Foto capa: Reprodução/Comitê Paralímpico Brasileiro
Por Arthur Werneck
O dia nacional da luta da pessoa com deficiência foi oficializado pela lei N° 11.133, em 2005, mas já era pauta desde 1982, com o Movimento pelos Direitos das Pessoas Deficientes realizando iniciativas sociais para conscientização da importância do desenvolvimento de meios de inclusão para PCDs.
São cinco tipos de deficiência reconhecidos oficialmente na lei: deficiência física, deficiência visual, deficiência auditiva, deficiência mental e deficiência múltipla
Já o Dia Nacional do Atleta Paralímpico foi oficializado pela lei N° 12.622, em 2012, também busca conscientizar sobre a importância do desenvolvimento de meios de inclusão para deficientes na sociedade, com foco no esporte, e homenagear os atletas paralímpicos brasileiros.
Os grandes problemas são a falta de incentivo e as estruturas que não chegam à altura e a mesma qualidade que em outros países do mundo. Apesar disso, o Brasil tem conseguido grandes conquistas paralímpicas nos últimos torneios, especialmente os Jogos Paralímpicos.

O Brasil chegou às Paralimpíadas como favorito a conquistar medalhas, bater recordes e estar entre os melhores países nas disputas, e foi o que aconteceu. Os atletas e as equipes brasileiras estiveram no topo do início ao fim, batendo recordes paralímpicos nacionais e mundiais.
A edição dos jogos de Paris 2024 foi a melhor da história para o Brasil. Foram recordes de medalhas conquistadas (89), medalhas de ouro em uma única edição (25) e o dia mais vitorioso da história do país, 07 de setembro, com seis medalhas de ouro, três de prata e sete de bronze.
Três dos responsáveis por várias conquistas brasileiras chamaram atenção do público e foram destaques na França: Gabriel Araújo e Carol Santiago na natação e Jerusa Geber no atletismo.
Gabriel Araújo

Gabriel Araújo tem 22 anos e nasceu em Santa Luzia, Minas Gerais, com uma doença congênita chamada focomelia, impedindo a formação normal de membros, com destaque para o encurtamento de braços e pernas. Esses, por sua vez, se prendem ao tronco por ossos pequenos e de forma irregular.
“Gabrielzinho”, como é conhecido, descobriu a natação por meio de Aguilar Freitas, professor de Educação Física da escola onde estudava, nos Jogos Escolares de Minas Gerais (JEMG). O comandante inscreveu Gabriel em uma competição e ele se destacou, conquistando três medalhas de ouro. A partir daí, o menino não parou mais de nadar.
Nas Paralimpíadas de Paris, Gabriel chamou atenção pela sua felicidade e leveza para competir, sempre pensando positivo, dançando a cada vitória e brincando que ia “amassar” os adversários.
O nadador brasileiro prometeu ganhar três ouros na França, e assim fez nos 50m e 100m costas e 200m livre, chegando a quatro ouros paralímpicos na carreira. Gabrielzinho também quebrou dois recordes mundiais no mesmo dia, ambos na categoria 150m medley.
Carol Santiago

Maria Carolina Santiago tem 39 anos e nasceu em Recife (PE) com a síndrome de Morning Glory, alteração congênita na retina que reduz seu campo de visão.
Carol, como é conhecida, praticou natação convencional quando criança, mas o acúmulo de água em sua retina a deixou sem enxergar por quase um ano. Assim, ela migrou para o esporte paralímpico no final de 2018, aos 33 anos e é a atual recordista mundial dos 50m livre, com 26s65, registrados em Manchester 2023.
Carol Santiago disputou sua quinta Paralimpíada, conquistando três ouros e uma prata, se tornando a maior campeã paralímpica brasileira da história e figurando o top 5 de brasileiros com mais pódios.
Na cerimônia de encerramento dos jogos de Paris, Carol foi porta-bandeira do Brasil pela primeira vez, ao lado de Fernando Rufino, canoísta que conquistou o último ouro brasileiro na França.
Jerusa Geber

Jerusa Geber tem 42 anos e é natural de Rio Branco, no Acre. Ela nasceu totalmente cega e fez algumas cirurgias que possibilitaram que ela enxergasse um pouco, mas aos 18 anos voltou a perder totalmente a visão.
Jerusa conheceu o esporte paralímpico aos 19 anos a convite de um amigo também deficiente visual. Em 2019, se tornou a primeira atleta cega a correr os 100m abaixo dos 12s. É a atual recordista mundial nos 100m pela classe T11 com o tempo de 11s83.
A paratleta de atletismo disputou a sua terceira edição dos jogos paralímpicos e conquistou seus dois primeiros ouros na capital francesa. Ela tinha apenas duas pratas e dois bronzes, conquistados em Tóquio e Londres.
A brasileira também é dona de recorde mundial na semifinal, com 11s80, e ganhou os 100m T11 (atletas com deficiência visual) e os 200m T11.

Helder Costa, oftalmologista classificador visual que faz parte da Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais, conta sobre como é o trabalho para classificar os atletas com deficiência visual: “Existem diferentes deficiências visuais, desde a cegueira à visão parcial. Fazemos diversos exames e de acordo com o diagnóstico pessoal de cada atleta classifica-se a categoria do atleta e se ele pode ou não competir”
O profissional fala também sobre como vê a evolução na oftalmologia no esporte: “A estrutura que tínhamos quando eu comecei na área era muito precária, muitas coisas improvisadas, mas com o passar do tempo fomos evoluindo, usando novos equipamentos, fazendo palestras e trabalhos em conjunto com outros oftalmologistas esportivos no mundo e isso e nos ajudou muito para fazermos as classificações dos atletas com mais facilidade”
Helder esteve presente em seis edições de Jogos Paralímpicos, de Atlanta 96 até Rio 2016. Ele ainda comenta sobre como vê a evolução do Brasil nos esportes paralímpicos e a importância midiática na cobertura das competições: “É muito legal ver os atletas paralímpicos sendo reconhecidos e com autoestima de mostrarem que suas deficiências não são um impeditivo para competirem, ganhando medalhas e representando o Brasil, o que não acontecia no passado devido ao preconceito que se tinha na sociedade e também no esporte. Hoje, quando um atleta paralímpico ganha uma medalha, as pessoas procuram saber quem é e sua história, o atleta é recebido em aeroporto, homenageado, faz entrevistas, aparece em reportagens importantes, isso é muito legal para nós que vemos a dificuldade que é ser um atleta paralímpico”.
