Deixa Falar: a pedra fundamental do carnaval  

Foto de capa: Reprodução/Novabrasil 

Por João Gabriel Vasconcellos 

Muito antes da Marquês de Sapucaí, das grandes alegorias e de todo o glamour dos desfiles, uma turma de sambistas do bairro do Estácio, liderados por nomes como Ismael Silva, Bide e Nilton Bastos, se juntou para fundar um grupo carnavalesco. Surgia ali, em agosto de 1928, a Deixa Falar, considerada a pioneira de todas as escolas de samba e a matriz de bases que são mantidas até hoje nas agremiações. 

Apesar de não ser algo difundido na época, a Deixa Falar se intitulava escola de samba desde sua fundação – sendo uma das primeiras a usar a alcunha. A ideia veio do ilustre compositor Ismael Silva e surgiu pela proximidade com a Escola Normal, que também se encontrava no Largo do Estácio. A lógica usada por Ismael era de que a renomada instituição formava mestres e a Deixa Falar formaria professores do samba. 

Ismael Silva, grande sambista e fundador da Deixa Falar.
Créditos: Reprodução/Canto da MPB 

Entretanto, o pioneirismo da escola não está somente em seu nome. A ideia inicial dos sambistas da Deixa Falar era de que escola fosse um bloco diferente, onde os desfilantes pudessem brincar e dançar ao mesmo passo que evoluíam – conceitos primordiais das escolas como conhecemos hoje. Outra herança deixada está nos instrumentos, já que foram seus fundadores que criaram o surdo de marcação – esse sendo invenção de Bide, e a cuíca, essenciais em qualquer bateria. 

A Deixa Falar esteve no primeiro Concurso de Sambas em 1929, considerado o grande percursor da disputa entre as escolas. Se fez presente também nos certames seguintes, em 1930 e 1931, competindo com, entre outros grupos, a Mangueira e o Conjunto Carnavalesco de Oswaldo Cruz – que viria a se tornar a Portela. Contudo, a escola não fez parte do histórico primeiro desfile oficial de 1932, organizado pelo jornal Mundo Sportivo, já que preferiu desfilar como rancho naquele ano. 

A Praça Onze dos antigos carnavais: local do primeiro desfile.
Créditos: Reprodução/Gov.br 

No ano seguinte, em 1933, a Deixa Falar se juntou ao bloco União das Cores e formou a União do Estácio de Sá. Posteriormente, em 1955, essa união faria parte da junção que formou a Unidos de São Carlos, nome do morro localizado no bairro, rebatizada como Estácio de Sá em 1983.  

A escola, que desde de 2011 é reconhecida pelo IPHAN como o berço do samba, utiliza até hoje o vermelho e branco, cores originais da Deixa Falar, e lembra-se com orgulho de suas origens, levando a história da pioneira para a Avenida por duas oportunidades, em 1980 e, mais recentemente, em 2010. Além disso, a Estácio celebra seu aniversário em 12 de agosto, mesma data da fundação da Deixa Falar, reforçando ainda mais suas raízes e laços com a primeira de todas as escolas. 

Estácio de Sá e o orgulho de ter sua origem na pioneira Deixa Falar.
Créditos: Reprodução/Wikiwand 

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