Imagem de Capa: Fórum Extra Favelas // Créditos: Jornal O GLOBO
Por Pedro Texeira
Na primeira edição do Fórum Extra Favelas, realizada hoje em parceria com a Câmara Municipal do Rio de Janeiro, autoridades, especialistas e lideranças comunitárias discutiram a inédita inclusão das favelas no Plano Diretor da cidade. Atualizado a cada dez anos, o documento agora reconhece formalmente as favelas como parte essencial do planejamento urbano do Rio. Este avanço é visto como um marco histórico, trazendo à tona discussões sobre dignidade, habitação e o protagonismo das comunidades na formulação de políticas públicas.
O evento contou com três painéis temáticos que abordaram diferentes perspectivas sobre a integração das favelas ao Plano Diretor, evidenciando a importância de ouvir os moradores e garantir sua participação ativa nas decisões.
O primeiro painel, mediado pelo jornalista do jornal Extra, Marcos Furtado, discutiu as implicações do reconhecimento das favelas no Plano Diretor. Entre os convidados estavam o vereador Carlo Caiado, a atriz e ativista Kenia Maria, o empresário Preto Zezé e o jornalista Rene Silva.

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Rene Silva enfatizou a importância de garantir que as comunidades tenham espaço para participar ativamente do processo. “Nossas vozes precisam ser ouvidas. Durante a pandemia, foram as organizações sociais que fizeram a diferença, enquanto as autoridades muitas vezes falharam. Este debate é um passo fundamental para assegurar que as lideranças comunitárias ocupem o centro dessas discussões.”
Carlo Caiado trouxe informações importantes sobre os investimentos previstos para a Secretaria de Habitação. “Estamos destinando R$ 348 milhões para habitação, dos quais R$ 150 milhões são voltados à regularização fundiária. Isso permitirá obras fundamentais que garantirão dignidade às comunidades. Além disso, conseguimos reativar o Disque Denúncia, que hoje funciona 24 horas, após anos de paralisação”, afirmou o vereador, reforçando a necessidade de integrar as favelas ao planejamento urbano.
Kenia Maria destacou a transversalidade do racismo na sociedade e a urgência de enfrentá-lo. “O racismo atravessa todas as áreas da nossa cultura. Hoje, 60% das mulheres que trabalham em serviços domésticos são negras, e isso reflete a desigualdade que enfrentamos. Precisamos investir em educação antirracista, como o curso promovido pela Mangueira do Amanhã, e valorizar a cultura das comunidades como parte do estado do Rio de Janeiro.”
Preto Zezé completou ressaltando que o reconhecimento no Plano Diretor é apenas o começo. “As favelas precisam de muito mais do que menção em um documento; elas precisam de ações concretas que promovam inclusão, dignidade e oportunidades.”
O segundo painel aprofundou as discussões sobre como oferecer dignidade e inclusão aos moradores das favelas. Os convidados foram a vereadora Tainá de Paula, o professor e projetista Luís Carlos Toledo, a advogada Simone Rodrigues e Thainã de Medeiros, vice-presidente do Instituto Papo Reto.
Luís Carlos Toledo, criador do Plano Diretor da Rocinha, apontou a necessidade de escutar os moradores para evitar erros no planejamento. “O morador é a principal fonte de informação. Muitas propostas que projetei não foram concretizadas porque não houve diálogo suficiente. Precisamos de escritórios dentro das favelas para aproximar a população das decisões e garantir que elas tenham acesso e conhecimento do que está sendo feito.” Toledo também destacou que a união das Secretarias de Habitação e Meio Ambiente seria uma medida estratégica para melhorar as condições básicas nas favelas.
Thainã de Medeiros trouxe uma crítica contundente à falta de ações efetivas do poder público. “Não queremos apenas ser ouvidos, queremos participar. Muitas vezes, ouvimos discursos políticos que não se traduzem em ações reais. A inclusão das favelas no Plano Diretor já trouxe conquistas como o Plano Popular do Alemão e o IFRJ, com R$ 15 milhões em investimentos, mas ainda há muito por fazer. Não podemos aceitar que as pessoas vivam e trabalhem em condições insalubres, sem saneamento e infraestrutura básica.”

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Simone Rodrigues ressaltou a importância de priorizar os direitos sociais garantidos pela Constituição. “O Artigo 6 da Constituição Federal fala sobre direitos sociais, e isso precisa ser monitorado e priorizado. Precisamos sair da zona de conforto e trabalhar lado a lado com os moradores das favelas, promovendo orçamentos participativos, reuniões e monitoramento contínuo. Somente assim alcançaremos excelência no Plano Diretor.”
Tainá de Paula destacou a necessidade de requalificar os espaços habitacionais para os moradores das periferias. “Algumas pessoas precisam de moradia no Centro por um período, seja para trabalhar ou estudar. Precisamos garantir que essas habitações sejam dignas, próximas a transporte público e recursos básicos, e evitar que famílias vivam em áreas de risco, como perto de valões ou pontes.”
O último painel trouxe uma perspectiva sobre como o empreendedorismo e a economia criativa podem transformar as comunidades. Mediado por Marcos Furtado, teve como participantes Rafael Aloísio Freitas, vereador do Rio; Célia Domingues, presidente da ACRJ; Carla Panisset, gerente do SEBRAE Rio; e Lela Freedom, empresária do Complexo do Alemão.

Créditos: Fabiano Rocha
Rafael Aloísio destacou a relevância de eventos como o Fórum Extra Favelas. “Eles fortalecem a interlocução entre o poder público e as favelas, algo que deve ser permanente. Essa conexão é essencial para que as comunidades participem ativamente do desenvolvimento da cidade.”
Célia Domingues e Lela Freedom reforçaram o papel da economia criativa no fortalecimento das comunidades, apresentando iniciativas que estão promovendo oportunidades e fomentando o empreendedorismo nas favelas.
O Fórum Extra Favelas encerrou com um compromisso de dar continuidade às discussões e assegurar que as comunidades sejam protagonistas na construção de um Rio de Janeiro mais inclusivo e igualitário. Este evento marca um ponto de partida para que as vozes das favelas sejam ouvidas e valorizadas como parte integrante do futuro da cidade.
