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Por Arthur Líbero
Uma das principais áreas do jornalismo é o investigativo. Grandes nomes da comunicação brasileira correram atrás de descobrir histórias reais e revelá-las para o mundo. O resultado dessas pesquisas já resultou em descobertas que chocaram o país, criando uma mobilização social que reforçou ainda mais a luta de classes políticas e até o apoio a investigações policiais que levaram à prisão de muitas pessoas.
É possível dizer que o jornalismo investigativo presta um serviço à sociedade e, principalmente, à justiça brasileira, contando a história de um país para o seu povo. Muitas dessas histórias foram parar em livros que se tornaram best-sellers e foram premiados. Confira agora algumas dessas obras.
1 – Os Sertões

A obra escrita por Euclides da Cunha foi publicada em 1902 após uma reportagem feita sobre a Guerra de Canudos. O combate aconteceu entre 1896 e 1897 entre o exército brasileiro e o movimento liderado pelo líder profético Antônio Conselheiro. O grupo resistiu a duas investidas militares, que causaram a morte de cerca de 5 mil soldados. Euclides, que era jornalista do jornal “O Estado de S. Paulo”, foi enviado para cobrir a guerra e relatar a situação vivida pelos nordestinos em Canudos, na Bahia. A obra é dividida em três partes, “A terra”, “O homem” e “A luta”. Nelas, o jornalista explica como era a terra onde os sertanejos viviam e relata como era a vida do homem no campo e como o conflito impactou no cotidiano dessas pessoas. Ele acompanhou quatro expedições feitas rumo à Canudos e conta como fatores como a fome, a violência, a peste e outros fatores foram desafios enfrentados por um povo que foi dizimado.
2- Rota 66

Caco Barcellos é considerado um dos mais importantes jornalistas investigativos do Brasil. Atualmente ele comanda o “Profissão Repórter”, onde ele faz um trabalho de reportagem completo sobre um tema específico, nesse formato ele já cobriu diversos acontecimentos e contou muitas histórias para o seu público. Em 1992, portanto, ele começou a relatá-las em livros, sendo “Rota 66” o primeiro deles. O trabalho consistia em investigar a morte de cerca de 4.200 pessoas pela ROTA (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar), maior batalhão da polícia militar e o mais “matador” do país. Caco revelou nomes de oficiais que participaram do crime e, depois que o livro foi lançado e ganhou grande repercussão na mídia, o jornalista precisou deixar o país e ir morar no exterior até que a poeira baixasse.
3- Estação Carandiru

No ano de 1992, a Polícia Militar do Estado de São Paulo acabou matando 111 detentos ao conter uma rebelião que aconteceu dentro do presídio do Carandiru. Na mesma época, o Dr. Drauzio Varella fazia um trabalho voluntário com os presos com o objetivo de conscientizá-los sobre os riscos da AIDS. Acontece que, durante esse projeto, o médico também teve a oportunidade de ouvir dos próprios detentos sobre o que de fato aconteceu dentro do “Pavilhão 9”, e como a falta de preparo das forças de segurança culminou na tragédia que, até hoje, é lembrada pelo país. Com esse material, Drauzio escreveu um livro contando tudo o que ouviu dos presos e revelando o despreparo do sistema penitenciário brasileiro. A obra se tornou um best-seller com mais de 460 mil exemplares vendidos, chegando a vencer o Prêmio Jabuti no ano 2000. Em 2003, ele foi para os cinemas em um filme protagonizado por Wagner Moura, que também foi um sucesso de bilheteria.
4- “Caso Henry Morte Anunciada – A investigação e os detalhes não revelados da história que chocou o país”

Um dos casos que causaram grande repercussão nacional foi a morte do menino Henry Borel. O menino, que tinha apenas quatro anos, havia chegado ao hospital Barra D’or, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, com várias lesões corporais e com pouco sinais vitais. Após quase duas horas tentando reanimá-lo, ele acabou falecendo. A versão apresentada pelos pais era de que ele tinha caído da cama, mas logo foi desmentida pela perícia que começou uma investigação que envolvia a mãe do menino e o padrasto, o então vereador do Rio, Dr. Jairinho. Alguns meses depois, os dois foram presos acusados pelo crime de homicídio. A repórter do jornal O Globo, Paolla Serra, foi a responsável por revelar o caso para a imprensa, o que causou uma grande repercussão nacional. Após oito meses de uma intensa apuração, que envolveu a análise de mais de 1,5 mil páginas de documentos, 50 mil arquivos digitais e 200 entrevistas, sendo uma delas com a mãe do garoto dentro do presídio, a jornalista decidiu juntar todo esse material em um livro inédito contanto cada detalhe do caso, incluindo trocas de mensagens e depoimentos inéditos.
5- Todo Dia a Mesma Noite

Mais um dos casos que chocou o país foi o incêndio da Boate Kiss, em 2014. Na madrugada do dia 27 de janeiro daquele ano, vários jovens de Santa Maria se reuniram em uma festa de universitários que acontecia no espaço mais badalado da cidade quando, por volta das três horas da manhã, o vocalista da banda “Gurizada Fandangueira”, que se apresentava no palco, acendeu um artefato pirotécnico proibido de ser utilizado em lugares fechados e acabou incendiando a espuma que fazia o isolamento acústico do local, fazendo com que o fogo se espalhasse por toda a boate. Foram 242 mortos em apenas uma noite e dezenas de famílias desestruturadas. A jornalista Daniela Arbex, que é conhecida por uma série de livros de reportagem, como “Holocausto Brasileiro” e “Longe do Ninho”, fez um trabalho de apuração com centenas de horas dos depoimentos de sobreviventes, familiares das vítimas, equipes de resgate e profissionais da área da saúde que foram ouvidos pela primeira vez e puderam relatar com precisão sobre o que aconteceu naquela noite, ajudando a entender os responsáveis diretos e indiretos pela tragédia e as atitudes omissas que contribuíram para o ocorrido.
