Foto capa: Reprodução/Astrocentro
Por Julia Medeiros
No dia 23 de abril, o Rio de Janeiro celebra o dia de São Jorge, santo católico e padroeiro da cidade. Na mesma data, é comemorado o dia de Ogum, orixá guerreiro cultuado em religiões de matriz africana. Por dividirem o mesmo dia, as duas figuras muitas vezes são associadas, e há quem pense que se trata da mesma entidade. Essa associação é resultado do sincretismo religioso.
Sincretismo Religioso no Brasil
O sincretismo religioso é a fusão ou mistura de crenças, rituais, símbolos e tradições religiosas distintas. No Brasil, especificamente, o sincretismo é uma herança direta da colonização e da escravidão. Os povos africanos escravizados eram impedidos de praticar abertamente sua religião, devido à imposição do catolicismo por parte dos portugueses. Passaram, assim, a associar seus orixás aos santos católicos, criando uma ligação simbólica entre as duas tradições. Associação que permitiu que as religiões de matriz africana sobrevivessem mesmo sob repressão.

Créditos: Gustavo de Oliveira
Essa associação não significa que são a mesma entidade, mas sim que compartilham significados espirituais semelhantes. O sincretismo entre Ogum e São Jorge, dentre outras, representa a resistência das religiões afro-brasileiras e da complexidade da fé no Brasil.
São Jorge
Segundo a crença católica, Jorge nasceu por volta de 275 d.C., na antiga região chamada Capadócia, que hoje faz parte da Turquia. O pai de Jorge era militar e faleceu numa batalha, e após a morte, Jorge e sua mãe mudaram-se para a Terra Santa. De família cristã, ingressou no exército e se destacou com seu temperamento naturalmente combativo. Durante o governo do imperador Diocleciano, conhecido por perseguir cristãos, Jorge se recusou a renunciar à fé e, por esse motivo, foi preso, torturado e por fim decapitado no dia 23 de abril, 303 d.C.
Seu feito mais emblemático foi a lendária batalha em que derrotou um dragão. Segundo a tradição, Jorge, em cima de seu cavalo branco, teria enfrentado e derrotado uma criatura que aterrorizava a cidade, salvando uma princesa e convertendo seus habitantes ao cristianismo. A lenda simboliza a luta do bem contra o mal e a força da fé.
Ogum
Segundo a crença iorubá, seu nome significa “guerra” e não é por acaso. Ogum é lembrado por sua bravura e força, conhecido como o orixá do ferro, das ferramentas e da tecnologia, senhor das forjas e patrono dos metalúrgicos. É aquele que trouxe os instrumentos necessários à humanidade para o trabalho e progresso, que abre as estradas e caminhos para podermos passar. Suas histórias e itãs (contos do povo iorubá) revelam feitos e bravuras. Mas acima de tudo, ensina aos seus filhos sobre a impulsividade e vaidade.
Um dos itãs conta que Ogum, em seu ímpeto, matou todos os seus seguidores sem saber que eles faziam voto de silêncio em homenagem ao seu retorno e vitória. Com muita vergonha, o orixá cravou sua espada no chão, partiu ao meio e desapareceu.

Créditos: AlfRibeiro
Celebrações no Rio de Janeiro
A cidade comemora o dia de São Jorge com feriado estadual, que já amanhece com ruas tomadas e fogos. Vestidos de branco e vermelho, os devotos costumam acender velas, fazer orações e participar de missas, principalmente na Igreja Matriz de São Jorge, no bairro de Quintino, zona norte do Rio.
No mesmo dia, terreiros de umbanda e candomblé celebram Ogum. As homenagens incluem giras, cantos, oferendas e comidas tradicionais. As celebrações ocorrem em diversos pontos da cidade. E a tradição que se fortalece a cada ano são as feijoadas.
