Mais que música, Hip Hop é moda — e moda é pertencimento

Foto capa: Vans Bumbeers/Netflix 

Por Beatriz Saramago

Originário dos bairros pobres de Nova York no início da década de 1970, o Hip Hop — hip, de “quadril” ou “o que está na moda”, e hop, de “dançar”, em inglês — nasceu da manifestação artística de jovens nas comunidades afro-americanas, caribenhas e latinas em meio a um período de crise política, econômica e social nos Estados Unidos.  

Mais do que conhecemos como um gênero musical, o Hip Hop trata-se de um movimento cultural que ultrapassou barreiras e chegou até aqui, no Brasil. Uma forma de autoafirmação e pertencimento que é, também, expressada através da moda. Aqueles que são fãs de artistas como Djonga, Emicida ou o duo Tasha e Tracie, sabem bem disso: o estilo é identidade e resistência. 

Foto: Reprodução/Internet

Djonga, rapper que possui sua marca própria chamada A Quadrilha, já declarou em entrevista ao jornal O Tempo que moda, pra ele, é arte: “Quero me comunicar com todos os públicos, com pessoas que queiram passar um recado com as nossas roupas”. Além disso, afirmou que faz questão e gosta muito de participar da criação das peças da sua marca. 

A moda no Hip Hop sempre foi discurso. Desde o uso de correntes de ouro, jaquetas, bonés e tênis como símbolos de poder e liberdade nas periferias americanas, até a apropriação e ressignificação dessas referências por artistas brasileiros, a roupa se torna uma extensão da voz. É uma forma de dizer “eu estou aqui” sem precisar falar. 

Para além de composições que exaltam ancestralidade e consciência social, Emicida também projetou essas ideias em sua marca LAB Fantasma, criada com o irmão Evandro Fiotti. A marca misturou referências da rua e da cultura afro-brasileira, valorizando a identidade periférica e o consumo consciente. Em sua estreia na moda durante o São Paulo Fashion Week, em 2017, o cantor declarou que “as passarelas devem ser um reflexo das nossas calçadas”.  

Apesar de ter encerrado suas atividades após uma disputa judicial entre os irmãos, a LAB Fantasma deixou seu legado na cena brasileira. 

Coleção C&A apresenta LAB – A Rua é Noiz / Foto: Divulgação 

Com um olhar voltado à estética urbana feminina, as gêmeas Tasha & Tracie,  conhecidas também como “as Patroas”, trazem um estilo com elementos que retratam as favelas de São Paulo. Junto de Aniele Ribeiro e Valérie Alves, as cantoras formaram o “MPIF: Mulheres Pretas Independentes de Favela”, um coletivo de ativismo e moda para colocar em prática o que elas faziam individualmente: criar um estilo de se vestir bem com poucos recursos, inspiradas em suas vivências e referências culturais.

Tasha & Tracie com modelos após desfile do MIPF/ Foto: Divulgação

Hoje, o Hip Hop influencia passarelas, campanhas e colaborações de grandes marcas. Mas o que o move continua sendo o mesmo: o desejo de ser visto e respeitado. E, no guarda-roupa desses artistas, cada acessório, cor ou combinação conta histórias, aquelas mesmas que ecoam em suas rimas.

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