Foto capa: Alex Ferro/Riotur
Por Bernardo Magno e João Gabriel Vasconcellos
Após todas as atividades do Carnaval 2025 serem encerradas e a tradicional dança das cadeiras concluída, as escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro já têm seus enredos definidos para 2026! Entre muitas homenagens e histórias inéditas, o Em Todo Lugar conta um pouco sobre cada um deles. Confira abaixo:
1- Beija-Flor de Nilópolis

A campeã de 2025 levará o enredo “Bembé” de autoria de João Vitor Araújo, que homenageará o Bembé do Mercado, o maior candomblé de rua do mundo, celebrado há 136 em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano.
A Associação Beneficente Bembé do Mercado iniciou suas atividades em 1889, por iniciativa de João de Obá e seus filhos-de-santo e é reconhecido como Patrimônio Imaterial do Estado da Bahia pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC) e do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Sua bandeira é a preservação das tradições e dos costumes das religiões de matriz africana, assim como o combate ao racismo e à intolerância religiosa, promovendo ações de proteção, salvaguarda e sustentabilidade da comunidade e também dos detentores.
2- Acadêmicos do Grande Rio

A tricolor de Caxias, após o vice-campeonato questionado pela escola, vem para 2026 com novo carnavalesco, Antônio Gonzaga, que estava na Portela desde 2024. O artista continuará na onda da escola em 2025, que falava do Pará, só que agora falando de Pernambuco.
“A Nação do Mangue” é o título do enredo que falará sobre o movimento musical e social do Manguebeat. Idealizado pelo cantor Chico Science, na década de 1990, que teve ajuda de Fred Zero Quatro, Mabuse, Héder Aragão e Renato L, a fim de em suas músicas falar sobre as desigualdades sociais e a pobreza vividas no Recife, que era uma das piores capitais brasileiras para se viver na época, além disso renovar a cultura pernambucana que estava estagnada no movimento armorial de Ariano Suassuna da década de 1970.
Em suas músicas, o movimento mistura o maracatu, o coco e a ciranda, elementos tradicionais da musicalidade pernambucana, com a modernidade do hip-hop e rock.
Segundo falas de Chico Science o movimento iria instalar uma antena parabólica na lama, mostrando a lama de se viver no Recife para todo o Brasil.
3- Imperatriz Leopoldinense

Diretamente de Ramos, a verde-e-branca terá como enredo uma homenagem em vida para o cantor, intérprete, dançarino, ator e diretor sul mato grossense, Ney Matogrosso, com o enredo “Camaleônico”, abordando a história de vida do cantor que foi a trama do filme ‘‘Homem com H’’ do diretor Esmir Filho.
A ideia do carnavalesco Leandro Vieira é celebrar as obras e performances de Ney, mostrando a singularidade de Ney no imaginário coletivo brasileiro.
O cantor tem como suas principais obras: “Sangue Latino”, “Rosa de Hiroshima”, “O Vira”, “Homem com H” e “Metamorfose Ambulante”.
4- Unidos do Viradouro

Campeã em 2024, a escola do Bairro do Barreto, em Niterói, promete manter o alto nível de desfiles iniciado em 2019, em que voltou em todos os anos no sábado das Campeãs.
Tarcísio Zanon, carnavalesco da escola, decidiu revolucionar na escolha do enredo e desenvolverá “Pra cima Ciça” em homenagem a Moacyr da Silva Pinto, mais conhecido como Mestre Ciça, atual mestre de bateria da Viradouro. A escola diz que com esse enredo demonstra que existem pessoas que estão no dia a dia, a verdadeira mão de obra da festa, no chão de tudo e que tem história de vida suficiente para serem enredos.
Ciça virou Mestre, por engano, ainda na preparação da Estácio de Sá para o carnaval de 1989, quando o então Mestre Osório passou mal durante a semifinal de samba e pediu para Ciça, que ainda era mecânico, comandar a bateria “Medalha de Ouro” e foi assim que Ciça entrou no mundo dos mestres de bateria. Até aquele dia ele ainda era um simples ritmista.
Mestre Ciça trabalhou nas seguintes escolas: Estácio de Sá, Unidos da Tijuca, Viradouro, Acadêmicos do Grande Rio e União da Ilha do Governador.
5- Portela

Após uma disputa política nos pós carnaval, a Águia Altaneira de Madureira vai para 2026 a fim de retornar um carnaval com cara da Portela e que agrade sua imensa torcida. Pois, apesar das boas colocações, apesar de no ano de 2023, em seu centenário, terminar a apuração em 10°, a frente apenas da Mocidade e do Império Serrano, para muitos a escola deveria ser rebaixada.
Para 2026, André Rodrigues seguirá na azul e branca, porém dessa vez de forma solo pela primeira vez. O artista levará “O Mistério do Príncipe do Bará: A oração do negrinho e a ressurreição de sua coroa sob o céu aberto do Rio Grande”, uma homenagem ao Príncipe Custódio, figura histórica e espiritual de origem africana que marcou a cultura afro gaúcha no século 19.
Príncipe Custódio é considerado um dos pilares da cultura afro-gaúcha e grande símbolo dos negros no sul brasileiro, sua história gerou movimentos para a resistência e ajudou a espalhar o Batuque, religião que ele espalhou na capital Gaúcha.
Antes de vir para o Brasil, Custódio era da linhagem do trono do Benin, país da África Ocidental, e em 1899 chega à POA.
Segundo o carnavalesco, André Rodrigues, “nossa proposta é debater a descentralização da historicidade negra do Brasil, focando na formação do Rio Grande do Sul e promovendo a certeza de que essa influência negra foi estimulada e organizada pelo Príncipe do Bará, o Custódio. A realeza africana, é parte indispensável da construção da identidade do povo gaúcho. Uma história que mistura personagens, fatos históricos, ficção, lenda, sonhos, utopias e ressignificação do Brasil”.
Em 1995, Príncipe Custódio já foi enredo da Sociedade Beneficente Cultural Bambas da Orgia, a primeira e mais vencedora escola de samba do carnaval Porto-Alegrense, fundada em 6 de maio de 1940 e com 21 títulos. Desfile que gerou o vice-campeonato para a escola.
6- Estação Primeira de Mangueira

Em busca do 21° campeonato, a Verde e Rosa levará para a avenida, em 2026, um enredo afro-indígena. Apostando nas encantarias amazônicas e trazendo à tona a ancestralidade da região norte do país, a Estação Primeira contará a história de Mestre Sacaca, famoso curandeiro do Amapá e conhecido como “Doutor da Floresta”.
Intitulado “Mestre Sacaca do Encanto Tucuju – O Guardião da Amazônia Negra”, o enredo marca o segundo ano do carnavalesco Sidnei França assinando a tradicional escola da Zona Norte, sendo o primeiro exclusivamente no carnaval carioca. O artista tem como objetivo, através da história de Sacaca, valorizar a importância da floresta amazônica, dando luz a conhecimentos ancestrais das populações tradicionais da região.
Junto a isso, o Carnaval 2026 é o pontapé inicial do triênio de comemorações do centenário da escola. Com isso, a Mangueira visa reafirmar, através desse enredo, sua brasilidade, mostrando mais uma vez sua vocação em contar histórias pouco conhecidas do Brasil.
7– Acadêmicos do Salgueiro

Desde 2009 sem títulos, sendo a escola integrante e campeã do Carnaval há mais tempo sem ganhar e levar o primeiro lugar, a vermelha e branca renovou com o carnavalesco Jorge Silveira.
Para 2026, a escola irá homenagear uma de suas maiores revelações e professora de Jorge Silveira, a carnavalesca Rosa Magalhães, com o enredo ‘‘A delirante jornada carnavalesca da professora que não tinha medo de bruxa, de bacalhau e nem do pirata da perna-de-pau’’.
Rosa Começou no Carnaval sendo ajudante de Fernando Pinto e Arlindo Rodrigues, no Carnaval de 1971, do Salgueiro junto com Maria Augusta, Lícia Lacerda e Joãozinho 30.
Seu primeiro desfile assinando como carnavalesca foi na Beija-Flor, em 1974, junto de Lícia Lacerda, com o enredo “Brasil Anos 2000”, cargo que exerceu até o carnaval de 2023, no Paraíso do Tuiuti, junto de João Vitor Araújo, com o enredo “O Mongagueiro da cara Preta”.
Além das duas escolas mencionadas, acima Rosa também atuou como carnavalesca nas seguintes escolas: Portela, Império Serrano, Imperatriz Leopoldinense, Tradição, Estácio de Sá, Salgueiro, Barroca Zona Sul, União da Ilha do Governador, Vila Isabel, Mangueira, Dragões da Real e São Clemente.
Em sua trajetória, Rosa conseguiu um título com o Império Serrano, cinco títulos com a Imperatriz Leopoldinense e um título com a Vila Isabel.
Rosa Magalhães faleceu em 25 de julho de 2024, vítima de um infarto fulminante.
8 – Unidos de Vila Isabel

Prometendo brigar forte pelo seu quarto campeonato em 2026, a escola do bairro de Noel Rosa investiu alto e tirou os renomados carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora da Grande Rio, onde estavam há 5 anos. Para seu primeiro carnaval na Azul e Branco, a dupla assina o enredo “Macumbembê, Samborembá: Sonhei que um Sambista Sonhou a África”, uma homenagem ao multiartista Heitor dos Prazeres.
A ideia dos carnavalescos é apresentar Heitor através de seus trabalhos e influências no samba, nas artes plásticas e na moda, aliando sua religiosidade a sua cosmovisão de uma ‘África em miniatura’ na região central do Rio, termo criado por ele. Além disso, “Boraddad” irão destacar as afinidades entre o homenageado e a escola, marca registrada de seus trabalhos, mostrando principalmente a viagem de Vila e Heitor a Dakar, capital do Senegal, para participar do Primeiro Festival Mundial de Artes Negras, em abril de 1966.
Heitor dos Prazeres foi um compositor, cantor, artista plástico, figurinista e sambista. Participando da fundação de diversas escolas, como Portela e Deixa Falar, é um importante nome da cultura popular, tendo colaborado com sambistas como Noel Rosa e Ismael Silva. É o responsável pelo termo “Pequena África”, nome dado à Zona Portuária do Rio de Janeiro, na região central da cidade. Faleceu em outubro de 1966, aos 68 anos.
9 – Unidos da Tijuca

Querendo voltar ao sábado das campeãs, a escola do Borel aposta em uma homenagem literária para 2026. Com o enredo “Carolina Maria de Jesus”, assinado pelo carnavalesco Edson Pereira em seu segundo ano na escola, o pavão tijucano desfilará na Sapucaí a vida e obra da escritora.
O planejamento da escola é contar a história de Carolina através de suas obras, que vão desde livros até poemas e músicas publicadas em jornal, com o objetivo de mostrar o apagamento da escritora na literatura brasileira e os rótulos impostos a ela. A ideia ainda passa por uma conexão com o enredo de 1982, quando a tetracampeã do Carnaval homenageou Lima Barreto, para mostrar a continuidade da valorização da literatura preta e da luta antirracista na escola.
Carolina Maria de Jesus foi uma escritora, cantora, compositora e poetisa brasileira. Autora do best-seller “Quarto de Despejo: Diário de Uma Favelada”, publicado em 1960, foi com ele que atingiu fama. Uma das primeiras escritoras negras do Brasil, é considerada uma das mais importantes escritoras do país, tendo sua vida e obra estudada por todo o mundo até os dias atuais. Faleceu em fevereiro de 1977, aos 62 anos.
10 – Paraíso do Tuiuti

Após mais um Carnaval com problemas que atrapalharam a escola na busca por maiores voos, a azul e amarela de São Cristóvão foi a primeira a anunciar seu enredo para 2026. Apostando mais uma vez em histórias pouco faladas, a Tuiuti levará para a Avenida o enredo “Lonã Ifá Lukumi”.
Responsável pelo maior desfile da história da escola, em 2018, o carnavalesco Jack Vasconcelos vai para seu terceiro ano seguido nessa segunda passagem pela escola. A ideia do artista é dar luz a uma vertente religiosa afrocubana do Ifá dentro da tradição Lukumí, que vem sendo redescoberta no Brasil, além de refletir sobre a cultura cubana e suas questões sociais.
O enredo ainda deve passar pela diáspora africana para a América Central e sua relação com o povo cubano e o Ifá, o oráculo das religiões de matriz africana. O samba-enredo, encomendado, é de autoria de Claudio Russo, Gustavo Clarão e Luiz Antônio Simas e será lançado no dia 15 de agosto.
11 – Mocidade Independente de Padre Miguel

Vinda de mais um Carnaval aquém de sua grandeza, a Estrela Guia da Zona Oeste misturará guitarras com tambores em 2026 em busca de dias melhores. Com o enredo “Rita Lee, a Padroeira da Liberdade”, a verde e branco homenageará a rainha do rock brasileiro e um dos grandes nomes da música nacional.
No segundo ano de sua volta à escola, onde fez história nos anos 1980 e 1990, o carnavalesco Renato Lage volta a assinar um carnaval solo, após o falecimento de sua esposa e parceira Márcia Lage. Com o objetivo de colocar a escola de novo no caminho das glórias, o Mago pretende mostrar o legado musical, disruptivo e transgressor da artista, trazendo-a como uma santa protetora das “ovelhas negras”. Junto a isso, a escola busca mostrar mais uma vez sua identidade ligada à cultura brasileira, mantendo a tradição de dar protagonismo e valorização a grandes nomes femininos da cultura nacional.
Conhecida como Rainha do Rock brasileiro, Rita Lee foi cantora, compositora, apresentadora e escritora. É considerada uma das mais influentes artistas da história da música brasileira, sendo um grito de liberdade de expressão e referência para muitos jovens, principalmente mulheres, em tempos de Ditadura Militar. Entre sua passagem no grupo Mutantes e carreira solo, emplacou diversos sucessos que marcaram época no país, como “Ovelha Negra”, “Mania de Você”, “Lança Perfume”, “Flagra” e “Erva Venenosa”. Rita faleceu em maio de 2023, aos 75 anos, por complicações de um câncer no pulmão.
12 – Acadêmicos de Niterói

Estreando no Grupo Especial em 2026, a azul e branca aposta em um tema de forte apelo popular e que certamente dividirá opiniões para assegurar sua permanência na elite do carnaval carioca. Com o enredo “Do Alto do Mulungu surge a esperança: Lula, o operário do Brasil”, a campeã da Série Ouro 2025 homenageará o presidente Lula.
Em seu terceiro ano na escola, o jovem carnavalesco Tiago Martins será responsável por contar a vida de uma das grandes personalidades da história do país. Com a missão de carnavalizar uma figura ligada à política e com muitas polêmicas, o artista aposta em momentos marcantes da trajetória do homenageado e de sua ligação com as camadas mais populares da sociedade brasileira para fazer sucesso na Sapucaí.
Com carreira construída na vida pública, Luiz Inácio Lula da Silva é ex-metalúrgico, ex-sindicalista e político brasileiro. Foi um dos principais agentes contra a Ditadura Militar no ABC paulista, sendo um dos líderes do Movimento Diretas Já. É um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT), por onde se elegeu Deputado Federal na redemocratização e, posteriormente, Presidente do Brasil. Com governos marcados pela luta por direitos sociais e pela prosperidade econômica das classes mais baixas, foi eleito três vezes para o cargo máximo do país, onde está atualmente em seu terceiro mandato.
