Agosto é o mês da visibilidade lésbica

As datas 19 e 29 são símbolos de resistência e luta pelos direitos

Por Bárbara Scarpa

No dia 19 de agosto de 1983 uma revolta ocorreu em São Paulo, o levante Ferro’s Bar, protagonizado por lésbicas e apoiado por grupos feministas. E em 29 de agosto de 1996 teve a realização do 1º Seminário Nacional de Lésbicas e Bissexuais (Senale), criado por ativistas brasileiras. Algumas pessoas comemoram no dia 19, outras 29. O importante é saber da existência e do porquê cada vez mais temos que falar sobre.  

De acordo com Aventuras na História, o Ferro’s Bar foi um ponto de encontro de mulheres lésbicas da década de 1960 a 1990. Em 1981 surgiu o Grupo Ação Lésbica Feminista (GALF, 1981-1990), um dos primeiros grupos de organização política homossexual do Brasil.  

palíndromo on Twitter: "Dia 19 de agosto é dia do Orgulho Lésbico. Nesta  data o Grupo de Ação Lésbica Feminista (GALF) coordenado por Rosely Roth  invadiu o Ferros Bar, em São Paulo,
Entrada Ferro’s Bar, em São Paulo, década de 80 
Imagem: reprodução  

As ativistas produziam o panfleto Chana com Chana, para divulgar o movimento e vendiam no bar para as mulheres que frequentavam. Porém, a venda foi proibida pelo dono do estabelecimento. Elas resistiram e decidiram ocupar o local no dia 19 de agosto de 1983 e lutaram contra a discriminação com a presença de outros grupos LGBT, feministas e figuras políticas. O levante resultou em pedido de desculpas e liberação da venda dos panfletos. 

Conheça o 'Stonewall' brasileiro, o levante liderado por lésbicas e apoiado  por feministas | Partido dos Trabalhadores
Edição do jornal Chana com Chana 

Já faz um tempo que a indústria cultural se dedica a falar mais com o público LGBTQI+ o que é muito importante e significativo. Ainda vivemos em uma sociedade homofóbica e lesbofóbica e falar sobre os preconceitos, as lutas, os desafios e amores é imprescindível. Só que nem tudo são flores e infelizmente vemos filmes que sexualizam as mulheres lésbicas. Entretanto, com o avanço das mídias sociais e com o aumento das influenciadoras digitais assumidas, a temática LGBTQI+ se torna cada vez mais visível. 

Ao falar de representatividade e visibilidade, Camila Souza, 31 anos, advogada e empreendedora, questiona “ainda tem muito o que melhorar e crescer. Claro que comparando com antigamente, melhorou muito. Mas ainda há muitos espaços a serem ocupados. A mulher lésbica ainda não é enxergada socialmente da forma que deveria, por isso acho importante que as mulheres lésbicas ocupem cada vez mais espaços de visibilidade na cultura, na política, na educação.” 

No Instagram, podemos buscar muitas páginas sobre política, história e cultura lésbica. Para falar melhor sobre isso, Damiana Ventura, 27 anos, guia de turismo, nos contou sobre o surgimento e o que a motivou a criar sua página: 

“ A The L Culture  foi criada no dia 29 de agosto de 2019, e não por acaso, é o dia da Visibilidade Lésbica aqui no Brasil. Minha motivação veio de um coração partido. Eu senti que precisava falar diretamente sobre uma cultura pop para mulheres e sobre mulheres. Minha intenção é falar sobre o protagonismo feminino no geral, respeitando e incluindo outras orientações sexuais (bissexual, pansexual) e identidades de gênero.

Página do instagram @thelculture

Mesmo com o aumento de mulheres falando sobre essa temática, ainda vemos poucas notícias e reportagens. Se procurarmos na internet, as reportagens são antigas e retratam apenas a violência e preconceito. Há várias youtubers famosas que tratam desse tema há um tempo, como a Louie Ponto . O seu canal no Youtube surgiu em 2008 e aborda temas como feminismo e sexualidade. 

O canal Tá entendida , é mais recente, desde 2018, criado por Tatiana Fernandes e Yasmin Campbell. Elas abordam questões do mundo lésbico, como: namoradas, amizades e preconceitos. 

Para falar sobre aceitação do corpo e também sexualidade, o canal Alexandrismos é super importante. Alexandra Gurgel, jornalista, criou o canal em 2013 para falar sobre o movimento “corpo livre” e gordofobia.  

A advogada Camila Souza acredita ser necessário trazer ao debate a representatividade LGBTQI+, “hoje ficou claro que não só é importante como necessário que todas as pessoas se sintam abraçadas e representadas pelas histórias e personagens que leem, de forma a se sentirem acolhidas no mundo”, afirma. 

E para as mulheres lésbicas se sentirem acolhidas e abraçadas, em março desse ano, surgiu um bar lésbico no Rio de Janeiro. Lela Gomes, 33 anos, idealizadora do bar Boleia, em entrevista ao O GLOBO, declarou “quero que as mulheres se sintam à vontade aqui, principalmente as que se relacionam com outras mulheres. É um lugar para que essas pessoas se sintam seguras e felizes sendo quem elas são. Como regredimos tanto nos últimos anos, acho que um lugar assim, será acolhedor”.  

Lela Gomes, dona de bar lésbico em Botafogo: 'Tudo o que a sapatão gosta' |  VEJA RIO
Lela Gomes, idealizadora do Bar Boleia
Imagem: Veja Rio

O bar está fechado, desde o começo da pandemia, mas é um lugar muito importante para que as mulheres se sintam confortáveis com suas amigas ou parceiras. O que nos lembra o bar Ferro’s bar, em São Paulo e o bar Stonewall in, em Nova York, onde foi a origem ao primeiro movimento LGBT+ em 1969.  

Quando falamos em representatividade comumente se trata também de visibilidade e “quanto mais mulheres se expressam com qualidade, melhor. Mulheres lésbicas têm tanto a ensinar e também a aprender. É importante que as comunicadoras (jornalistas, apresentadores, atrizes) ocupem seus espaços e saibam da importância de serem assumidas e apresentar suas parceiras. Isso dá esperança para as gerações de agora e as do futuro”, afirma Damiana.  

Vimos o crescimento de mulheres lésbicas na mídia.  E você, que também ama séries, filmes e livros voltados para esse público e quer criar uma página ou um blog, ou até mesmo um canal no Youtube, a dica da Damiana é o seguinte: 

“Exiba e fale daquilo que você gosta, do que te gera prazer e satisfação só de pensar. Se preocupe em como transmitir uma mensagem e em ser uma pessoa que não faz distinção de pessoas. Percebo que é chegada a hora da comunidade lésbica fazer uma autocrítica sobre como elas tratam mulheres negras, trans, bissexuais e pan. Se preocupem em passar uma mensagem de que seu espaço, virtual ou físico, é acolhedor para essas mulheres que não encontram acalento em lugar nenhum.” 

Image for post
Protesto em São Paulo no dia da visibilidade lésbica
Imagem: Ennio Brauns/Jornalistas Livres

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