos autorais mundiais: LAT Ref. fotográfica: Negativo preto e branco nº. C27339.

A Federação Internacional de Automobilismo (FIA), então, decidiu tomar para si o protagonismo e a organização da competição ao reunir os seis Grande Prêmios Europeus (Mônaco, Itália, França, Bélgica, Grã-Bretanha e Suíça),  que já vinham acontecendo, com as 500 milhas de Indianápolis e criar a Fórmula 1. O nome escolhido refere-se ao regulamento que determina as especificações técnicas dos carros para o campeonato (tal como uma fórmula) e o número 1 se dá por ser a maior classe entre as fórmulas do automobilismo, a de maior porte. 

A Ferrari decidiu não enviar seus carros para a prova inaugural da temporada na Inglaterra e, assim, acabou por facilitar a vida da Alfa Romeo, que conquistou todo o pódio. Essas duas equipes, aliás, seguem disputando a temporada de 2023, apesar de seus papéis, com o passar dos anos, tenham sido bem diferentes.  

“A Alfa Romeo, embora tenha participado e vencido a primeira corrida da história, ela já foi e voltou para a Fórmula 1 mais de uma vez. A única equipe que ficou todos esses anos foi a Ferrari. O peso da Alfa estar em 1950 e em 2023 é insignificante. A Ferrari teve seus momentos de domínio, chegou a negligenciar a própria F1 e quando foi comprada pela Fiat em 1973, a orientação mudou”, pontua Mattar. 

Os muitos presentes naquele sábado, 13 de maio de 1950, em Silverstone, não sabiam ainda, mas estavam testemunhando um momento histórico. Hoje, após mais de sete décadas de competição e ultrapassar mil provas realizadas, a Fórmula 1 é uma realidade de uma legião global de fãs apaixonados pelo não limite de velocidade. 

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