Por Arthur Líbero. Imagem capa, Reprodução: El País Brasil.
Na quinta-feira, (07/09), feriado da Independência, a Bienal do Livro recebeu o jornalista e historiador Laurentino Gomes, conhecido nacionalmente por seu trabalho no jornal O Globo e, principalmente por suas obras literárias que contam histórias que fizeram parte do Brasil.
Sua primeira trilogia, que conta com os títulos “1808”, “1822” e “1889”, conta sobre a construção do Estado brasileiro a partir da chegada da corte portuguesa no país. Já em 2019, o jornalista escreveu o primeiro volume da série “Escravidão”, a narrativa que traz a história do período escravista na África antes da chegada dos portugueses e as motivações que levaram ao tráfico de escravos na América. O exemplar foi recordista de vendas nas várias livrarias do país. Dois anos depois, foi lançado o segundo volume e, em 2022, o terceiro.


Laurentino comentou sua vontade de escrever um livro sobre esse tema, “ao falar sobre a chegada da corte no Brasil nos primeiros livros, procurei explicar sobre o ponto de vista institucional, legal e como o Brasil rompeu seus vínculos com Portugal, copiando suas leis e sua classe de gente. Neles havia capítulos sobre escravidão, mas ao terminar essa trilogia, percebi que havia um assunto muito mais importante, que era a própria escravidão. Ao escrever a primeira série de livros, era como se eu estivesse observando a arquitetura do edifício Brasil e, agora, eu observo os moradores desse edifício.”
Ainda lembrou sua importância, “para falar sobre a gente brasileira é necessário observar nossas raízes africanas, o porquê o Brasil foi o maior país escravista da América, porque demorou tanto para acabar com o tráfico negreiro e a abolição, e porque não reincluiu os ex-escravos dentro da sociedade. Os principais problemas que temos hoje são decorrentes dos problemas que tivemos na época da escravidão. Então para entender o Brasil é preciso estudar esse tema”.

O jornalista também trouxe os detalhes da pesquisa que serviu de base para a escrita dos três livros. “Eu demorei cerca de 8 a 10 anos estudando só o assunto escravidão. Li cerca de trezentos livros e, como sou repórter, fui aos locais em que as coisas aconteceram e nos que ainda acontecem, como os quilombos, que são heranças desse período e realidade no Brasil de hoje. Eu fui, por exemplo, no terreiro de candomblé, no Recôncavo Baiano. É uma realidade muito viva, muito forte e muito bonita. Então viajei por 12 países sendo 8 deles só na África e observei essa realidade. É muito interessante porque a informação não está só no que você vê, mas também no que você não vê, e em toda a minha jornada eu não vi nenhum museu nacional da escravidão. Isso me levou a acreditar que existe um projeto nacional de esquecimento e abandono da memória ligada à África”.


A trilogia ganhou esse ano uma nova versão para os jovens, e o autor ressalta, “esse tema é muito importante porque fala sobre a construção de um Brasil no futuro. Não seremos um país rico enquanto não enfrentarmos o legado da escravidão que é a desigualdade social e desigualdade na distribuição de oportunidades. Como os jovens são os responsáveis por esse futuro, é importante que eles entendam sobre esse assunto. É um assunto pesado, mas é fundamental.”
E comentou as diferenças das versões adultas para as versões juvenis, “a diferença é que os livros com a versão adulta tinham mais de 1.500 páginas e eu acho injusto você impor uma obra dessa para os jovens, ainda mais quando eles não leem como deveriam. Então consolidamos os três livros em um formato com apenas 300 páginas com a presença de ilustrações, mantendo a qualidade dos primeiros livros, mas com uma linguagem mais adaptada. Tive a ajuda do autor Luiz Antonio Aguiar, que é especialista em trabalhar com esse público. Então acho que será de grande interesse para escolas e universidades que queiram trabalhar essa história em sala de aula”.

Ao longo dos três dias, Laurentino atendeu cerca de quinhentos leitores que pediram autógrafos. O jornalista foi um dos principais destaques da Editora Globo, ao lado de nomes como Valter Hugo Mãe e Rachael Lippincott.

