Foto capa: Reprodução/Minha Receita
Por Bruna Santos
A Independência do Brasil, em 1822, não apagou os laços culturais entre a antiga colônia e Portugal. Pelo contrário, muitos costumes trazidos pelos colonizadores permaneceram vivos, sobretudo à mesa. Da feijoada ao pão de queijo, a gastronomia brasileira carrega até hoje marcas profundas da cozinha lusitana, adaptadas e reinventadas de acordo com ingredientes locais e influências indígenas e africanas.
Da panela portuguesa à feijoada brasileira
Símbolo nacional, a feijoada nasceu da adaptação de pratos semelhantes ao cozido português, tradicional na Europa. Mas, diferentemente do imaginário popular, a receita não surgiu nas senzalas. Historiadores apontam que as carnes usadas na feijoada, como orelha, pé e rabo de porco, eram consideradas iguarias e não sobras descartadas.
A primeira menção ao termo “feijoada à brasileira” apareceu em 1827, no Diário de Pernambuco. Desde então, o prato foi ganhando identidade própria, no lugar do feijão branco europeu, adotou-se o feijão preto, mais abundante no Brasil. Aos poucos, o preparo passou a vir acompanhado de arroz, farofa, couve refogada e fatias de laranja, tornando-se referência da culinária nacional.
Pão de queijo mineiro

Outro ícone da cozinha brasileira, o pão de queijo, também revela influências portuguesas. Surgido em Minas Gerais por volta de 1750, o quitute nasceu da escassez de farinha de trigo, insumo caro e importado de Portugal. Para suprir a falta, os mineiros recorreram ao polvilho extraído da mandioca misturando-o com leite e sobras de queijo.
A técnica de panificação, entretanto, veio de herança lusitana. O resultado foi um pão genuinamente brasileiro, que se espalhou pelo país no século XX e hoje é reconhecido internacionalmente como símbolo da nossa identidade gastronômica.
Temperos e doces
O legado português vai além das receitas mais conhecidas. Ingredientes como arroz, trigo, azeite, alho e cebola, além de especiarias como canela e noz-moscada, foram incorporados ao dia a dia da cozinha brasileira. As técnicas de refogar e assar também chegaram com os colonizadores.
Outro capítulo dessa influência está na doçaria. Quindim, ambrosia, fios de ovos e papo-de-anjo têm origem nos conventos portugueses, mas ganharam adaptações tropicais com o uso de coco e açúcar em abundância no Brasil.
A presença portuguesa à mesa mostra como a Independência não significou ruptura total, mas sim a continuidade de uma relação cultural que até hoje se traduz em sabores familiares para os brasileiros.
