“O Méier era uma unidade deliciosa para dar aula”, Ivana Gouveia, professora da Facha e coordenadora do portal Em Todo Lugar.
Por Luciana Alves
O memorial à Facha Méier fala sobre a história da faculdade, sua evolução, os eventos marcantes, o relacionamento entre alunos e professores e, conforme sentimento unânime de todos, o ambiente prazeroso da instituição na zona norte do Rio de Janeiro.
No segundo semestre de 1999, no Colégio Hélio Alonso, a Facha Méier iniciou suas atividades. Neste momento, apenas dois cursos foram oferecidos: Jornalismo e Publicidade. Por fazer uso da estrutura do colégio, as graduações eram oferecidas somente no turno da noite e nas salas dos alunos do Ensino Médio. No ano de 2002, com o avanço das turmas, a faculdade precisou crescer e foi transferida para o prédio na Rua Lucídio Lago, sendo a mesma instalação até o fim das atividades. A nova unidade trouxe para os alunos laboratórios de edição e estúdio de rádio. E por conta da demanda, foi incluído o turno da manhã. Solidificava-se, neste momento, o campus da nova faculdade.
Com curso de Jornalismo, muitos professores resolveram ousar. Ivana Gouveia, coordenadora do jornal da Facha em Botafogo na época, quando soube do início das atividades no campus Méier decidiu expandir o jornal da faculdade e propôs a criação de um jornal mural na Facha Méier elaborado pelos próprios alunos. Uma atitude inovadora até porque eram estudantes do primeiro período e, mesmo assim, muitos toparam.
O espírito proativo dos professores contaminou os alunos ao ponto que a primeira apresentação de TCC foi uma simulação da Rádio Nacional da década de 1940! Os alunos foram devidamente caracterizados no estilo da época e apresentaram o jornal trabalhando como radialistas ou como cantoras de rádio. “Tivemos alguns eventos que foram muito bons. Um deles, em 2006, quando o “formato” do TCC, era desenvolvido de forma diferente, foi feito um trabalho sobre a antiga Rádio Nacional. Houve apresentação e algumas “personalidades” da Rádio foram homenageadas.”, disse Regina Lago, coordenadora do campus Méier.

A unidade do Méier recebeu, sob a coordenação do professor Guto Neto, o Centro de Produção e Pesquisa (CPP) em 2002. O professor, que trabalhou na instituição da zona norte desde as primeiras turmas via como era importante levar a mesma estrutura de ensino de Botafogo para o Méier. Guto reforçou a ideia e levou o CPP, do qual era coordenador desde 1988 em Botafogo, para o novo campus.
Tanto para Regina Lago, Ivana Gouveia e Guto Neto a participação dos alunos era uma característica visível desta unidade. Palestras como a do Marcos Uchoa, por exemplo, contou com a presença de tantos alunos que houve a necessidade de fazer uma transmissão ao vivo na sala ao lado para comportar todos os presentes. Era frequente também encontrar alunos do Méier nas palestras e eventos na unidade da Facha de Botafogo, o que mostra como sempre houve proatividade por este grupo. “Um público com um desejo muito diferente, com história de superação pessoal, de vida. Trabalhava o dia inteiro para depois estudar. Essa noção de esforço e desejo eles levavam para a sala de aula. Isso era marcante com os alunos do Méier”, disse Guto Neto quando entrevistado sobre a unidade Facha Méier.

Após 21 anos, a unidade encerrou suas atividades por motivo da crise econômica no país causada pela pandemia do COVID-19. O choque sobre o fechamento para os alunos foi muito duro. A faculdade, por ser menor, proporcionou uma boa interação entre discentes e professores e entre os próprios estudantes que consideraram a passagem pela unidade como um grande incentivo e apoio para sua vida.
“Nesse campus eu pude crescer, amadurecer, e eu pude ter a certeza de que o que eu escolhi como carreira é a certa. Por isso que eu tenho um carinho enorme por essa unidade, e quando recebi a notícia de que ela seria fechada me deixou profundamente triste”, Ana Beatriz Reis da Rocha, 19 anos, estudante de Publicidade e Propaganda, 6° período.
A Facha Méier foi muito elogiada pelo clima agradável, seguro e aconchegante. Alunos tímidos conseguiram se enturmar facilmente. Os inseguros receberam ajuda e apoio dos professores. Os relatos da maioria dos alunos foram unânimes: a relação entre colegas era sempre de amizade e união.

Muitos alunos têm o sentimento de gratidão pelas oportunidades de estágio e o suporte dos professores que receberam na unidade. Mariana Benedito, estudante de Jornalismo, estagiou por dez meses no Centro de Produção e Pesquisa (CPP), na área de edição de vídeo da própria faculdade. O aluno Sérgio Leão, estudante de Jornalismo, ouviu sobre uma oportunidade de estágio na faculdade. Sentou com a professora Magda Valente, montou seu currículo, enviou para o Grupo Bandeirantes e hoje é estagiário na Rádio Band News FM. Todos os alunos expressaram grande carinho pelos professores e alegaram que o relacionamento entre professores e alunos era realmente um clima de apoio, incentivo e amizade.

Estudantes da Baixada Fluminense, ressabiados como seria o relacionamento com os colegas de turma, encontraram na unidade do Méier uma referência de aconchego e ambiente familiar. Juntaram-se a muitos colegas moradores de regiões próximas e a amizade foi para além do campus.
“Fui agraciada com uma parte significativa da turma moradora da Baixada. Isso fez muita diferença nas minhas amizades, porque foram para além dos muros da Facha Méier (…) era fácil ficar lá até tarde estudando ou conversando, de se sentir em casa.”, Rafaela Lohana, 22 anos, estudante de Jornalismo, 6° período
A Facha Méier foi além de uma unidade de ensino na zona norte do Rio de Janeiro. Foi história, foi um ambiente de amizade entre alunos e professores, foi acolhedora aos alunos inseguros, abriu portas para o início da carreira profissional, foi marcante já na primeira apresentação de TCC, foi construtiva com estágios internos pelo Jornal Mural e o CPP, foi fruto de namoros, foi prazerosa para professores, foi única, como era o seu bordão: “Têm coisas que só acontecem na Facha Méier!”
“Hoje significa saudade do lugar que conheci grandes mestres, formei amigos, conheci minha namorada e era feliz à beça com os colegas. É uma saudade mesmo”, disse Yuri da Cunha, 24 anos, estudante de Jornalismo, 8° período.
Ficha Técnica: Entrevista com alunos – Rafaela Alves / Entrevista com professores – Luciana Alves