Por Pedro Teixeira. Foto de capa: Bonde virado. Reprodução: Wikipedia.
A Revolta da Vacina foi um episódio histórico que ocorreu na cidade do Rio de Janeiro em 1904. Foi uma manifestação popular contra a obrigatoriedade da vacinação imposta pelo governo federal e estadual contra a varíola, uma doença altamente contagiosa e letal. As autoridades sanitárias na época buscavam combater a sua propagação por meio desta vacinação.
A Revolta teve início em 10 de novembro, quando as autoridades de saúde pública começaram a realizar campanhas de vacinação obrigatória, autorizadas por uma lei estadual no Rio de Janeiro. A população, especialmente os mais pobres e os que não tinham acesso à informação, reagiram de maneira hostil à imposição da vacina, alegando uma série de temores e desconfianças em relação aos métodos de aplicação, às possíveis reações adversas da vacina e às intenções do governo.
Os protestos contra a vacinação obrigatória se transformaram em tumultos, manifestações violentas e conflitos com a polícia. A revolta se espalhou rapidamente pela cidade e se tornou um levante popular, com pessoas incendiando prédios públicos, depredando instalações de saúde e entrando em confronto com as forças de segurança. O movimento teve ampla cobertura na imprensa da época, e as imagens dos confrontos eram frequentemente estampadas nos jornais.

Oswaldo Cruz foi uma figura central no contexto da Revolta da Vacina e desempenhou um papel importante na implementação da política de vacinação obrigatória contra a varíola, que gerou a revolta popular. Ele foi um médico, bacteriologista e cientista brasileiro, conhecido por suas contribuições à saúde pública e por liderar os esforços para o combate de epidemias no início do século XX. Foi nomeado Diretor Geral de Saúde Pública pelo governo do então presidente Rodrigues Alves, que assumiu o cargo em 1902. Uma de suas principais iniciativas foi a campanha de erradicação da varíola, por isso defendia tanto a vacinação obrigatória que resultou na revolta da população.
Ele enfrentou forte resistência e críticas da população durante a revolta, sendo frequentemente associado aos conflitos que ocorreram nas ruas do Rio de Janeiro. Embora estivesse cumprindo as ordens do governo e agindo com base em sua compreensão da importância da saúde pública, a revolta o tornou uma figura controversa na época.

A Revolta da Vacina durou uma semana, até que o governo reprimiu violentamente os manifestantes, prendendo líderes do movimento e restabelecendo a ordem. A lei que determinava a obrigatoriedade da imunização foi revogada em 16 de novembro, quando também foi decretado o estado de sítio no Rio de Janeiro.
Não adiantou muita coisa, pois em 1908, uma nova epidemia de varíola voltou a atingir o Rio de Janeiro, com mais de 6.500 casos. Foi necessário muito esforço para que, em 1971, a varíola fosse finalmente erradicada no Brasil. É importante observar que, apesar das controvérsias em torno da Revolta da Vacina, as políticas de vacinação obrigatória, como a promovida por Oswaldo Cruz, desempenharam um papel fundamental na erradicação da varíola e na melhoria da saúde pública a longo prazo.
Durante muitos anos, o Brasil foi internacionalmente reconhecido como um bastião de excelência no Programa Nacional de Imunização (PNI), registrando índices robustos de cobertura vacinal. Contudo, desde 2015, o país enfrenta um desafio considerável com a notável diminuição na busca por vacinas nos postos de saúde, resultando no ressurgimento de doenças que tinham sido erradicadas, como sarampo e poliomielite, colocando em risco conquistas históricas no controle dessas doenças infecciosas.
A situação atual da vacinação no Brasil revela dados alarmantes, intensificada pela pandemia de COVID-19, que contribuiu para uma expressiva redução no número de pessoas procurando a imunização, apesar dos esforços para conter a propagação do vírus. No âmbito político, o ex-presidente Jair Bolsonaro desempenhou um papel polêmico em relação às campanhas de imunização, exercendo influência na confiança da população nas vacinas. Suas declarações e posturas têm sido objeto de acalorados debates, impactando diretamente na adesão à vacinação.
Ao longo de sua história, o Brasil foi um líder comprometido com o PNI e o controle de doenças por meio da vacinação em larga escala. Restaurar a confiança na imunização tornou-se crucial não só para conter surtos de doenças já controladas, mas também para preservar a reputação e eficácia do PNI, assegurando que o país mantenha seu status como referência mundial em saúde pública.
