Carrinho de Compras ou Máquina do Tempo?  

Foto capa: Reprodução/Facebook

Por Monique RodSan

Numa terça-feira à noite, entre prateleiras de um Atacadão – agora parte do império Carrefour – alguém empurrava um carrinho de compras, refletindo sobre como um gesto tão corriqueiro se tornou quase um ritual, um momento de conexão entre conveniência, memória e até um toque de estilo. Ali, no supermercado iluminado, o ato simples de escolher um item revelava-se uma experiência que mistura o passado e o presente, entre o básico do dia a dia e o desejo de algo mais. 

A experiência de compra em supermercados como a conhecemos começou a se moldar na Nova York dos anos 30, quando Michael J. Cullen introduziu o King Kullen, o primeiro supermercado do mundo. Deu ao cliente algo revolucionário: a liberdade de escolha. O Brasil aderiu ao conceito apenas em 1953, com o “Sirva-se”, em São Paulo, um marco para o consumo e o estilo de vida do brasileiro. Desde então, os supermercados se transformaram em palcos do cotidiano, onde rotinas, moda e marketing se encontram. 

Em 2023, o setor supermercadista brasileiro reafirmou sua posição como um gigante econômico. O Grupo Carrefour liderou o setor com um faturamento impressionante de R$ 115,4 bilhões, seguido pelo Assaí Atacadista com R$ 72,7 bilhões e o Grupo Mateus com R$ 30,2 bilhões. Esses números revelam a força e a relevância das principais redes, que, além de abastecerem os lares brasileiros, ampliaram sua presença e influência no mercado. 

Em 2024, o cenário mantém a trajetória de crescimento, embora em um ritmo mais moderado, refletindo uma série de adaptações econômicas e comportamentais. A previsão de crescimento das vendas no setor é de 1,9%, um pouco abaixo do salto de 4,1% registrado em 2023. A receita nominal deve aumentar em 6,7% este ano, contra um crescimento de 8,6% no ano anterior. Esses números indicam que, embora o setor continue a expandir, o crescimento desacelerou, possivelmente devido à inflação e ao aumento dos custos de produtos alimentares e operacionais. 

Curiosamente, tanto em 2023 quanto em 2024, o setor tem mostrado uma diversificação notável, incluindo uma maior aposta na moda dentro dos supermercados. Redes como o Carrefour seguem inovando ao oferecer, além de alimentos, opções de vestuário e parcerias exclusivas, integrando conveniência e estilo ao cotidiano dos consumidores. Essa ampliação no escopo de produtos faz parte de uma estratégia para aumentar o ticket médio por cliente e melhorar a experiência de compra. 

Esses dados reforçam a posição do setor supermercadista não apenas como essencial para o abastecimento, mas como um player estratégico na economia brasileira, se adaptando e inovando para atender às necessidades dos consumidores em constante transformação. 

 Nos anos 90, redes americanas como Walmart e Target trouxeram roupas para as prateleiras, oferecendo ao consumidor a possibilidade de escolher tanto o jantar quanto o look para o fim de semana. No Brasil, Extra e Carrefour seguiram a tendência, tornando o supermercado um espaço onde conveniência e estilo se misturam. 

Com a digitalização, a experiência de compra também se modernizou. Hoje, aplicativos de redes como Pão de Açúcar e Carrefour possibilitam listas de compras personalizadas e descontos exclusivos, transformando cada ida ao mercado numa verdadeira busca por ofertas. Além disso, programas de fidelidade como os do Assaí e Vianense agregam ainda mais vantagens para os consumidores que querem economizar sem abrir mão de qualidade. O Sam’s Club, por sua vez, tornou-se um verdadeiro clube de compras, oferecendo produtos exclusivos e cashback para os que buscam um diferencial. 

Na Espanha, uma tendência curiosa ganhou popularidade: nos supermercados, solteiros podem sinalizar interesse romântico ao colocar um abacaxi de cabeça para baixo no carrinho – um gesto que transformou o supermercado em um inusitado ponto de encontro, onde um “match” inesperado pode acontecer entre as prateleiras. 

No Brasil, o crescimento dos atacarejos, como Atacadão e Mart Minas, reflete uma busca por economia em grande escala. O Carrefour, por exemplo, planeja converter 40 hipermercados em unidades do Atacadão e Sam’s Club, alinhando-se à demanda por preços baixos e compras volumosas. Só em 2023, o setor movimentou R$ 1 trilhão, representando 9,2% do PIB, um indicativo da importância desse ritual na vida dos brasileiros. 

E além de alimentar lares, o supermercado se tornou palco de discussões sobre justiça no consumo. Na França, o Carrefour lançou etiquetas de alerta sobre produtos que diminuíram de tamanho, mas aumentaram de preço, respondendo à crescente consciência sobre transparência e fair play no mercado. 

Assim, hoje, o supermercado é muito mais do que um espaço para compras – é um lugar onde o cotidiano se encontra com o extraordinário, onde escolhas rotineiras refletem desejos e estilos. Nas prateleiras organizadas, entre o cheiro do pão fresco e a música ambiente, o supermercado é um reflexo de quem somos e do que buscamos. Porque, no fim das contas, cada item no carrinho é uma pequena decisão que nos define e, às vezes, até nos conecta com histórias maiores. Quem diria que o simples ato de empurrar um carrinho poderia ser tão revelador? 

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