_{Foto capa: Zanone Fraissat/Folhapress}

Por Bernardo Magno

A GRES Estrela do Terceiro Milênio foi fundada em 5 de maio de 1998, no bairro do Grajaú, extremo sul da capital paulistana. A escola surgiu como forma de integrar os moradores à cultura, especialmente aqueles que vivem distantes do grande centro. 

Após 18 carnavais, a escola conquistou o acesso ao Grupo Especial em 2022, com o enredo “Ô abre alas que elas vão passar”, um manifesto sobre a importância das mulheres na sociedade e um clamor contra o feminicídio. Em 2023, no seu primeiro ano no Grupo Especial, o carnavalesco Murilo Lobo desenvolveu o enredo “Me dê sua tristeza que eu transformo em alegria! – Um tributo à arte de fazer rir.” 

“Remédio para a sua dor”, título da comissão de frente coreografada por Régis Santos, representava uma família pobre e triste do Grajaú, sem acesso ao lazer e à cultura. Até que a trupe do humor chega ao bairro e transforma, de forma teatral, o humor da família, evidenciando o poder leve e transformador do riso. O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Daniel e Edilaine, representava as festas dionisíacas, em homenagem a Dionísio, deus grego do vinho e do teatro. 

Ao longo do desfile, foi apresentada uma cronologia do humor na história, começando pelos bobos da corte, que divertiam o rei com suas piadas, e pelas Damas da Alegria, que se encantavam com as histórias contadas por eles. Encerrando o primeiro setor, o Abre-Alas “A Corte Medieval” simbolizava a arquitetura da época dos bobos da corte. 

A bateria “Pegada de Coruja”, comandada pelo mestre Vitor Veloso, foi representada por 250 ritmistas vestidos de palhaços. Na apuração, como é de costume no julgamento do carnaval, todas as baterias receberam nota máxima: 40 pontos. No segundo setor, a escola abordou a comédia escrita, com destaque para a Commedia dell’Arte e seus personagens – Arlequim, Pierrô e Colombina – e para as peças de Shakespeare. 

A segunda alegoria representava o próximo passo do humor: sua teatralização e adaptação para o cinema. Foram homenageados nomes como Charlie Chaplin e obras como O Auto da Compadecida. Alas representaram também o período da Ditadura Militar no Brasil, destacando os chargistas das Diretas Já e as crônicas de crítica aos regimes autoritários. 

O desfile se encerrou com o humor na atualidade, presente em diversas plataformas: no celular, na televisão, nas músicas e nas animações – mostrando que, em qualquer momento, é possível rir e se divertir. 

Na apuração, a escola terminou em 14º lugar, com 269,1 pontos, empatada com a Unidos de Vila Maria. Ambas foram rebaixadas, ficando a apenas um décimo da Rosas de Ouro.