Foto capa: Dall-E
Por Monique RodSan
Roupas sempre foram mais do que uma necessidade; elas são expressão, identidade e, em muitas vezes, uma forma de poder. Contudo, em um mundo onde o consumo desenfreado se tornou regra, a relação entre moda e sustentabilidade vem ganhando atenção como nunca. A indústria têxtil, embora fascinante, carrega uma das maiores pegadas ambientais globais, colocando em xeque nossa maneira de consumir e interagir com o meio ambiente.
A produção de roupas movimenta anualmente cerca de 2,4 trilhões de dólares, o que colocaria a moda como a 7ª maior economia do planeta, se fosse um país. Mas esse sucesso econômico vem a um custo altíssimo para o meio ambiente.
Para produzir uma única calça jeans, são necessários 10 mil litros de água, enquanto uma camiseta consome 3 mil litros. No total, a indústria têxtil utiliza 93 trilhões de litros de água por ano, representando 4% do consumo global de água doce. Esse consumo excessivo é alarmante, especialmente em regiões que já enfrentam crises hídricas.
Além disso, a produção globalizada da moda é responsável por emissões anuais de 1,2 bilhão de toneladas de CO₂, ultrapassando até mesmo setores como aviação comercial e transporte marítimo. O uso de fibras sintéticas, como poliéster, agrava o problema. Responsável por mais de 50% dos tecidos utilizados no mercado, o poliéster demora cerca de 200 anos para se decompor e é um dos principais poluentes plásticos do planeta.
Para piorar, o descarte inadequado de roupas tornou-se uma crise ambiental visível. Dados da Fundação Ellen MacArthur revelam que 85% dos tecidos descartados vão parar em aterros ou são incinerados, gerando um desperdício estimado em 500 bilhões de dólares por ano. No deserto do Atacama, no Chile, pilhas de roupas descartadas formam um cenário desolador que simboliza o impacto devastador do modelo fast fashion.
O conceito de fast fashion, que surgiu na década de 1970 e ganhou força nos anos 1990, baseia-se na produção rápida e barata de tendências que se tornam descartáveis em poucas semanas. Esse modelo incentiva o consumo por impulso e transforma roupas em bens de curto prazo. O resultado é um ciclo incessante de compra, uso e descarte.
Embora democratize o acesso à moda, o fast fashion tem um custo humano e ambiental inaceitável. Trabalhadores em países como Bangladesh, Vietnã e Etiópia frequentemente enfrentam condições de trabalho precárias, com salários baixos e jornadas exaustivas. A tragédia do edifício Rana Plaza, em 2013, expôs essas condições de forma chocante, resultando na morte de mais de mil trabalhadores e colocando a exploração do trabalho na moda sob os holofotes globais.
Em oposição ao fast fashion, o movimento slow fashion propõe uma abordagem consciente e sustentável para a moda. Inspirado pelo conceito de slow food, o slow fashion valoriza a qualidade sobre a quantidade, priorizando roupas duráveis, produzidas de forma ética e com impacto ambiental reduzido.
No Brasil, iniciativas como brechós e marcas que adotam práticas sustentáveis vêm ganhando força. Segundo o Sebrae, o número de brechós cresceu 210% entre 2010 e 2015. Além disso, empresas como a Osklen e a PódeSim têm se destacado ao usar matérias-primas como algodão orgânico, couro de peixe e tingimentos naturais, alinhando inovação com sustentabilidade.
A mudança começa com o consumidor. Adotar práticas de consumo consciente pode transformar a demanda e pressionar as indústrias a adotarem práticas mais responsáveis. Aqui estão algumas ações práticas para começar:
- Compre com propósito: Pergunte-se se realmente precisa da peça antes de comprar.
- Invista em qualidade: Prefira roupas duráveis, mesmo que sejam mais caras, em vez de peças descartáveis.
- Apoie marcas locais: Valorize empresas que utilizam mão de obra justa e priorizam materiais sustentáveis.
- Reutilize e doe: Dê uma nova vida às roupas que já não usa, por meio de brechós ou doações.
- Adote o minimalismo: Um guarda-roupa enxuto e versátil é a base de um consumo consciente.
Com sua rica biodiversidade e criatividade cultural, o Brasil tem o potencial de liderar a moda sustentável globalmente. Já somos um dos maiores produtores de algodão orgânico e possuímos tradições artesanais que podem ser valorizadas como alternativas ao modelo industrializado. Contudo, ainda enfrentamos desafios como a dependência de fibras sintéticas e a falta de políticas públicas que incentivem práticas mais sustentáveis.
A moda não precisa ser um sinônimo de destruição ambiental e exploração humana. Com a adoção de práticas mais éticas e responsáveis, podemos transformar o setor têxtil em um agente de preservação ambiental e valorização social. Essa transição exige esforços conjuntos de consumidores, empresas e governos, mas os benefícios para o planeta e para as futuras gerações são inegáveis.
Ao final, vestir-se bem não deve significar vestir-se às custas do planeta. O verdadeiro luxo da moda sustentável está em usar peças que contam histórias positivas — de preservação, justiça e cuidado. Afinal, estilo é sobre como escolhemos impactar o mundo, e o impacto mais elegante é aquele que deixa o menor rastro.






“Que texto incrível, Monique! 🌱✨ A moda sustentável é, sem dúvida, o caminho para alinhar estilo com consciência. É inspirador ver dados tão relevantes e uma abordagem tão clara sobre o impacto ambiental e social dessa indústria. Adotar práticas conscientes é mais do que uma tendência; é um compromisso com o futuro. Obrigada por trazer à tona reflexões tão necessárias e mostrar que é possível fazer diferente! 👏💚”
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