“O Perigo Mora ao Lado”: mesa na Bienal do Livro Rio discute a violência doméstica contra a mulher no Brasil 

Foto Capa: reprodução/Bienal do Livro Rio

Por Arthur Líbero

Na sexta-feira (20/06), a Bienal do Livro Rio 2025 promoveu uma das mesas mais potentes desta edição. No palco Apoteose Shell, o principal da feira, a discussão intitulada “O Perigo Mora ao Lado” reuniu jornalistas, atrizes e especialistas para tratar de um tema urgente e recorrente: a violência contra a mulher no Brasil. 

O debate foi parte da curadoria da escritora Thalita Rebouças, que estreou este ano como curadora da Bienal e fez questão de incluir em sua programação temas sociais que ultrapassam os limites da literatura. A mesa foi motivada, em especial, pelo lançamento do livro “Agressão: A Escalada da Violência Doméstica no Brasil”, da jornalista Ana Paula Araújo, âncora do Bom Dia Brasil, da TV Globo. Participaram também as atrizes Isabel Fillardis e Marjorie Estiano, com mediação da jornalista Flávia Oliveira

Mesa “O Perigo Mora ao Lado” de Ana Paula Araújo (créditos: reprodução/Instagram/@appaaraujo)

Educação, machismo estrutural e autonomia emocional 

Ana Paula Araújo compartilhou dados preocupantes sobre a escalada da violência doméstica no país, revelando que a cada dois minutos, uma mulher sofre algum tipo de agressão no Brasil. Ela destacou que os mecanismos legais avançaram, mas os fatores culturais e emocionais que mantêm as mulheres em relacionamentos abusivos ainda persistem.“Mesmo com escolaridade e independência financeira, muitas ainda não conquistaram autonomia emocional. Existe a crença de que a mulher precisa de um homem ao lado para ser validada ou que ela será capaz de salvá-lo da própria violência”, afirmou a jornalista. 

Ana Paula Araújo na Bienal do Livro Rio 2025 (créditos: reprodução/Instagram/@appaaraujo)

Um dos pontos fortes do debate foi o papel da educação na reprodução ou quebra do ciclo de violência. Isabel Fillardis falou sobre o machismo estrutural que começa na infância e é perpetuado dentro das próprias famílias. 

 “A mudança começa dentro de casa. A mãe precisa parar de repassar aos filhos os padrões com os quais foi criada. Temos que quebrar esse ciclo. Educação é a chave”, disse a atriz, que também falou sobre o impacto da violência doméstica na saúde mental das vítimas, especialmente mulheres negras. 

A cultura do silêncio e a representação nas artes 

Marjorie Estiano abordou o poder da arte como instrumento de denúncia e transformação. A atriz interpreta a socialite Angela Diniz na série Praia dos Ossos, da plataforma Max, baseada no podcast da Rádio Novelo que reconta o feminicídio que chocou o país nos anos 1970. “Contar essa história é uma forma de lembrar que a impunidade ainda existe, que o julgamento da sociedade pesa mais sobre a vítima do que sobre o agressor”, disse. 

A conversa também expôs como o silêncio imposto às vítimas seja por vergonha, dependência emocional ou medo contribui para a permanência do agressor no convívio familiar. Os relatos emocionados da plateia durante o evento demonstraram a identificação com o tema e a urgência do debate. 

Representatividade e autoestima da mulher negra 

Flávia Oliveira perguntou a Isabel Fillardis sobre o impacto de sua autobiografia lançada este ano, “Muito Prazer, Isabel: Cristina & Fillardis”. A atriz falou da importância de ocupar espaços e de contar sua história como mulher negra em uma sociedade racista e machista, “a mulher preta cresce acreditando que não pertence a todos os lugares. Minha mãe me ensinou que posso entrar e sair de qualquer espaço. Este livro é para tocar outras mulheres negras e dizer: sim, você pode”, afirmou, emocionada. 

Sessão de autógrafos do livro ““Muito Prazer, Isabel: Cristina & Fillardis” na Bienal do Livro Rio 2025 (créditos: reprodução/Instagram/@fillardis)

Homens no debate: presença necessária 

Ao final, Ana Paula Araújo agradeceu a presença masculina no auditório, 
“quando vejo homens aqui, me sinto esperançosa. Porque essa conversa precisa, urgentemente, ser levada a eles. São os homens que precisam repensar comportamentos e romper com a cultura da agressão”, declarou. 

A mesa “O Perigo Mora ao Lado” foi um dos destaques da programação da Bienal do Livro Rio, não apenas por tratar de um tema urgente, mas por fazer isso de forma sensível, informada e mobilizadora. O público, composto por mulheres e homens de diferentes idades, saiu do evento visivelmente comovido e mais consciente do tamanho do desafio que ainda temos pela frente. 

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