_{Foto Capa: reprodução/Rio2C}

Por Arthur Líbero

O terceiro dia da Rio 2C 2025, maior encontro de criatividade e inovação da américa latina, começou logo cedo com a palestra de um dos sambistas mais respeitados da música brasileira, o cantor e compositor Xande de Pilares. O bate-papo foi conduzido pela jornalista musical Kenya Sade, e o artista pôde compartilhar sua experiência no universo do samba contando alguns dos momentos mais marcantes de sua carreira.

Os costumes de Xande na infância
Um dos primeiros assuntos na palestra foram os costumes do artista quando era jovem. Ele contou que sua mãe não o deixava brincar na rua com seus amigos e nem fazer coisas simples com medo de levar o filho para o mal caminho. O compositor então diz que se questionava com a atitude da matriarca, “O que é então que me leva para o bom caminho?”
Já seu avô, a quem ele reverencia a todo momento, o colocava para ouvir CDs completos de Jerry Adriani e Roberto Carlos, mas sempre depois de ler a “bula” dos discos, que nada mais eram do que os encartes. Foi assim que o artista aprendeu que, em suas palavras, “tudo na vida tem alguma informação”, e usou o próprio teatro em que acontecia o evento para usar como exemplo, “alguém construiu isso aqui onde estamos sentados agora”.

O surgimento de “Xande Canta Caetano”
Entre os assuntos, foi abordado o sucesso do disco “Xande Canta Caetano”, lançado em 2023, onde o sambista faz uma homenagem à obra de Caetano Veloso com uma versão em samba dos clássicos do lendário músico da MPB.

Mas Xande conta que o início do projeto não foi tão fácil. Para que os dois artistas pudessem se encontrar, foi necessária uma “forcinha” do colega Pretinho da Serrinha, que é respeitado e reconhecido por seu trabalho em parceria com nomes como Marisa Monte, Ana Carolina, Pedro Baby e Carlinhos Brown, sendo seu último projeto, a turnê “Caetano e Bethânia”, que rodou o Brasil entre 2024 e 2025.

Foi pretinho quem convenceu o amigo a visitar Caetano Veloso e Paula Lavigne em um dos encontros batizados como “visitas da cantoria”. Xande conta que, um dia, ele pegou um violão e começou a cantar a canção “ela e eu” sem saber que Caetano estava atrás dele ouvindo a performance que foi feita em ritmo de samba, como ele costumava fazer. “Quando eu vi ele eu travei”, lembrou Xande. Mas o espanto do autor da canção foi inevitável, contando que nunca havia ouvido cantar sua obra em samba.
Xande explica que, para aprender a tocar cavaquinho, precisava treinar no violão com músicas da MPB em ritmo de samba, e foi assim que surgiu seu costume em adaptar as versões originais de canções famosas. Caetano então o convidou para gravar um disco inteiro com suas músicas na versão de samba como comemoração de seus 80 anos de idade.

A gravação aconteceu ainda na pandemia e emocionou os músicos presentes no estúdio, arrancando lágrimas do ícone da MPB especialmente na canção “Gente”.

A reação com o Grammy Latino
Xande também comentou sobre a honra que foi ter sido vencedor do Grammy Latino 2024 dizendo que foi algo inesperado, mas muito bom. Acontece que o músico não criou expectativas com a premiação, já que prefere manter “os pés no chão”, segundo disse. “Acho bom a gente manter conexão com a nossa origem, porque quando a gente tá de mãos dadas com ela, nós nunca iremos nos deslumbrar”, explicou.
Quando foi perguntado por Kenya se ainda tem algum objetivo do futuro em mente, ele respondeu dizendo que “tem que fazer o que precisa ser feito”, e disse que tem o objetivo de levar esperança para os moradores das comunidades que querem realizar seus sonhos. “Quero fazer as pessoas que nasceram no morro acreditarem que podem sair e fazer acontecer”, disse.

A música da vida de Xande
No final da conversa, Kenya pediu que o cantor interpretasse uma música que tenha marcado sua vida. Então, ele começou a contar uma história da época em que trabalhava em um supermercado em Pilares e passou perto de uma roda de samba, onde os músicos estavam cantando uma canção que teria chamado a atenção do então jovem garoto. Ele então foi para casa com a melodia na cabeça e criou uma letra nova por cima para não esquece-la. Cerca de quatro anos depois, ele aprendeu a letra original e passou a cantá-la em todas as suas apresentações em Pilares. A canção foi gravada pelo Grupo Revelação e se chama “Velocidade na Luz”, e ganhou uma palinha de Xande de Pilares no final de sua mesa na Rio 2C com grande vibração do público presente.