Polêmicas de Arbitragem

foto de capa – reprodução/Infografia

Por Arthur Werneck e Rodrigo Saracista

Apitar um jogo de futebol não é uma tarefa fácil, exige uma boa preparação física e emocional para lidar com a pressão de um estádio, jogadores e comissões técnicas. É preciso também que a arbitragem seja profissional e totalmente dedicada às competições, entendendo e cumprindo as regras de forma criteriosa, o que não acontece no Brasil devido à falta de investimento da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).  

Os erros de arbitragem no Brasil são um tema que há muito tempo vem sendo debatido. Situações de campo como lances interpretativos, bola na mão, tecnologia de linha do gol e implementação do VAR são problemas recorrentes no apito brasileiro. Porém, existem casos em que a influência não fica somente em campo, como nos esquemas de manipulação de resultados que ocorreram no Brasil, com a “Máfia do Apito”, e na Itália, com o “Calciopoli”. 

Raí reclama da arbitragem na zona mista do Morumbi  Crédito: Fellipe Lucena 

Um dos assuntos mais comentados no meio do futebol dos últimos anos é a gestão da arbitragem. O cumprimento de critérios para lances interpretativos que não necessitam intervenção do VAR é reclamação constante dos dirigentes dos clubes brasileiros. Jogadas que envolvem toques nos braços sempre foi o maior problema tanto para árbitros quanto para entidades delimitarem regras claras para evitar polêmicas. 

Atacante ex-Corinthians reforçou não ter sentido toque de bola no braço contra Vasco Crédito: Reprodução

Uma das maiores lições foi a implementação do VAR no Brasil acontecer apenas em 2018, após um escândalo envolvendo um gol de mão do ex-atacante do Corinthians, Jô. Outro caso emblemático foi no Campeonato Carioca de 2014, em que o Flamengo foi campeão contra o Vasco, com um gol claramente impedido. A ausência da tecnologia no futebol já causou muitas polêmicas, gerando debates repetitivos sobre situações que ocorrem com frequência nos jogos brasileiros. 

Outro fator muito prejudicial para a arbitragem é a questão disciplinar dos atletas. O excesso de reclamações e xingamentos direcionados ao juiz da partida atrapalha o desempenho dentro de campo, influenciando negativamente aumentando o índice de erros e o grau de tensão das partidas. 

Máfia do Apito 

créditos: reprodução/Lance!

A Máfia do Apito foi um esquema de manipulação de resultados envolvendo árbitros brasileiros que aconteceu no ano de 2005. O caso foi descoberto pelo jornalista André Rizek, atual apresentador do SporTV, que denunciou em sua coluna na Revista Veja o ex-árbitro Edilson Pereira de Carvalho de receber dinheiro antes dos jogos para interferir nos resultados.  

Após investigação, foi descoberta uma quadrilha comandada pelo empresário Nagib Fayad, conhecido como “Gibão”, que efetuava os pagamentos para Edilson e um outro juiz, que depois seria revelado como Paulo José Danelon. O objetivo de Nagib era lucrar com apostadores de sua quadrilha manipulando resultados. Os dois árbitros foram banidos do futebol e presos, assim como o empresário.  

créditos: reprodução/AgênciaOGlobo

O escândalo foi levado ao STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) durante o Campeonato Brasileiro de 2005, que optou por anular 11 jogos apitados por Edilson Pereira de Carvalho, apesar de ele só admitir apostas em três desses jogos. O objetivo era excluir a participação do árbitro no campeonato, sendo assim, os jogos foram remarcados e disputados novamente, com impacto direto na classificação do Brasileirão. 

Após quase 20 anos do acontecido, o ex-árbitro Edilson Pereira de Carvalho foi entrevistado pelo canal ‘Cartoloucos’ e deu algumas declarações importantes sobre a Máfia do Apito. Primeiro, Edilson fala sobre ter sido prejudicado profissionalmente por ter participado do esquema: “Me arrependo daquela época já. Perdi o distintivo da FIFA, perdi minha carreira” 

O árbitro também confirma torcer para o Corinthians e admite que não queria que o clube fosse campeão naquele ano devido às críticas e repercussão negativa à imagem dele: “Sempre fui corintiano, mas torci contra o Corinthians para não ser campeão. Porque tudo viria contra mim.” 

créditos: Nelson Almeida/Lancepress!

O jogo Corinthians x Internacional também foi marcado por polêmicas envolvendo a arbitragem. A partida foi válida pela 40ª rodada do Brasileirão (tiveram quatro rodadas além das 38, contabilizando 42) e os times estavam separados por três pontos.  

Um lance capital tomou conta das discussões esportivas pelo país, o árbitro Márcio Rezende de Freitas chamou atenção ao deixar de marcar um pênalti para os gaúchos quando o jogo estava 1 a 1, resultado que interessava ao time paulista. 

O juiz entendeu que Tinga, volante do Internacional, simulou uma penalidade, assim o punindo com o segundo cartão amarelo e consequentemente com o cartão vermelho, tirando o camisa 7 do jogo. 

créditos: Nelson Almeida/Lancepress!

O Corinthians não somou pontos nos seus dois jogos que foram anulados, mas somou quatro pontos na remarcação das partidas, se recuperou e se sagrou campeão pela quarta vez na história. 

Calciopoli 

O Calciopoli é até hoje conhecido como o maior escândalo da história do futebol italiano e talvez um dos maiores da história do futebol. Tudo começou no início de maio de 2006, quando Juventus e Milan disputavam o título da temporada, a imprensa italiana divulgou áudios de dois dirigentes da Juve tendo conversas exclusivas com os chefes da arbitragem italiana para realizar algumas exigências. 

créditos: reprodução/Wikipédia

Moggi, o cabeça do esquema, era um dos dirigentes e podia escolher os árbitros das partidas da Juventus e de seus adversários, interferindo diretamente na credibilidade da liga italiana de futebol. Além de jogos da Juve, outros times como Milan, Fiorentina e Lazio também estiveram envolvidos e foram comprovados 19 jogos com interferência externa no ano de 2005. 

O escândalo se manteve devido a participação de dirigentes de clubes em escolhas de árbitros, controlando seus comportamentos em campo e recebendo informações exclusivas da comissão de arbitragem. 

créditos: Chris Ryan/iStock

Foram punidos nove dirigentes de clubes, sete de instituições organizadoras de competições e o árbitro Massimo De Santis, e com os clubes não foi diferente:  

  • A Juventus teve seus títulos de 2005 e 2006 revogados e rebaixamento para a 2ª divisão; 
  • A Fiorentina, o Milan e a Lazio começaram o campeonato de 2005 com -30 pontos e o de 2006 com -15, -8 e -6, respectivamente;  
  • Reggina e Arezzo, da 2ª divisão, também estavam envolvidos, mas só foram descobertos no processo final. Ambos perderam pontos nas competições (-11 e -6), além de uma multa de 100 mil euros para o Reggina. 

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