A vida em 24 Frames, na curva do polígono

Foto Capa: Vogue/Divulgação

Por Monique RodSan

A animação sempre foi uma arte que faz o coração pular uma batida – afinal, quem nunca se apaixonou por um desenho animado ou se deixou levar por um personagem 3D tão real que você esqueceu por um instante que era uma animação? De clássicos que assistíamos comendo pipoca no sofá até os blockbusters 3D que dominam as telas, essa forma de contar histórias evoluiu e se reinventou com o tempo, um pouco como o amor em tempos de mensagens de texto. Mas é inevitável não perguntar: como é que a simplicidade da pintura rupestre se transformou nessa explosão digital de criatividade?

Antes do bate papo ficar interessante sobre as maravilhas do 3D, é essencial entender suas origens. Em simples análise, a animação é sobre criar a ilusão do movimento, dar vida ao estático, transvertendo traços e pixels em personagens e histórias que parecem respirar diante dos seus olhos.

Nesse ponto, surgimos com o nome: William Fetter, como um inventor visionário que, começou a desenhar aeronaves em 3D para a Boeing (em, 1960, Fetter inventou o termo “gráficos por computador”, e em 1964, desenvolveu o “Boeing Man”, o primeiro modelo tridimensional de um corpo humano criado por computador, destinado para estudos ergonômicos para que os engenheiros da empresa simulassem o movimento do piloto dentro de um cockpit).

Suas primeiras animações não foram apenas um capricho artístico; elas tinham um propósito prático. Foi o momento em que o 3D deixou de ser um mero detalhe estético e se tornou uma necessidade – como aquele par de Manolos essencial em qualquer evento de gala.

O “Boeing Man” não foi apenas um modelo 3D, mas um marco transformador que impulsionou tecnologias de simulação de sistemas complexos, impactando setores como aviação, medicina e o próprio entretenimento. O legado do Fetter é fundamental para a história da computação gráfica. Seus modelos 3D pioneiros servindo de base para a criação de personagens realistas em filmes, jogos e simuladores, além de serem amplamente aplicados na pesquisa científica e no design de produtos.

Créditos: Secure Boeing Images

No ano de 1976, surge o ato revolucionário: a criação de rostos e mãos digitais realistas por Edwin Catmull e Frederic Parke. Essas representações digitais abriram caminho para o que viria a ser a animação 3D, pois não foram apenas avanços técnicos, mas redefinição dos limites do que a computação gráfica poderia alcançar, estabelecendo as bases para criação de personagens digitais mais complexos e realistas.

1995, foi o ano que acabou se tornando um divisor de águas na história da animação. Toy Story, da Pixar, não foi apenas um filme; foi um manifesto da era digital. Com personagens que ganham vida quando os humanos não estão por perto, o filme não apenas conquistou o público, mas também solidificou a animação 3D como uma forma de arte legítima.

Assim como aquele primeiro encontro inesquecível que, de repente, se transforma em uma história de amor duradoura, Toy Story provou que a animação 3D podia ser tanto tecnicamente impressionante quanto emocionalmente cativante. Foi uma verdadeira declaração de amor à imaginação e uma prova de que, com as ferramentas certas, tudo é possível. O resultado? Uma arrecadação de mais de US$ 360 milhões e o início de uma nova era para o mundo da animação.

Com o sucesso de Toy Story, a animação 3D passou a ser vista como uma ferramenta não apenas para encantar, mas também para divertir com ousadia, como seria comprovado anos depois com a estreia de Shrek. A estreia trouxe inovações como a utilização de técnicas de “Renderização”, ou seja, técnicas avançadas para dar um aspecto natural à textura de sua pele esverdeada e às roupas desgastadas, ou até mesmo uso de “blend shapes” para criar expressões mais naturais e sutis, permitindo que os personagens tivessem uma gama maior de emoções. Ademais, as falas do Burro, dubladas por Eddie Murphy, influenciaram a própria animação do personagem. A equipe de animação ajustou os movimentos faciais e corporais de acordo com o tom, a entrega e o ritmo das falas de Murphy.

Então, em 2009, veio Avatar. James Cameron não apenas dominou as bilheteiras; ele redefiniu o que a animação 3D poderia ser. Com gráficos impressionantes e um mundo tão imersivo quanto um romance de verão, Avatar estabeleceu um novo marco e continua a inspirar cineastas até hoje.

E se você acha que a Disney ficou para trás, pense novamente. Frozen (2013), trouxe inovações técnicas impressionantes para a animação 3D, começando com o desenvolvimento do software “Matterhorn”, que permitiu aos animadores simular o comportamento da neve em diversas situações, criando interações realistas, desde os passos na neve até as tempestades congelantes. O manto de Elsa também foi um desafio técnico significativo, exigindo um novo sistema de simulação de tecido, que possibilitou movimentos fluidos e majestosos, especialmente durante a cena de “Let
It Go”, quando ela se transforma na Rainha da Neve. Além disso, o cabelo de Elsa marcou um avanço tecnológico, com o uso do software “Tonic”, que permitiu criar 400.000 fios de cabelo individuais, resultando em movimentos mais naturais e interações realistas com o vento e o ambiente.

Créditos: Adoro Cinema

A indústria de videogames foi revolucionada pela animação 3D, que deixou de ser um mero recurso visual para se tornar uma ferramenta essencial na criação de experiências imersivas. Títulos como Final Fantasy VII e The Last of Us demonstram como a animação 3D pode ser utilizada para contar histórias complexas, criar personagens memoráveis e construir mundos visualmente deslumbrantes.

Agora, quando se fala sobre as tendências futuras, na animação 3D, estão mais presentes do que nunca. A ascensão da realidade virtual e aumentada abriu um novo capítulo para o 3D, trazendo-o para o universo da moda, arquitetura e educação. Marcas de luxo, como Gucci e Balenciaga, usam avatares digitais para desfiles virtuais, enquanto arquitetos criam prédios antes mesmo de colocarem um tijolo no chão. E as salas de aula? Estão mais animadas – literalmente. A animação 3D tornou-se uma ferramenta de aprendizado, transformando aulas em experiências imersivas.

Foto: Divulgação/Gucci

E se isso já parece bastante revolucionário, é apenas o começo do impacto cultural do 3D. Personagens animados agora estrelam comerciais de TV, aparecem em redes sociais como avatares e até ganham vida como filtros interativos no Instagram e Snapchat. A animação 3D não é mais apenas sobre filmes e jogos – ela virou uma experiência completa. Agora, ela está em tudo, desde comerciais até aventuras imersivas que nos fazem questionar o que é real e o que é digital. O que antes parecia coisa de ficção científica agora está à distância de um toque na tela do celular. A animação 3D é a ponte que conecta mundos – como um vestido preto que vai bem tanto em um brunch quanto em uma festa de gala.

Os remakes “live-action” de clássicos como O Rei Leão (2019) provaram que a magia da animação 3D pode dar uma nova vida a histórias antigas, como uma segunda chance no amor que você não esperava mais. E agora, mais um capítulo dessa história está prestes a começar. Mufasa: O Rei Leão está programado para estrear nos cinemas brasileiros no dia 20 de dezembro de 2024, trazendo de volta a nostalgia e o encanto que só a animação 3D pode proporcionar. É como revisitar o passado com um novo brilho – mas dessa vez, com um olhar renovado.

Conforme o olhar para o futuro avança, as possibilidades da animação 3D são inimagináveis. Hoje as marcas estão adotando personagens em 3D em suas campanhas, proporcionando experiências mais imersivas e tecnológicas para o consumidor. A Lu do Magalu é uma influenciadora digital virtual criada como parte da estratégia de marketing do Magazine Luiza, por exemplo, que não apenas divulga as informações da marca, mas proporciona voz para causas sociais, como o combate à violência contra a mulher, mostrando que a animação 3D também pode ser um meio
poderoso de conscientização.

Créditos: Reprodução/Instagram/magazineluiza

Desde seus humildes primeiros passos até o brilho das grandes produções de hoje, essa forma de arte, que é a animação, não para de evoluir, de se reinventar, e de nos surpreender. E enquanto você, leitor, que vai assistir a mais um filme de animação, não deixe de se perguntar: o que vem a seguir? A única certeza é que, como todo grande amor, a animação 3D continuará a nos conquistar e a provocar sorrisos por muitos e muitos anos.

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