A Bossa Nova cinco décadas depois

Foto capa: Igor Serrano

Por Igor Serrano 

O bruxo de Juazeiro numa caverna do louro francês 

Quem terá tido essa fazenda de areais? 

Fitas cassete, uma ergométrica, uns restos de rabada 

Lá fora o mundo ainda se torce para encarar a equação 

Pura invenção 

Dança da moda 

A bossa nova é foda

Com estas frases, Caetano Veloso, um dos pais da Tropicália, inicia sua reverência à bossa nova na faixa inaugural (“A Bossa Nova é Foda”) do disco “Abraçaço” (2012). Bebendo na fonte do samba e do jazz, o ritmo criado no final da década de 50, rapidamente, conquistou o público nacional, estrangeiro e até hoje serve de inspiração para muitos artistas. Mas será que Caetano está certo: a bossa nova é mesmo foda? 

O Brasil vivia um momento de aceleração industrial, a população gradativamente se tornava mais urbana e a influência estrangeira, especialmente dos Estados Unidos, sobre o estilo de vida, em tempos de Guerra Fria, era nítida. Após a Copa do Mundo perdida em casa (em uma Maracanã lotado e construído especialmente para a competição) e a vitória na Suécia oito anos depois, havia uma intenção de se passar uma imagem nova, de um país desenvolvido e alinhado à “modernidade”. A nova capital do país, Brasília, estava sendo construída. “Chega de saudade” é gravada e a bossa nova oficialmente instaurada. 

Créditos: Igor Serrano

A famosa canção escrita por Vinícius de Moraes e composta por Antônio Carlos Jobim, em 1956, foi gravada em julho de 1958 por Elizeth Cardoso e é considerada o marco zero do estilo e movimento musical. Nele jovens brancos da Zona Sul falavam das belezas e dos prazeres de seus cotidianos e para tanto foram beber das harmonias do samba e das melodias do jazz americano, com vocais baixos em tom de quase sussurros. A nomenclatura reúne o termo bossa, utilizado por Noel Rosa em 1930 (na canção “Coisas Nossas”) e a novidade na forma de compor, de fazer algo diferente, ao seu próprio estilo, portanto, bossa nova.  

O novo gênero musical atinge seu ápice quando duas estrelas internacionais, o saxofonista Stan Getz e o cantor Frank Sinatra, decidem gravar discos com João Gilberto e Tom Jobim, como recorda o jornalista e crítico musical, Leonardo Lichote: 

“São as marcas mais evidentes do alcance internacional da bossa nova. ‘Getz-Gilberto’ traz a gravação que tornou ‘Garota de Ipanema’ a música brasileira mais famosa do mundo. E ‘Sinatra canta Jobim’ era simplesmente o homem aclamado como o maior cantor do mundo naquele momento, a maior estrela da música na era pré-Beatles, dedicando um disco inteiro a um compositor brasileiro. Não há paralelo para esses dois casos, nem antes, nem depois, na história da música popular brasileira – a despeito do alcance internacional de nomes como Milton Nascimento, Sepultura e Anitta”. 

Créditos: Reprodução/UOL

Na biografia oficial de Sinatra (escrita por James Kaplan e lançada no Brasil com o título “O Chefão” pela Editora Companhia das Letras), há detalhes de como teria surgido o dueto. O cantor estadunidense ao ver a ascensão de bandas e artistas ligados ao rock e a consequente perda de espaço de crooners como ele, viu na parceria com Tom o necessário para trazer de volta os holofotes. A obra conta que, em dezembro de 1966, Jobim tomava uma cerveja em seu botequim favorito, na capital carioca, quando foi abordado por um garçom informando sobre uma ligação em espera para ele, dos Estados Unidos, de Frank Sinatra. O resto é história.

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