Foto Capa: DGABC
Por Monique RodSan
No início dos anos 1980, na época, a moda e o supermercado eram universos paralelos, e a ideia de escolher uma blusa enquanto você coloca macarrão e leite no carrinho era, no mínimo, inusitada. Até que o Walmart trouxe o inesperado: um espaço para roupas entre as prateleiras. Nada glamoroso, mas eis que nascia ali uma ideia revolucionária – oferecer moda onde ninguém imaginava procurar. Com o Walmart liderando a inovação, roupas básicas começaram a aparecer nas seções de supermercado, proporcionando aos consumidores a conveniência de adquirir peças do dia a dia enquanto compravam os mantimentos da semana. Nascia assim uma nova experiência de compra, onde vestuário e praticidade se encontravam no mesmo espaço.
Na mesa da cozinha, café à vista, emerge uma reflexão: em que momento comprar moda ao lado das cenouras e do sabão em pó se tornou algo tão… comum?
É claro, nada acontece de uma hora para outra. Nos primeiros anos, as roupas nos supermercados eram bem básicas – jeans, camisetas, roupas íntimas – pensadas para a correria do dia a dia, sem grandes pretensões. Para muitos, pegar uma camisa na seção de alimentos ainda parecia estranho. Moda ali? Difícil competir com o glamour das vitrines do shopping.
Mas, quase sem perceber, o tempo foi dando uma nova cara a essa ideia. Ao longo da década de 1990, os supermercados passaram a diversificar, investindo em peças melhores e mais variadas, enquanto nós, consumidores, começávamos a nos acostumar com o conceito de uma moda mais acessível. Era prático, era conveniente, e – por que não? – tinha seu charme.
Foi então que as famílias, especialmente as mães da classe C e D, descobriram essa pequena dádiva: se já estavam ali para comprar o básico, por que não aproveitar e levar uma camiseta para as crianças ou aquele jeans para o fim de semana? De repente, roupas acessíveis e práticas começaram a fazer parte das listas de compras.
E o mais surpreendente é que a moda ao lado da alface e do leite acabou se popularizando. Redes como Target e Kmart logo perceberam o nicho inexplorado e entraram no jogo, oferecendo roupas que, além de caber no orçamento, atendiam ao estilo de vida das famílias – acessível, prático e, sim, um pouco fashionista. No final das contas, quem diria que moda e mantimentos poderiam ser uma combinação tão harmoniosa?
Essa consolidação aconteceu porque, além da praticidade, os supermercados começaram a oferecer preços muito competitivos e a investir na melhoria de seus produtos. Com a expansão global do Walmart e de outras redes varejistas, o modelo de roupas em supermercados foi ganhando força, e as campanhas de marketing ajudaram a construir uma imagem de moda acessível, funcional e prática. Aos poucos, a percepção dos consumidores mudou, e a venda de roupas ao lado dos mantimentos se tornou uma prática comum, apreciada pela conveniência e pelas oportunidades de economia que oferecia.
A grande virada aconteceu em 2008, nos EUA, quando Norma Kamali – aquela que sempre esteve à frente de seu tempo – lançou uma linha exclusiva para o Walmart. E não era qualquer linha. Ali, entre latas de molho e pacotes de arroz, nasciam peças assinadas, carregando o toque único de uma designer consagrada. Era o tipo de parceria que fez todo mundo levantar uma sobrancelha: como assim, uma coleção de Norma Kamali entre as margarinas e o sorvete?
O Walmart, com preços irresistíveis e o apelo de um verdadeiro achado fashion, trouxe o que antes parecia improvável. Em um cenário de jeans Jordache e camisetas básicas, a coleção de Kamali, à primeira vista, parecia mais mito que realidade. Mas lá estavam elas: mais de 80 peças, incluindo o vestido envelope, uma regata de ciclismo, leggings capri – peças que, com o toque certo, poderiam até brilhar em um brunch de domingo.
A verdade é que as peças tinham um charme inesperado. A blusa de US$ 6 era uma pechincha absoluta, e o vestido envelope? Elegante o suficiente para desafiar qualquer etiqueta. Agora, os jeans… bem, definitivamente “mom jeans”, o que pode dividir corações. Mas por US$ 15, por que não? Era a chance de experimentar.
Ver Norma Kamali no Walmart é como tropeçar em um par de Manolos na liquidação: uma dúvida gostosa, daquelas que acabam em compra. Talvez a graça esteja nisso. No fim das contas, a moda não é apenas sobre etiquetas – é sobre como e onde encontramos estilo. Então, quem sabe, da próxima vez que você for ao supermercado, entre uma sacola de mantimentos e outra, você acabe saindo também com um look assinado.
Enquanto isso, no Brasil, a C&A (não exatamente um supermercado, mas a ideia é clara) começou a popularizar o conceito, oferecendo moda acessível em ambientes inesperados. captando o espírito de tornar o luxo acessível. Parcerias com estilistas como Reinaldo Lourenço e Isabela Capeto provaram que o glamour podia, sim, ser acessível e, por que não, sofisticado. Essa estratégia atraiu um público que buscava algo além do básico, e a resposta foi um sucesso. E os supermercados brasileiros estavam atentos. Se a moda “sofisticada, mas acessível” funcionava tão bem nas araras da C&A, por que não tentar o mesmo nas prateleiras do Extra e do Carrefour?
Foi aí que o Extra fez parceria com o estilista Marcelo Sommer. Imagine: um supermercado, lugar das compras do mês, agora vendendo coleções assinadas, peças modernas e com a curadoria de um estilista. A moda ali estava longe de ser “só básica” – era prática e acessível, sim, mas com estilo. E tudo isso sem você precisar de um passeio ao shopping.
Mas não para por aí. Hoje, a moda em supermercados é mais que um conceito acessível. É um reflexo do nosso tempo e das nossas necessidades. Com o aumento da demanda por sustentabilidade, Carrefour e Extra investem em linhas que trazem materiais como algodão orgânico e tecidos reciclados. Afinal, moda consciente não é só para passarelas – pode estar, sim, ao alcance das prateleiras. E agora que se vivencia a era da inteligência artificial, existem supermercados que oferecem recomendações personalizadas. A moda em supermercados é um espelho do que os consumidores desejam: conveniência, estilo e, por que não, consciência.
Entre um pacote de arroz e um leite de aveia, encontramos opções que não são mais peças quaisquer. São escolhas conscientes, práticas e estilosas. E, afinal, se você pode encontrar um look incrível no meio do mercado, quem precisa do glamour de uma passarela?


