Foto capa: Arte/Ana Luiza Costa
Por: Mariana Silvestre
O dia do Orgulho Lésbico, comemorado em 19 de agosto, surgiu em 1983 após uma série de manifestações contra a proibição da venda de um jornal voltado para a comunidade lésbica e feminista. As manifestações aconteceram no então conhecido “Ferro’s Bar”, local frequentado pela comunidade LGBTQIAP+ na época. Foi a primeira grande ação política da comunidade lésbica brasileira e marcou um grande passo na luta por visibilidade e direitos.
A data ainda é essencial para dar visibilidade a um grupo frequentemente invisibilizado da comunidade LGBTQIAP+. Mulheres lésbicas enfrentam, além do preconceito, o apagamento em diversas áreas da sociedade, sendo a saúde uma das mais críticas. Mulheres sáficas ainda não tem acesso a preservativos e orientações sexuais voltadas para o sexo entre mulheres, e a falta de informação pode levá-las a situações de risco, como a inseminação caseira.
Homofobia e machismo
A falta de acesso à educação sexual é um problema grave no Brasil. Se já é escassa quando se trata de relações heterossexuais, para o sexo homoafetivo ela se torna praticamente invisível, tanto para a sociedade quanto para a medicina. A homofobia e o machismo influenciam diretamente essa negligência. Muitos profissionais acreditam que o sexo só é valido quando há penetração do órgão masculino. Como consequência, práticas sexuais entre mulheres são desconsideradas, e cuidados básicos com saúde sexual são negligenciados.
“Mesmo quando não há homofobia explícita, muitos profissionais não sabem como lidar com pacientes que tem práticas sexuais diversas. Essas mulheres saem da consulta sem nenhuma orientação médica ou nem sequer um pedido de exames, porque, na cabeça de alguns médicos, não se relacionar com homens é o mesmo que não ser sexualmente ativa” – Marcela McGowan, médica ginecologista
Improviso e riscos
A negligência médica leva muitas mulheres a improvisarem métodos contraceptivos, colocando a própria saúde em risco. É comum o uso de plástico filme de cozinha, camisinhas cortadas, luvas de borracha e dental dam como alternativa, já que não existem preservativos específicos para o sexo entre mulheres.
Infecções sexualmente transmissíveis
O risco de infecções sexualmente transmissíveis em relações sáficas é menor, porém ainda podem ocorrer. Entre as ISTs mais comuns estão:
– Bacterianas: gonorreia, sífilis e clamídia
– Virais: herpes, HPV e HIV (menos comum, mas possível)
Fertilização caseira
Outra prática que preocupa profissionais da saúde é a fertilização caseira, que tem ganhado popularidade por conta das redes sociais. Essa alternativa tem sido adotada por casais heterossexuais, mulheres solteiras e casais homoafetivos que não tem recursos financeiros para realizar inseminação artificial ou uma fertilização em vitro em clínicas especializadas.
A técnica é feita com seringas ou cateteres, em ambiente doméstico, sem acompanhamento médico. O doador do sêmen é encontrado em grupos do Whatsapp e do facebook, o que representa sérios riscos à saúde.
“O material genético usado em clinicais de reprodução assistidas, quando não é do parceiro, vem de um banco de doadores regulamentado pela Anvisa. Esse material passa por triagens para detectar possíveis doenças e, assim, preservar a saúde da futura mãe e do bebê. Já na fertilização caseira, há risco de infecções no útero, trompas e outros órgãos reprodutivos, que podem causar infertilidade e até mesmo sepse, uma infecção grave que pode levar a mulher à morte” – Rivia Mara Lamaita, presidente da Frebrasgo.
Cuidados mínimos de prevenção
Embora o acesso a cuidados básicos ainda seja limitado, algumas medidas básicas ainda podem ajudar em prevenção de ISTs em relações entre mulheres:
– Realizar exames preventivos regularmente (a cada seis meses)
– Observar sinais no próprio corpo e no corpo da parceira
– Manter as unhas curtas e limpas
– Evitar escovar os dentes antes do sexo oral
– Usar preservativos durante o uso compartilhado de brinquedos sexuais
Esses cuidados não garantem proteção total, mas são o mínimo possível diante da negligência e invisibilidade da saúde sexual lésbica. A falta de preparo de muitos profissionais da saúde para lidar com diferentes formas de sexualidade, só reforça a urgência de luta pelos direitos, liberdade e um cuidado digno, inclusivo e acessível para todas.
