Por Igor Serrano. Foto de capa/Divulgação: BBC.
“Cheers!” (“Saúde!”, “Salute!”, “Prost!”). Esta certamente deve ser a expressão mais falada no mês de março, mais especificamente em seu décimo sétimo dia. É nesta data que é comemorado na Irlanda (e em diversos outros locais) o dia de São Patrício (St. Patrick’s Day), uma celebração da cultura verde, branca e laranja, geralmente regada a muita cerveja.
Maewyn Succat, filho de um oficial do exército, nasceu no final do século IV. Aos dezesseis anos, foi sequestrado por piratas irlandeses e escravizado. Ele foi mantido no norte da ilha, trabalhando forçadamente em fazendas como pastor de ovelhas e cuidando de porcos no Monte Slemish, condado de Antrim, na Irlanda do Norte. Durante o período se tornou religioso e, em um momento de fé, teria recebido uma visão de um barco que partiria à Grã-Bretanha. Seguindo o chamado divino, embarcou nele e conseguiu fugir e retornar para sua família.
No retorno ao lar, passou a dedicar-se aos estudos da religião católica, tornando-se padre, missionário e depois bispo. Autorizado pelo Papa, tomou como missão a catequização do povo celta e retornou à costa da Irlanda. Aproximou-se dos druidas e assim conseguiu, pouco a pouco, adicionar elementos cristãos à cultura local. Peregrinou todo o país, criando escolas, igrejas e mosteiros e batizando pessoas por onde passava.
Quando faleceu em 17 de março do ano 461, graças ao seu trabalho, o catolicismo já havia se instalado em boa parte do país. Virou São Patrício e sua figura celebrada por ter unido um país com uma identidade consolidada, por diferentes origens, em torno da religião católica. O dia de sua morte virou feriado e de celebração de símbolos e costumes locais, como a cor verde, o trevo, a cerveja escura do tipo Stout e o Leprechaun (figura folclórica conhecida em outros países por duende).
A data festiva começou a ganhar força nos Estados Unidos, por imigrantes, em 1601, quando ocorreu o primeiro desfile, que viria a se tornar uma tradição, naquele que é o país com o maior número de irlandeses fora da ilha. No final do século XX, em 1995, o governo da Irlanda iniciou de forma oficial, uma campanha para popularizar o feriado mundo afora, em estratégia de impulsionamento de seu setor de turismo.
Mesmo tratando-se de um evento típico da cultura irlandesa e sendo sua comunidade no Brasil relativamente pequena, a festividade caiu nas graças de bares, restaurantes e produtores de eventos daqui há alguns anos. Basta observar as redes sociais para constatar esta realidade, diante do grande número de ações especiais programadas para o terceiro mês do calendário. Todas envolvendo cervejas, verde ou não. E não por acaso.
Estudo recente, divulgado pelo Valor Econômico, mostrou que o Brasil está entre cinco maiores consumidores da bebida em todo o mundo, respondendo por, aproximadamente, 8% de todos os goles do planeta. No país também é cada vez maior o interesse pela categoria artesanal (ou especial), carro-chefe do famoso Boteco do Raoni, no Andaraí, zona norte da capital carioca.
Aberto em 2018, por Raoni Soares e sua esposa Ana Lídia, o local costuma reunir clientes exigentes com o que bebem durante todo o ano. Entretanto, segundo Raoni, o feriado irlandês é o ápice para o bar desde sua inauguração, “(é) o carnaval do cervejeiro! No carnaval o movimento do nicho das artesanais cai um pouco, mas no São Patrício é fenomenal, casa lotada de gente sempre! No primeiro, estávamos funcionando há apenas dois meses, não imaginava que ia encher tanto e não chamei gente o suficiente para atender. Foi o caos!”, nos conta rindo.
Com diversos estabelecimentos celebrando a data, não basta apenas investir na decoração característica e bebida esmeralda. É preciso ir além, como anuncia Raoni, “(no) próximo domingo vamos ter, em chopp, a famosa Hell de Janeiro, na versão verde, que sempre faz sucesso na data, e, também, drinks com licor de menta e espuma de maçã verde. Na cozinha, burguer de cordeiro, croquete de cordeiro e sobremesa verde de mousse de limão com geleia de hortelã!”.
Ainda no Rio, com a expectativa de grande público, na Barra da Tijuca, o Shopping Downtown promove neste ano o St. Patrick’s Day não apenas em um dia, mas em dois finais de semanas inteiros (dias 08, 09, 10, 15, 16 e 17). No espaço de eventos do local, food trucks, shows de música irlandesa, mercado medieval e místico, arco e flecha, acampamento viking, jogos de tabuleiro e, é claro, estandes cervejeiros ditarão a atmosfera do centro comercial.
Em Belo Horizonte, o estacionamento do estádio do Mineirão, no bairro da Pampulha, abrigou a maior festa de São Patrício do Brasil, segundo organizadores, reunindo cinquenta mil pessoas em suas edições. Porto Alegre, Curitiba, Londrina, Goiânia, São Paulo, Sorocaba e São Bernardo do Campo são algumas das muitas outras cidades do país que também costumam a ter eventos regulares na data.
Você pode nunca ter ido a Dublin ou Belfast, mas, no dia 17 de março, certamente estas cidades virão até você. Para já ir entrando no clima, indicamos a música “I’m Shipping Up To Boston” (da banda Dropkick Murphys), trilha sonora de “Os infiltrados”, de Martin Scorsese. “Cheers!”



