Créditos: revistatrip.uol.com.br / Arte: Projeto Mulheres Reais
Por Letícia Brazão e Rafaela Azevedo
O dia 10 de setembro foi escolhido como o Dia Estadual de Conscientização e Combate à Gordofobia no Rio de Janeiro, tendo como principal objetivo promover uma reflexão sobre os rótulos e estigmas impostos aos corpos gordos. A iniciativa de dedicar uma data para a luta contra este tipo de preconceito surgiu na 13ª edição do Parlamento Juvenil, em 2022, pelo estudante João Vitor Neves da Silva Bernardino, do município de Barra Mansa. A ideia foi adaptada pelos deputados Dani Monteiro (PSOL) e Chico Machado (SDD), sancionada pelo governador Cláudio Castro e publicada no Diário Oficial na edição de 22 de maio de 2022. Este tipo de descriminação ainda não é configurado na lei como crime, porém é uma prática punível em outras categorias como danos morais e injúria.
A gordofobia é o preconceito ligado diretamente a pessoas gordas, podendo se manifestar através da fala, da violência psicológica e, até, no nosso subconsciente. Tendemos a associar um corpo gordo a feiura, preguiça, sujeira e incapacidade. Este pensamento começa a transparecer logo na infância e nas escolas, e se manifestam em forma de bullying podendo gerar problemas psicológicos e distúrbios alimentares nas vítimas. Diante deste cenário, o programa Centro de Referências em Educação Integral, da Cidade Escola Aprendiz, realizou uma live em suas redes sociais no dia 30 de março deste ano abordando o assunto.
Um estudo feito por profissionais da ONG Casa do Adolescente, publicado pela Revista Veja, aponta que 77% dos adolescentes têm propensão a desenvolver doenças alimentares (como anorexia, bulimia e transtorno de compulsão). Entre as participantes do sexo feminino, 85% disseram acreditar que existe um padrão de beleza imposto pela sociedade; 46% afirmaram que mulheres magras são mais felizes e 55% adorariam simplesmente acordar com um corpo magro.
Em entrevista ao portal de notícias g1.globo, a analista de departamento fiscal Daniele Goncalves da Silva, de 34 anos, declarou que tem dificuldades em achar roupas em lojas físicas e que looks tendência não são para corpos como o dela, pois raramente tem seu tamanho e, quando tem, não vestem bem. Diante deste cenário, a busca por roupas plus size na internet tem fortalecido o mercado da moda. Segundo a Associação Brasil Plus Size (ABPS), o segmento cresceu 75,4% nos últimos dez anos. O aumento ocorreu porque as indústrias de moda e-commerce notaram um déficit na variedade de tamanhos em lojas físicas, passando a atender um público que antes era esquecido.
No ano de 2014, uma marca brasileira exibiu nas vitrines de suas lojas manequins extremamente magros. A prática gerou grande repercussão nas redes sociais e clientes relataram que ao se depararem com o corpo dos manequins, deixaram de entrar no estabelecimento. A marca, que já era conhecida por ser inacessível para pessoas acima do manequim 40, disse que seu objetivo era fazer a imitação de um croqui de moda (esboço de uma peça de roupa feito à mão).

Crédito da foto: helenabordon.com
Em contrapartida, alguns veículos de comunicação se posicionaram de forma positiva em relação à diversidade. Um exemplo é a revista Elle, que em 2015 celebrou seu aniversário de 27 anos em maio com uma edição que enfatizou a beleza de diferentes corpos e a autoestima feminina. A editora de redação da revista, Susana Barbosa, contou que a ideia era homenagear quem está no centro da moda: as mulheres. Uma de suas capas que ganhou destaque tinha a blogueira plus size Juliana Romani, que foi fotografada vestindo somente um casaco da grife Prada e sapatos Miu Miu. A influencer disse em ensaio para a Elle Brasil que se sentiu honrada pelo convite e muito orgulhosa pela iniciativa. Juliana também declarou que não é sobre a gordura em si e sim sobre a liberdade de tomar as próprias decisões sobre o próprio corpo.
Embora as redes sociais tenham agravado a percepção e propagação do mito do corpo perfeito, muitos influencers remam contra a maré e combatem este tipo de conteúdo. A página Movimento Corpo Livre (@movimentocorpolivre), fundada pelos blogueiros Alexandra Gurgel, Beta Boechat e Caio Revela, faz publicações diárias sobre autoaceitação, acessibilidade para pessoas gordas e com deficiência, transtornos alimentares e visibilidade LGBTQIA+. Em um reels publicado na conta, Beta revelou que recebe xingamentos gratuitos na internet de pessoas que nunca a viram pessoalmente. Sendo uma mulher transgênero gorda, ela relata que comentários como “feia”, “gorda” e “macho disfarçado de mulher” fazem parte da sua rotina. Ainda no mesmo vídeo, ela explicou que por muito tempo deixou que o medo do julgamento alheio tomasse conta de sua vida, mas que em um certo momento decidiu pegar todo aquele ódio que recebia e transformá-lo em força para ser quem realmente era.

Foto: reprodução Instagram @caiorevela
