Foto Capa: reprodução/Instagram
Por Letícia Costa
Você com certeza já ouviu o ditado: “meninas vestem rosa e meninos vestem azul”. No entanto, essa ideologia que, em pleno século XXI, ainda se faz presente na sociedade, definitivamente não é um princípio da estética agênero.
Moda agênero, sem gênero, unissex, neutra ou genderless, independentemente de como é chamada, é basicamente a moda que busca neutralizar as diferenças visuais preestabelecidas entre homens e mulheres.

Desde o início daquilo que conhecemos como moda, o vestuário sempre foi dividido entre masculino e feminino. A moda unissex não trabalha com atribuições de gênero para peças de roupa. O conceito busca justamente quebrar esse paradigma e permitir que as pessoas se vistam com aquilo que acham confortável e que transpareça a sua personalidade e estilo.
O termo ‘unissex’ surgiu em meados dos anos 60, derivado da ascensão dos movimentos sociais da época. Manifestações a favor da libertação feminina, causas da comunidade LGBTQ+ e ações relacionadas à contracultura — como o hippie e o hip-hop — questionaram os papéis de gênero e propuseram uma nova forma de expressão por meio da moda.
Os visuais andróginos — aqueles que combinam características e traços associados ao gênero masculino e feminino — eram o ápice daquele momento. Personalidades das artes e da música usavam peças consideradas femininas, como vestidos, cabelos compridos e até mesmo maquiagem. As calças tornaram-se o ponto central da moda e ganharam as famosas bocas de sino, usadas por homens e mulheres.

David Bowie, ícone do rock dos anos 70 e 80, foi pioneiro na propagação da moda unissex. Com seus visuais ousados e personagens icônicos como Ziggy Stardust e Aladdin Sane, o astro do rock questionou as normas de gênero e rompeu barreiras na moda, inspirando e influenciando designers até hoje.

Em 1973, Bowie passou por um momento um tanto quanto cômico durante sua entrevista com Russell Harty, apresentador e jornalista inglês. O cantor caracterizava-se com mais um de seus visuais extravagantes, com direito à maquiagem, um blazer com estampas coloridas e um sapato plataforma que cativou a atenção do entrevistador.
Harty ousou ao questionar o artista se os seus sapatos eram de homem, mulher ou sapatos bissexuais, e David Bowie ousou ainda mais ao afirmar que aquilo eram apenas calçados.

E, assim como Russell Harty, engana-se você que acredita que a moda agênero está diretamente ligada à identificação sexual. Por mais que seja um termo derivado da comunidade LGBTQ+, usar roupas que não são típicas do seu gênero, como no caso de Bowie com o seu sapato plataforma, por exemplo, não significa nada além do seu gosto pessoal por aquela peça.
Na atualidade, o crescimento massivo da estética agênero vem sendo proporcionado principalmente pelas gerações Z (1997-2010) e Alpha (2010-2025). Por ter inclusão e diversidade como seus princípios essenciais, essas gerações demonstram abertura para pluralidade de ideias e o questionamento sobre convenções tradicionais.

A moda agênero é o futuro da indústria. Estamos vivendo um momento revolucionário em que as pessoas estão se preocupando cada vez menos com o fato de um pedaço de tecido ter sido destinado a um gênero específico.
Personalidades como Lee Felix, Harry Styles, Sam Smith e Billie Eilish são exemplos ilustres daqueles que abandonaram a diferenciação de sexo no vestuário e usam aquilo que gostam e se sentem confortáveis.

As celebridades são responsáveis por trazer uma grande visibilidade para o movimento agênero e, principalmente, por influenciar as pessoas a explorarem novas formas de expressão por meio da moda, incentivando a autenticidade e a indiferença com o julgamento alheio.
Ainda que com sua crescente popularização, a moda agênero não é completamente alcançável e ainda tem um longo caminho a ser percorrido. É um assunto delicado na indústria, em que, muitas vezes, aqueles que buscam peças neutras nem sempre conseguem devido à falta de numerações e modelagem acessíveis.
A inclusão da moda agênero é gradual, mas deve ser um movimento constante. O fortalecimento de uma moda livre contribui para a criação de um ambiente sem preconceitos, que celebra a individualidade e a liberdade de expressão.
Moda agênero envolve conforto, personalidade e estilo, e é, acima de tudo, sobre usar aquilo que satisfaz somente a você.
