Foto de capa: Ponomariova_Maria/Getty Images
Por Mariana Silvestre
O Dia Internacional da Igualdade Feminina é celebrado no dia 26 de agosto. A data surgiu nos Estados Unidos, em 1973, para homenagear a conquista do direito ao voto feminino, garantido pela constituição estadunidense em 1920. Atualmente a data tem como objetivo celebrar o progresso da luta feminista, refletir sobre a igualdade de gênero e incentivar ações que contribuam para o avanço na luta pela equidade entra homens e mulheres.
Mas, apesar do progresso na luta por igualdade, barreiras de raça e classe ainda dificultam o acesso de muitas mulheres às conquistas feministas. Isso mostra que violências e desigualdades podem ir muito além do gênero e serem influenciados por outras questões sociais. E isso nos leva a reflexão: todas as mulheres são realmente iguais?
O início da luta: sufrágio
Barreiras de raça e classe afastam mulheres das conquistas feministas desde o seu princípio. Hoje, são muito celebradas as primeiras vitórias do movimento feminista, mas pouco se sabe que essas conquistas não foram para todas.
A conquista do direito ao voto para mulheres nos Estados Unidos, em 1920, foi uma vitória da primeira onda do feminismo no país, conhecida como sufrágio, depois de muitos anos de luta e persistência. Após essa, vieram outras ondas que garantiram direitos reprodutivos e sexuais.
Por mais que o movimento tenha sido benéfico para muitas mulheres na época, ele também recebeu muitas críticas, exatamente por excluir de suas lutas mulheres negras- na época conhecidas como mulheres de cor -que não eram representadas nas pautas e até mesmo excluídas de congressos por feministas brancas. Mulheres negras só começaram a votar 35 anos após as mulheres brancas, pois foi quando pessoas negras, de forma geral, conquistaram esse direito.
A presença feminina no mercado de trabalho começou a aparecer durante a Primeira Guerra Mundial, porém, mulheres negras já eram vítimas do trabalho escravo desde a colonização.
“Para um feminismo ser relevante, ele precisa ser antirracista e incluir todas as mulheres das mais diversas esferas.” – Ângela Davis, ativista e escritora.
Feminismo Radical e Mulheres trans e travestis
Outro movimento feminista que recebe muitas críticas por não incluir todas as mulheres é o feminismo radical. Conhecido como radfem, em seu princípio, ele visava entender a violência e a desigualdade através da construção social dos gêneros feminino e masculino. Porém, atualmente, muitas feministas radicais são acusadas de transfobia, por acreditarem que mulheres trans e travestis reforçam estereótipos de gênero, se apropriam de lutas que não as representam e não seriam “mulheres de verdade”.
“Nós recusamos a ideia de que ser mulher seja uma identidade subjetiva, ao invés de uma descriminação objetiva com base no sexo biológico.” – Aline Rossi, feminista radical e escritora.
Feminismo liberal e controvérsias
O feminismo liberal é uma vertente criada por mulheres da classe média, frequentemente criticado por vertentes radicais e interseccionais, pois incentiva a união de mulheres ao capitalismo e ao patriarcado, consequentemente, explorando outras mulheres- tudo a partir de uma falsa ideia de empoderamento.
“O feminismo liberal serve para pacificar as lutas feministas de libertação, oferecer uma respeitabilidade e um pedaço da torta capitalista.” – Françoise Vergès, cientista política.
Violência e Desigualdade
O gênero não é a única razão pela qual mulheres são oprimidas. Raça, classe e contexto social tem grande influência nos desafios que uma mulher enfrenta no dia a dia. Mulheres negras são a maioria nos números de feminicídio, e mulheres trans e travestis não chegam a representar 1% no mercado de trabalha.
Você se considera feminista?
Por conta dessa realidade de exclusão, muitas mulheres não se reconhecem como feministas por não se sentirem representadas pelo movimento:
“Tudo é feminismo hoje em dia, mas isso nunca me afetou como mulher trans” – depoimento de uma mulher trans ao blog `Contraponto Digital`
Essas exclusões nos movimentos feministas incentivaram a criação de outras vertentes mais inclusivas como o feminismo negro, trans feminismo, feminismo interseccional, feminismo descolonial, feminismo marxista e até mesmo outros movimentos que visam a liberdade das mulheres, como o mulherismo africana, criado por mulheres negras com o intuito de buscar libertação, valorização, justiça social e transformação.
Mulheres nunca deixaram de lutar pelos seus direitos e liberdade, mesmo quando a opressão se encontrava nos lugares que deveriam acolhê-las.

Parabéns por citar uma data tão importante, que traz consigo todo o grande heroísmo que as feministas estadunidenses de todas as raças e classes compartilharam em defesa do direito de voto. Nos dias de hoje, o mais importante deve ser sobretudo o compartilhamento do que há em comum entre as(os) feministas(os), pois como movimento político precisamos de união. A diferença de visões é parte de uma sociedade democrática, mas isso não é motivo para não se praticar sororidade e solidariedade. A união faz a força. Aproveitamos para lembrar, que, além do mês de agosto, agora em novembro também há uma importante data que marca o início dos 16 Dias de Ativismo pelo fim da Violência Contra a Mulher: 25 de novembro, Dia Internacional de Luta pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, em homenagem a três grandes heroínas da República Dominicana, as irmãs Mirabal.
Atenciosamente,
A Equipe da Escola Feminista.
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