Foto capa: Reprodução/Por Dentro da África
Por Marcelo Carvalho
No dia 23 de abril, o Brasil celebra o Dia Nacional do Choro, uma data que reverencia não apenas um dos gêneros musicais mais importantes do país, mas também a memória de um dos seus maiores representantes: Pixinguinha. Em 2024, o choro ganhou um novo reconhecimento ao ser oficialmente tombado como patrimônio cultural do Brasil, reforçando seu papel essencial na formação da identidade musical brasileira.
O que é o Choro?
Nascido no Rio de Janeiro no século XIX, o choro é um estilo musical que une melodia refinada, improvisação, virtuosismo e uma rítmica que expressa a alma do povo brasileiro. Misturando influências das danças de salão europeias como a polca, a valsa e os schottisches com ritmos afro-brasileiros, o choro se desenvolveu nas ruas, nos quintais e nos salões, tornando-se o primeiro gênero musical urbano genuinamente brasileiro.
Apesar do nome, o choro não é necessariamente triste. Ele é cheio de alegria, lirismo e criatividade. Segundo o historiador José Ramos Tinhorão, a origem do termo estaria relacionada à maneira como os músicos brasileiros interpretavam as danças europeias: com mais emoção, síncope e variações melódicas. Surge então a expressão “tocar chorado” e, posteriormente, a denominação do próprio gênero musical: Choro.
Seus intérpretes, chamados de chorões, conduziam verdadeiros diálogos musicais, onde o improviso e a técnica andavam de mãos dadas. Sua influência está na gênese de outros estilos musicais como o samba e a bossa nova.
Por que 23 de abril?
A data é uma homenagem a Pixinguinha (Alfredo da Rocha Viana Filho), cujo nascimento foi por muito tempo atribuído ao dia 23 de abril de 1898. Em uma entrevista nos anos 1970, concedida ao jornalista Muniz Sodré, o próprio compositor admitia não saber ao certo sua data de nascimento. Pesquisas posteriores comprovaram que ele nasceu, na verdade, em 4 de maio de 1897. Ainda assim, a simbologia da data permaneceu, e nela se consolidou uma justa celebração do gênero que ele ajudou a eternizar.
Pixinguinha: o gênio que moldou o choro moderno
Pixinguinha foi um brilhante flautista, saxofonista, compositor e arranjador. Com apenas 21 anos, fundou o grupo Os Oito Batutas. Eles foram revolucionários na história da música brasileira, rompendo com preconceito que marginalizava a música popular e os músicos negros. Impulsionaram a música brasileira para além das fronteiras, com apresentações em palcos internacionais como os da França e da Argentina. Sua genialidade fez do choro uma linguagem ainda mais rica, moderna e sofisticada, misturando elementos do jazz, da música clássica e dos ritmos afro-brasileiros.
Sua composição mais emblemática, “Carinhoso”, é um hino da música nacional. Começou como uma peça instrumental e, posteriormente, recebeu letra de Braguinha, tornando-se um clássico atemporal. Quem nunca ouviu falar nos belíssimos versos?
“Meu coração, não sei por que, bate feliz quando te vê “…
O choro permanece vivo e se reinventa nas mãos de gerações de músicos apaixonados. Do pioneiro flautista Joaquim Callado a Jacob do Bandolim, do maestro Anacleto de Medeiros a Waldir Azevedo, da magnífica Chiquinha Gonzaga ao virtuoso Raphael Rabello, o gênero atravessou o século XX como um sopro constante de excelência musical. Ele continua vivo presente em escolas, projetos sociais, gravações, festivais e principalmente nas tradicionais rodas de choro.
O reconhecimento como patrimônio cultural em 2024, pelo IPHAN, é mais do que uma vitória simbólica. É um gesto de valorização e reconhecimento da nossa memória coletiva. O choro é a trilha sonora das ruas do Rio, dos encontros entre amigos, das tardes ensolaradas e do povo brasileiro. É a música que traz alegria, que emociona e que fala com o coração.
Neste 23 de abril, celebrar o choro é também reafirmar a riqueza da cultura brasileira. É agradecer aos mestres que dedicaram sua vida a criar arte com amor, profundidade e beleza.
Viva o choro!




