Foto Capa: reprodução/getty images
Por Pedro Bernardo
A periferia das grandes cidades europeias tem sido o berço de uma transformação silenciosa na moda. Nas ruas de bairros populares de cidades como Paris, Londres, Berlim e Milão, jovens vêm criando uma estética própria, nascida da vivência urbana, da mistura cultural e da criatividade diante da escassez de recursos. Essa chamada “moda periférica” vem ganhando espaço nas passarelas, nas redes sociais e, principalmente, nas discussões sobre identidade e representatividade.
Influenciada por movimentos musicais como o rap, o grime e o trap, a moda periférica se expressa em roupas esportivas, peças oversized, tênis chamativos, bonés, correntes brilhantes e jaquetas customizadas.
Um exemplo claro dessa influência é o rapper Central Cee, uma das maiores vozes do rap britânico atual. Nascido em Shepherd’s Bush, periferia multicultural de Londres, Cee se tornou referência não só pelo seu som, mas também por seu estilo. Ele mistura tracksuits, jaquetas acolchoadas, tênis Nike Air Max e acessórios marcantes, sempre com um toque de luxo urbano, como roupas da Louis Vuitton ou Moncler. Seu visual traduz bem a essência da moda periférica.

Outro nome fundamental nessa conexão entre moda e periferia é o do rapper britânico Skepta. Nascido em Tottenham, bairro periférico ao norte de Londres, Skepta não é apenas uma referência musical dentro do grime, mas também uma figura influente no universo da moda. Seu estilo mistura o streetwear clássico britânico com peças de alta costura, criando uma estética que representa tanto suas origens quanto sua projeção internacional.
Skepta já colaborou com marcas como Nike, com quem lançou uma série de edições limitadas do modelo Air Max, todas inspiradas em suas vivências nas ruas de Londres. Também foi convidado para desfilar e criar com grandes nomes da moda europeia, como a Maison Margiela e Louis Vuitton.

Mas a força da moda periférica europeia não está apenas nos artistas, ela também se traduz em marcas independentes que surgem dentro desses territórios. Um dos maiores exemplos atuais é a Corteiz (ou CRTZ), marca fundada por Clint Ognenma, mais conhecido como Clint419, em Londres.
A marca cresceu através de ações de marketing de guerrilha, como o “Great Bolo Exchange”, em que jaquetas de marcas famosas eram trocadas por peças da CRTZ, e colaborações com a Nike em modelos exclusivos do Air Max 95. A Corteiz veste nomes como Central Cee, Stormzy e Dave, e se tornou símbolo de resistência, orgulho periférico e criatividade sem filtros.

Outro nome de peso nesse cenário é a Trapstar, também nascida nas ruas de West London. Criada no início dos anos 2000, a marca ficou conhecida por suas peças escuras, com slogans provocativos e estética agressiva, inspirada no universo do grime e da vida urbana. Com o tempo, ganhou força nas periferias britânicas e chamou atenção de artistas internacionais como Jay-Z, Rihanna e A$AP Rocky. A colaboração com a Puma consolidou a Trapstar como um dos nomes mais importantes do streetwear europeu com DNA periférico.

Além de músicos e marcas, atletas também ajudam a popularizar essa estética. Dois exemplos importantes são Marcus Rashford e Bukayo Saka, estrelas do futebol inglês com origens periféricas em Londres. Rashford, conhecido tanto pelo talento em campo quanto pelo ativismo social, é frequentemente visto usando peças da Trapstar e de outras marcas urbanas, unindo elegância e atitude. Já Saka, mais discreto, aposta em um streetwear funcional, com peças da Nike e looks que refletem a cultura jovem de onde veio. Ambos ajudam a levar a moda periférica das ruas britânicas aos palcos globais.

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Plataformas como Instagram e TikTok têm sido aliadas importantes para a difusão dessa estética. Criadores independentes postam suas roupas, coleções e ideias, chamando a atenção de grandes marcas e veículos de moda.
A moda periférica da Europa é um exemplo claro de como a cultura jovem e popular pode quebrar barreiras, transformar narrativas e influenciar até os espaços mais elitizados da sociedade.
