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Moda sustentável: uma tendência necessária

Como o mundo da moda paulatinamente evolui para alcançar um futuro mais sustentável 

Por Renato Galardo

Crédito a Ecole Brasil

As Revoluções Industriais e o capitalismo estabeleceram modos de vida e consumo convenientes à necessidade de crescimento e manutenção de uma economia de mercado. Contudo, esses hábitos e sua promoção são responsáveis por uma exploração vertiginosamente crescente de recursos naturais finitos, feita muitas vezes sob governos que não fiscalizam suficientemente a sustentabilidade na extração de matérias-primas ou na confecção de produtos por parte de grandes corporações, como é a situação atual do Brasil, que vê sua porção da Amazônia ser negligenciada pela atual administração federal. No começo de 2019, sob a justificativa de cortes em gastos públicos, foram extintas importantes competências do Ministério do Meio Ambiente, as quais tinham incumbências como o combate ao desmatamento, às queimadas e à desertificação. Políticas como essa agravaram as consequências de incêndios e explorações ilegais, por exemplo, e geraram aumento na perda de hectares de floresta nativa nos últimos anos, como mostra levantamento do Global Forest Watch, organização que libera relatórios virtuais sobre a conjuntura das florestas pelo mundo. Dessa forma, a discussão sobre uma reformulação nos modos de as empresas lidarem com suas produções, e, paralelamente, de os indivíduos lidarem com o consumo, se faz de suma importância.  

É a partir da ciência desta alarmante configuração e da percebida necessidade de mudança que parte da moda reconfigura-se e adota medidas mais sustentáveis de produção, trazendo-nos esperança de uma revolução na indústria têxtil e na forma de se produzir e se consumir roupas e acessórios. 

Para compreender a magnitude do problema, a produção de calças jeans é um ótimo exemplo: a peça, majoritariamente à base de algodão, necessita de diversos químicos a fim de transformar a matéria-prima em tecido, e, após cumprirem seu propósito, esses inúmeros químicos são descartados nas redes de esgoto, indo diretamente aos rios e mares. Contudo, a mais preocupante característica na constituição do produto é o gasto de água que requer. Em média, uma única calça jeans demanda 100 litros de água, nos parâmetros de produção tradicionais. Situação mais que alarmante, tendo em vista que a peça é um coringa nos armários mundo afora e nunca sai de moda, sendo sua demanda significativamente crescente. 

upcycling, também chamado de “movimento slow fashion” ou “slow maker“, é adotado por diversas startups e marcas já tradicionais e nada mais é que a reutilização de materiais já existentes para a formação de novas peças. O SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) destaca os principais motivos para se adotar o upcycling, e dentre eles estão: a rentabilidade, já que os materiais usados ou pré-existentes custam menos do que os já fabricados; a criatividade que é requerida para transformar o potencial dos materiais existentes em algo novo, bonito e único; e sustentabilidade, pois evita que resíduos têxteis se acumulem em aterros sanitários, além de reutilizar o tecido para criar roupas e produtos novos sem o uso abusivo de água, como haveria para se fazer uma roupa do zero. 

A partir dessa noção, novas empresas surgem com o objetivo de quebrar o ciclo de uma abordagem ultrapassada e exploradora da moda, e são elas as maiores promotoras dessas mudanças no mundo fashion. A Think Blue (@thinkblue_upcycled), por exemplo, é fundada em 2014, e a label já nasce com um espírito revolucionário e promotor de mudança. A empresa conta com produção artesanal e tingimento natural de peças, e tem como base e filosofia o reaproveitamento e o consumo consciente. O crescimento da consciência e da demanda por produtos upcycled são ainda mais percebidos quando até marcas mais populares, como a Farm (@adorofarm), adotam o modo de produção. Fundada há 22 anos, a marca carioca adotou no ano passado a linha “re-farm”, que, segundo a própria, dá vida nova a peças existentes, reaproveita sobras e ressignifica o consumo. Assim, o upcycling se mostra em voga e também se estabelece como um importante aliado na ascensão de uma nova moda consciente, sustentável e respeitadora do meio ambiente, sendo base de marcas emergentes e passando também a fazer parte de outras já estabelecidas no mercado. 

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Modelos expostos no site da Think Blue (thinkblueupcycled.com.br)

Mirella Rodrigues, fundadora da Think Blue, acredita que haja uma responsabilidade mútua entre empresas e consumidores, sendo aquelas responsáveis por repensarem seus sistemas de produção, e estes, pela escolha ponderada e estratégica de quais marcas adquirir e, consequentemente, financiar.  Partindo da premissa que o consumo também configura um ato político, deve haver uma consciência coletiva da necessidade de uma revolução na forma de se produzir e consumir, e isso acontece apenas quando os indivíduos estão cientes e adotam em seu cotidiano as atitudes necessárias para que a mudança seja devidamente efetivada.

“Não compete apenas às marcas ativistas conscientizarem. A ação e a cobrança do consumidor é muito importante para que ocorra uma mudança de fato na indústria”

diz Mirella Rodrigues

Dessa forma, intrínseca à mudança e ao advento de uma forma mais verde de produção estão uma parceria e alinhamento entre marcas e sociedade, na qual ambas devem basear suas ações em valores éticos e que não perpetuem sistemas exploratórios e insustentáveis, os quais desequilibram e destroem biomas e, eventualmente, a própria humanidade. O nosso futuro reflete a forma como tratamos o presente, e a hora de mudança é agora.  

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