Foto Capa: reprodução/TÉLAM/lagaceta.com.ar
Por Julianna Villar

Cinquenta e seis anos após a Revolta de Stonewall, as cores da bandeira não apagam as lutas diárias. A história nos lembra como celebrar é importante, mas resistir também é. Embora hoje as Paradas LGBTQIA+ sejam sinônimo de celebração da liberdade, elas nasceram como resposta à opressão violenta.
Em 28 de junho de 1969 a brutalidade policial encontrou, pela primeira vez, uma resistência organizada em um bar de Nova York chamado Stonewall Inn. Localizado na Rua Christopher. Conhecido por ser ponto de encontro entre pessoas de dentro da comunidade, o bar gerenciado pela máfia italiana aproveitava da vulnerabilidade social LGBTQIA+ cobrando preços excessivos por bebidas adulteradas e suborno a autoridades — nessa época, relações consensuais entre pessoas do mesmo sexo eram ilegais em todos os estados dos EUA, com exceção de Illinois. Atualmente, em determinados países, continua sendo crime ser da comunidade tendo até pena de morte.
Mas era lá na pista de dança do Stonewall Inn., que encontravam refúgio e liberdade, um lugar único para expressão pessoal e afeto, ainda que sob circunstâncias precárias. Entretanto, conforme as eleições se aproximavam, as batidas policiais aumentavam assim como a violência ganhava maior espaço. E em uma delas, a batida teve como alvo a prisão de funcionários sob a justificativa da proibição de venda de bebidas alcóolicas e a agressão física de frequentadores transgêneros que estavam no bar. Ao presenciarem tal brutalidade, a multidão reagiu e respondeu às agressões, jogando pedras e garrafas contra os policiais, desencadeando uma rebelião e mais tarde um incêndio no local que se encontrava o bar. O resultado foi um movimento que passou por cima das barreiras impostas pela sociedade e ajudou a iniciar a luta pelos direitos LGBTQIA+ nos Estados Unidos e ao redor do mundo

O episódio ficou conhecido como a Revolta de Stonewall e gerou uma onda de protestos e manifestações na cidade, que reivindicavam pelo reconhecimento dos direitos LGBT. Exatos um ano depois do acontecido, as ruas se encheram com aquela que, hoje conhecemos como Marcha ou Parada do Orgulho LGBTQIA, no aniversário dos protestos, ela foi chamada de Marcha do Dia da Libertação da Rua Christopher.
Uma das figuras mais marcantes da Revolta de Stonewall foi Marsha P. Johnson, mulher trans, negra e ativista incansável pelos direitos da comunidade LGBTQIA+.
Ela foi fundamental para o período seguinte, atuando na linha de frente das mobilizações, enfrentando a criminalização e lutando por dignidade para pessoas trans e em situação de vulnerabilidade. Com seu jeito doce e firme, tornou-se símbolo de resistência, afeto e coragem.
Na última década, o mês do orgulho passou a ser cada vez mais associado a campanhas publicitárias. Grandes empresas perceberam o potencial econômico ligado à causa LGBTQIA+ e passaram a investir em produtos com as cores do arco-íris e mensagens genéricas sobre diversidade, muitas vezes vindas de marcas que, internamente, não são nem um pouco diversas. Em 2025, com o crescente conservadorismo social, intensificado por uma economia em crise, o mundo parece estar dando passos em direção ao retrocesso. Enquanto nos Estados Unidos, mais de 500 projetos de lei anti-LGBTQIA+ foram apresentados, só no último ano, no Brasil, o discurso conservador avança mesmo diante de altos índices de violência contra pessoas trans e travestis.
Se torna cada vez mais urgente conhecermos a história e reconhecermos aqueles que deram os primeiros passos em direção ao direito de ser quem se é. Porque o orgulho não é só bandeira ou desfile — é também memória, resistência e dignidade em um mundo que insiste em negar tudo isso.
