Literatura de Cordel: O Poeta Nordestino 

Foto Capa: reprodução/uninter

Por Arthur Líbero

Você já teve contato com a literatura de Cordel? Esse nome é bem conhecido pelos nordestinos. No final do século XVIII, os portugueses o introduziram na cultura popular brasileira, trazendo um tipo de arte que já existia em países como França, Itália e Espanha desde o período do Renascimento. 

Na época, muitos poetas europeus tinham o costume de vender seus trabalhos em feiras das cidades, pendurando pequenos livros com capas feitas em xilogravura nas cordas finas das barracas (daí vem o nome “Cordel”), mas com o avanço da tecnologia, principalmente devido à chegada do rádio, o hábito das pessoas consumirem obras literárias diminuiu. 

Livretos com textos vendidos pelos cordelistas (créditos: reprodução/Neoenergia)

No Brasil, a principal característica desse gênero é a oralidade e a linguagem coloquial. O texto possui um equilíbrio entre o tom de brincadeira e a qualidade das informações que são passadas ao leitor. Diferentemente da literatura tradicional, o Cordel é uma cultura regional, é escrito em versos e possui uma linguagem informal, aproximando o público à linguagem regional do Nordeste, além de trazer um pequeno tom de ironia ao falar de temas como religião, tradições e folclore brasileiro. 

No Rio de Janeiro, existe um local que faz homenagem e referência à diversos autores de Cordel, como Cego Aderaldo e Gonçalo Ferreira da Silva, se trata da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, a ABLC. Fundada em 1989, ela está localizada no famoso bairro de Santa Teresa, no Rio, e reúne diversos pesquisadores que estão em busca de conhecer e se aprofundar na história desse gênero literário.  

Academia brasileira de Literatura de Cordel no Rio (créditos: reprodução/Museus Do Rio)

Outro tipo de texto é o “Repente”, que se enquadra na literatura cantada. No mesmo período em que os cordelistas vendiam sua arte nas feiras, eles conseguiram fundir uma nova forma de chamar a atenção de seu público-alvo, e passaram a interpretar os próprios textos em forma de música no meio das praças. Esse método acabou gerando outro gênero textual, mas sua diferença com relação ao Cordel é por que possui a presença de instrumentos que acompanham uma interpretação improvisada. 

Representação do Repente Nordestino (créditos: reprodução/Brasil de Fato)

Leia agora um trecho de “Desafio de Zé Duda”, de Silvino Piruá: 

“Desafio de Zé Duda, de Silvino Pirauá 

O cordel Desafio de Zé Duda é da autoria de Silvino Pirauá e contém 16 páginas. Vamos ler alguns trechos: 

Preste atenção, meu leitor 

ao caso que vou contar 

dum desafio intrincado 

que custou em se acabar, 

todos dois eram valentes 

em saber desafiar. 

[…] 

Zé — Senhor Silvino é preciso 

que uma pergunta lhe faça: 

— Você mora no sertão 

que anda fazendo na praça? 

Terá vindo ao Recife 

buscar a sua desgraça? 

[…] 

Z. — Me informaram que você 

era exímio cantador, 

que da arte que ora exerce 

pretende ser professor 

e que em ciência pratica 

discute como um doutor. 

[…] 

S. — Muitas plantas botam flores, 

e planta-se mais no jardim 

o cravo, a rosa, a verbena 

o crisântemo, o jasmim, 

a violeta, a bonina, 

a saudade e o alecrim. 

[…] 

Z. — Qual o metal que do ferro 

está muito aproximado 

por sua tenacidade 

e que é muito apriciado, 

do qual já tem a ciência 

algum veneno tirado? 

[…] 

S. — Moram no mar os zoófitos, 

são animais-vegetais, 

destes conheço a esponja, 

os pólipos e os corais, 

tem bom sabor a cavala, 

o charéu e outros mais. 

[…]” 

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