Foto capa: Reprodução/Site Samba Rio
Por Bernardo Magno
Após o vice-campeonato no ano anterior, com o enredo “Me Masso se Não Passo pela Rua do Ouvidor”, por 1,5 ponto, o Salgueiro e sua comunidade ficaram com um gosto amargo por deixarem o título escapar de forma tão melancólica, depois de um 9 no quesito evolução.
Para recuperar esse ponto perdido, a escola apresentou o enredo “O Negro Virou Ouro nas Terras do Salgueiro”, de autoria do carnavalesco Flávio Tavares. Porém, faltando poucos meses para o desfile, o artista se afastou da escola, e a diretoria contratou Mário Boriello para assumir o posto deixado.
Ao chegar, Mário viu que todo o projeto de fantasias já estava sendo confeccionado e o samba já havia sido escolhido. Assim, optou por deixar apenas as alegorias sob sua autoria.
A comissão de frente, coreografada por Suzana Braga, representava o ato de pilar o café, que é o momento em que se retiram as impurezas e cascas.
O desfile foi dividido em três setores. O primeiro, “As Origens do Café”, contou a descoberta do café na Etiópia, sua viagem pelo Oriente Médio e sua chegada à América do Sul através da Guiana Francesa. O Abre-Alas representava o momento em que o preto velho soca o café no pilão, como diz o refrão do samba:
“Soca no pilão, preto velho mandingueiro / Que o negro virou ouro / Lá nas terras do Salgueiro”
O segundo setor, “A Chegada do Café nas Terras do Salgueiro e sua Expressão no Brasil”, representou o café nas terras brasileiras, a partir do Salgueiro.
A alegoria “Terras do Salgueiro” representava a fazenda Salgueiro, já que o morro e todo o bairro que deram origem à escola nasceram como uma plantação de café. Isso é refletido nos nomes das ruas do bairro da Tijuca, como “Conde de Bonfim”, “Pereira Nunes” e “Alzira Brandão”.
Esse período marcou a fase em que o café foi a principal mercadoria brasileira, tanto no mercado interno quanto nas exportações. Com a economia girando em torno do grão, os costumes da população – inclusive os dos governadores – de tomar café se tornaram tão populares que deram origem às cafeterias.
O casal Taninha e Vanderli recebeu duas notas 10 e uma 9,5, enquanto os 300 componentes da bateria Furiosa, comandados pelo lendário Mestre Loro – que esteve na escola entre 1972 e 2003 – garantiram os 30 pontos, gabaritando o quesito.

A harmonia e a evolução do Salgueiro foram os pontos fortes nesse desfile. Era visível que os componentes cantaram bastante o samba, que foi muito bem conduzido por Quinho. Durante a transmissão, é possível ouvir as arquibancadas gritando o samba-enredo da escola.
“A Influência e os Hábitos Decorrentes do Café” foi o último setor do desfile. Ele se debruçou sobre a influência do café na vida do brasileiro — nas artes cênicas, arquitetônicas e musicais, na mesa do brasileiro, desde a primeira refeição do dia até a pausa na rotina cansativa. Ou seja, beber café está presente em todos os momentos da vida do brasileiro.
A escola encerrou o desfile com o décimo terceiro carro, “Gostoso Como um Beijo de Amor”, fazendo uma comparação entre o café e um beijo apaixonado.
O Salgueiro ficou com 294 pontos, na quarta colocação, atrás apenas da Estácio de Sá, Mocidade e Imperatriz.
