Por: Maria Beatriz Castro
O Sesc São Paulo realiza, entre os meses de setembro e dezembro, mais uma edição da Mostra de Cinemas Africanos, que reúne em sua programação filmes de curta e longa metragem, entrevistas e um curso, a fim de divulgar o trabalho cinematográfico africano para a audiência brasileira. As produções estão sendo exibidas em sessões todas as quintas-feiras desde o dia 10/09, na página online do Sesc Digital, e ficam disponíveis para o público por 1 semana após sua exibição na própria plataforma.
A ideia por trás da Mostra foi concebida por Beatriz Riesco, espanhola, pesquisadora, professora e crítica em arte e cinema contemporâneos e por Ana Camila Esteves, brasileira, jornalista, produtora cultural e pesquisadora do cinema africano contemporâneo. Juntas, elas observam o cenário de produções cinematográficas da África e quais trabalhos são selecionados para participar nos principais festivais de cinema do mundo, escolhendo os mais relevantes para serem exibidos aqui no Brasil. Nesse ano, devido a pandemia da Covid-19, a Mostra está acontecendo exclusivamente de maneira online. Entretanto, em anos anteriores, a edição principal foi realizada no CineSesc, em São Paulo, e levada para o projeto Cine África, em Salvador, do qual Ana Camila é curadora.
Os filmes disponíveis na programação nessa edição do Cine África possuem, em sua maioria, até no máximo 5 anos de produção, a fim de valorizar a contemporaneidade do cinema africano atual. O projeto conta com filmes de destaque de Burkina Faso, Camarões, Egito, Etiópia, Nigéria, Quênia, Senegal e Sudão. O mês de outubro está com 5 produções em seu catálogo, além de uma conversa online com uma das curadoras do evento e outros dois convidados especiais. Já foram exibidos, até agora, o documentário “Lua Nova” de Philippa Ndisi-Hermann (Quênia), o drama “O Fantasma e a Casa da Verdade” de Akin Omotoso (Nigéria) e o também drama “Rosas Venenosas” de Fawzi Saleh (Egito). Este último ainda está disponível para exibição até o dia 22/10 na plataforma online do Sesc Digital, junto com uma entrevista com o diretor Fawzi Saleh. O trailer oficial do filme pode ser encontrado através deste link.
Nas próximas semanas, o Cine África irá exibir o drama “Madame Brouette” de Moussa Sene Absa (Senegal), no dia 22/10, e o também drama “Beyond Nollywood – Sofrendo e Sorrindo” da Nigéria, um programa de diversos curtas-metragens. Em novembro serão 4 produções, a serem exibidas nos dias 05/11, 12/11, 19/11 e 26/11. Para mais informações, confira a programação completa na página online da Mostra.

Além da exibição dos longas e curtas metragens, e das entrevistas realizadas com os diretores dos projetos, a Mostra de Cinemas Africanos oferece um curso sobre o panorama do cinema africano, com duração de 3 meses. O curso, ministrado por Ana Camila Esteves e outros facilitadores, abriu as inscrições em 10/09, e as vagas esgotaram rapidamente. Por fim, ao término de todas as atividades da Mostra em dezembro, será disponibilizado um e-book do evento, contendo textos sobre o universo do cinema africano em diversos formatos.
Apesar da limitação da exibição dos projetos na edição de 2020, a pandemia proporcionou uma oportunidade para jovens mulheres africanas produzirem e apresentarem curtas-metragens sobre o impacto da doença em suas vidas. Os filmes, de até 2 minutos cada, refletem as dificuldades que essas mulheres passam em suas rotinas nesse “novo normal”, que vão desde o aumento com cuidados com a saúde até violência doméstica. Ainda, relatam a força da mulher africana que, em comparação com a vida levada pelos homens naquela sociedade, sofrem e trabalham muito mais.
Esses curtas foram submetidos a um concurso de filmes realizado pela Ladima Foundation, organização sem fins lucrativos que busca divulgar e reparar a problemática da desigualdade de gênero que existe na indústria filmográfica e televisiva africana, e pela DW Akademie. Foram 10 vencedoras escolhidas, que irão receber uma premiação de 500 euros e terão seus curtas-metragens exibidos em diversas plataformas e formatos. A Mostra de Cinemas Africanos contribuiu com as legendas em português para os filmes vencedores, podendo assim aumentar seu alcance para outros países de língua portuguesa. Após 3 meses disponíveis no site do American In Motion Film Festival, os curtas agora somente podem ser vistos no YouTube, no idioma original. Confira o projeto abaixo:
A edição de 2020 da Mostra de Cinemas Africanos tem repercutido de maneira bastante positiva nas redes sociais. É possível observar no Facebook e no Instagram comentários de um público que está encantado com esse formato de cinema que antes era praticamente desconhecido, e com as belíssimas histórias que a programação da Mostra tem para apresentar. Em um contexto de pandemia e de cada vez mais preocupação com a igualdade racial e com a luta antirracista, o evento faz um papel social importantíssimo ao exibir produções que muitas vezes são esquecidas, que têm dificuldade em ter visibilidade fora do cenário em que vivem. A curadoria de Beatriz e de Ana Camila se faz essencial, não só por trazer uma representação cultural diferente do usual para a audiência brasileira mas também para mostrar a diversidade cinematográfica africana, apresentando os desafios e as lutas de uma sociedade e contando histórias que, se não fosse por esse projeto documental, permaneceriam desconhecidas.