Foto de capa/Reprodução: Getty Images.
Por Ágatha Araújo.
Surgimento da data
O Dia Nacional do Livro Infantil surgiu a partir de um projeto de lei que instituía, no dia 18 de abril, a comemoração anual da literatura infantil na data natalícia do escritor Monteiro Lobato. A data tem o objetivo de reconhecer a importância da literatura voltada para as crianças, pois ela contribui para o desenvolvimento cognitivo, moral e intelectual dos pequenos.

José Bento Renato Monteiro Lobato, conhecido apenas como Monteiro Lobato, nasceu em 18 de abril de 1882 e teve uma vida intelectual bastante produtiva. Advogado, escritor e jornalista, Lobato produziu 26 obras infantis, sendo o primeiro autor de literatura infantil no Brasil e em toda a América Latina. Monteiro também fincou pioneirismo na literatura folclórica brasileira na obra Sítio do Picapau Amarelo, série de 23 volumes em que alguns personagens como “Saci-Pererê” e “Cuca” ganharam vida. A obra atravessou gerações e formatos, tornando-se série televisiva em 1977 e, mais tarde em 2001, ganhou nova edição pela TV Globo.

Bailando com Cadu pereira
Nascido em 1973, Carlos Eduardo Pereira, ou Cadu para os íntimos, coleciona trabalhos impressionantes. Estreou com o romance Enquanto os Dentes (2017), publicado pela Todavia e finalista do Prêmio São Paulo de Literatura. Em seguida, lançou Agora Agora (2022), uma ficção inquieta que aborda as mais variadas formas de violência sofridas por três gerações de uma mesma família. Cadu também marca presença como cronista em Vivo Muito Vivo (2022), antologia organizada por Mateus Baldi, e em Dias de Domingo (2021).

Antes de se tornar escritor, Cadu precisou se formar um leitor. Começou a colecionar referências já depois da adolescência. “É que são muitos, muitos, muitos livros que eu amo. Eu sou um leitor tardio, só fui começar a buscar os meus livros, as minhas leituras-não-obrigatórias-de-escola, já depois da adolescência, e mesmo assim comecei devagar”, afirma.
Dentre as referências que inspiram seu estilo de escrita está Machado de Assis, embora não tenha apenas um livro preferido. “Para não cometer traições, ou injustiças, muito graves, eu costumo indicar um Machado, que daí não tem erro. Às vezes é o Dom Casmurro, às vezes o Memórias Póstumas, A Cartomante”. Mas além dos clássicos, Carlos também aprecia literatura brasileira contemporânea.

Saindo um pouco do ambiente caótico e violento que retrata em seus dramas cariocas, Carlos adentra no colorido e lúdico Bailinho, seu primeiro livro no gênero infantil. Na mesa que dividiu com Jeferson Tenório e Gabriel Abreu, na FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) de 2023, Carlos explicou a origem de seus enredos. “Ali eu me dei conta de que tudo que eu escrevo está muito ligado à família. Tem violência, tem crítica, denúncia, mas quase sempre a partir de alguma forma de organização familiar”, reflete.
Porém, em Bailinho, Carlos busca retratar o núcleo familiar com mais harmonia e cor. “E é nesse lugar que eu encontro o Bailinho, um livro que surge de uma brincadeira em família, surge do desejo de viver com minha filha os melhores momentos, na esperança de que a literatura possa ser uma possibilidade para essas gerações que vão chegando”.

Em Bailinho, os monstros do divertido acrônimo A.M.E.B.A (Assombrações, Magos, Encantados, Bruxos e Afins) seguem uma organização social bem próxima da nossa: têm empregos, se preocupam com a saúde, além de assumirem uma presença online marcante. Com esse espelhamento, Cadu não buscava humanizar os monstros, mas “monstrificar” os humanos. “Todos os dias nós tentamos fazer coisas boas, claro, mas somos capazes também de fazer um montão de bobagem. […] Achei divertido trazer costumes e elementos desse nosso tempo para construir essa imagem”, explica.

Em Bailinho, todos os monstros vivem em harmonia. Existe até um crossover entre os nacionais e internacionais, em que Dorothy e a Loira Do Banheiro se encontram para dançar. Nesse sentido, Carlos constrói e defende um universo sem território demarcado. “Sim, acredito mesmo que o mundo da fantasia (que esse nosso mundo está cada vez mais globalizado) não tem território demarcado. E isso é bom, é potencialmente muito mais rico e esclarecedor do que se nos fecharmos apenas em torno dos nossos assuntos locais”, afirma o autor.
Ilustrado pelo artista gráfico paulistano Arte do Livro Bailinho fruta por Zansky., Bailinho oferece momentos de riso e curiosidade enquadrados por cores vibrantes e atrativas, numa narrativa divertida na qual os monstros clássicos encontram os contemporâneos para dançar uma valsa atemporal: a da união.
O livro está disponível em livrarias e no site da Todavia.

