O Peso do Desconto e a Leveza da Consciência 

Foto capa: Produzida por I.A.

Por Monique RodSan

Black Friday. Apenas dizer o nome já evoca imagens de filas intermináveis, cliques febris e sacolas abarrotadas de “oportunidades imperdíveis”. Mas, entre a empolgação de um bom negócio e o arrependimento de comprar algo que nunca será usado, fica uma pergunta: o consumidor está em busca de descontos ou de algo mais profundo – uma sensação de conquista, talvez? 

Nascida nos Estados Unidos na década de 1980, a Black Friday veio para celebrar o início das compras natalinas, transformando a sexta-feira após o Dia de Ação de Graças em um evento de consumo em massa. Quando desembarcou no Brasil, em 2010, trouxe com ela todo o frenesi, mas também algumas armadilhas. Afinal, quem nunca ouviu falar em preços maquiados ou sites que travam na hora do pagamento? Aqui, mais do que um cartão de crédito no Google Carteira ou o código do QR Code sendo escaneado, é preciso ter os direitos do consumidor na ponta da língua. 

O Código de Defesa do Consumidor é o escudo para quem navega pelas águas turvas da Black Friday. Propaganda enganosa? Você pode exigir o preço anunciado. Produto com defeito? Troca ou reembolso são direitos garantidos. E se a compra foi feita online, existe o prazo de 7 dias para devolução, sem precisar justificar. A lógica é simples: se o jogo é de promoções, as regras precisam ser claras. 

Mas será que é o suficiente? Conhecer seus direitos protege de fraudes, mas não do verdadeiro adversário: o marketing. Porque, na Black Friday, a sedução não vem só do preço, mas do que está por trás dele. 

O neuromarketing, essa ciência que decifra os desejos antes mesmo dos consumidores identificarem, é a grande estrela das campanhas da Black Friday. Termos como “estoque limitado” e “últimas unidades” criam a sensação de escassez, disparando alarmes internos: “Se eu não comprar agora, vou perder!”. É o famoso FOMO (Fear of Missing Out) – o medo de perder uma oportunidade única. O cérebro, sempre em busca de recompensas, ativa a dopamina, e, de repente, aquele liquidificador com 50% de desconto parece essencial, mesmo que você já tenha um em casa. 

E não para por aí. O “efeito manada” mostra que, se todos estão comprando, deve ser uma boa ideia. Influenciadores, amigos e anúncios estrategicamente colocados reforçam a sensação de que você precisa agir – agora. A Black Friday é um espetáculo de consumo, onde a plateia é o consumidor e as promoções, o enredo que nos faz agir sem pensar. 

O consumo consciente é o grande desafio da Black Friday. Ele  convida a desacelerar, a questionar: “Eu realmente preciso disso? Estou comprando para mim ou para caber em um padrão social?”. É sobre encontrar o equilíbrio entre aproveitar uma promoção legítima e não ser capturado pelo apelo emocional das campanhas. 

Talvez a grande lição da Black Friday não esteja no que compramos, mas no que deixamos de comprar. Porque, no fim das contas, o maior desconto é aprender a dizer não – não ao impulso, não à pressão, não ao consumo pelo consumo. 

Neste novembro, enquanto o mundo corre atrás de descontos, talvez seja a hora de parar para refletir. Afinal, entre o peso de uma sacola cheia e a leveza de uma escolha consciente, qual das duas você prefere carregar? 

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