Como a Mulher Maravilha utiliza símbolos da opressão ao seu favor  

Por Richard Carrasco. Foto de capa, Divulgação/Reprodução: DC Comics.

Em 2021, a Associação da Luta Contra o Câncer (ASLCC) em Moçambique realizou uma campanha na qual super-heroínas como Mulher Hulk, Tempestade e Mulher Gato realizavam um exame de câncer de mama. A ideia era mostrar que nem mesmo mulheres superpoderosas são imunes à doença, conscientizando o público sobre a importância de fazer o exame mensalmente.

E agora, dois anos depois, é importante lembrar disso pois estamos no Outubro Rosa, o mês da conscientização sobre o câncer de mama. Uma das heroínas da campanha, a Mulher Maravilha, foi criada por William Marston, psicólogo que foi consultor da National Periodical Publication por acreditar que os quadrinhos eram um meio importante para as crianças despertarem suas emoções. Ele também inventou o polígrafo, o famoso “detector de mentiras”. Assim, não parece ser por acaso que a alter-ego de Diana Prince era capaz de extrair a verdade de seus inimigos enlaçando-os no Laço de Héstia.

Nas experiências que o levaram à criação do polígrafo, Marston concluiu que as mulheres eram mais honestas e confiáveis que os homens. Como ele mesmo escreveu, a Mulher-Maravilha surge como a “propaganda psicológica do novo tipo de mulher que deve governar o mundo”. Além disso, ele era conhecido como um “amante das mulheres”, vivendo um relacionamento poligâmico com a esposa Elizabeth Holloway e a companheira de ambos, Olive Byrne. As duas serviram de inspiração para a Mulher Maravilha.

Mas embora William fosse sem dúvidas um homem pró-feminista, com pensamentos à frente do tempo para um homem de sua época em relação aos direitos das mulheres, foi de Elizabeth quem partiu a ideia. Marston idealizou um personagem que triunfasse não com os punhos ou superpoderes, mas com o amor, no que Elizabeth sugeriu que, então, o personagem deveria ser uma mulher.

E assim, numa época em que a representatividade feminina era quase impensável, surgiu uma heroína na mesma editora dominada por heróis como o Batman e o Superman. Uma personagem não-convencional, como seu autor, que enquanto quadrinista utilizava o pseudônimo Charles Moulton, para separar seu trabalho nos quadrinhos de sua carreira acadêmica, mas além disso, Charles tinha que manter uma vida secreta, assim como sua maior criação. A sociedade, principalmente naquela época, jamais aprovaria seu casamento poligâmico.

O laço, que é um símbolo da submissão (e da bondage, da qual Marston e suas esposas eram adeptos), com a Mulher Maravilha se torna uma arma que derruba mentiras e derrota o mal. É uma forma genial de subverter signos da opressão à mulher, criando uma heroína capaz de superar todos os obstáculos que lhe são impostos, e assim inspirando milhares de meninas mundo afora.

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