Foto de Capa: Old Trafford, estádio do Manchester United, um dos clubes que integraram a Superliga. Crédito: André Zahn
Por Ana Beatriz Magalhães
Nesta quinta feira (22/04), às 19h, o coordenador do curso de Gestão Desportiva e do Lazer, Leandro Lacerda, junto com o gestor desportivo Alexey Carvalho, debateram sobre a Superliga Europeia e o possível desequilíbrio em consequência desse novo campeonato.
No domingo (18/04), 12 dos maiores clubes do continente europeu anunciaram a criação de uma Superliga, um campeonato que reuniria Milan, Arsenal, Atlético de Madrid, Chelsea, Barcelona, Inter de Milão, Juventus, Liverpool, Manchester City, Manchester United, Real Madrid e Tottenham com o objetivo de fazer um futebol diferente, elevando o patamar do futebol europeu e para aumentar as receitas, já que os clubes fundadores estariam insatisfeitos.
Profissionalismo no esporte e gestão esportiva
Um dos assuntos levantados pelos debatedores durante a live foi a questão da gestão do esporte de base do Brasil, de como ela é profissional, mas, ainda assim, amadora. Segundo eles, há 30 anos, existia uma participação mais ativa de clubes de bairros, mais praticantes das modalidades e adeptos e isso já não é mais a realidade. Porém, em contrapartida, hoje, existe a Lei de Incentivo Federal, Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) e muito mais recursos e verbas voltados para o esporte. Dessa maneira, consequentemente, houve uma restrição e redução nos participantes e, para reverter, são necessários gestores, além de um entendimento e vontade política dentro dos clubes, é a conclusão dos dois palestrantes.
Na visão dos dois, trata-se de um negócio que movimenta muito dinheiro ao longo do ano em todos os continentes e, mesmo assim, observa-se falta de profissionalismo, em que pessoas amadoras, mal preparadas ou sem nenhuma experiência exercem este tipo de função, além da falta de modernização para acompanhar o mercado e trazer bons resultados.
De acordo com Alexey Carvalho, gestão só funciona com pessoas capacitadas, preparadas e instruídas, do contrário, é impossível analisar o esporte olímpico e o amador. Entretanto, como declarou o gestor, hoje, vê-se muito destaque para aspecto econômico e, assim, fica difícil criar uma cultura esportiva, já que o mesmo é uma ferramenta de educação.
A Superliga
A formação da Superliga vem sendo articulada há alguns anos e a ideia era substituir a Champions League – atual torneio mais importante disputado pelos clubes europeus – por um campeonato mais lucrativo e com participação dos maiores clubes, além de planejar um calendário cheio de jogos entre os integrantes.
Na live, o coordenador Leandro Lacerda levanta as questões: um futebol diferente para quem? Vai gerar mais receita para quem e isso, consequentemente, vai ser melhor para quem? “Se depender dessa lógica, um clube pequeno, por exemplo, não vai mais disputar uma competição de alto nível”, pontuou Lacerda.

“Fica evidente a elitização e o exclusivismo dos clubes mais ricos”, declarou Carvalho, visto que essas associações tiveram suas receitas impactadas devido à pandemia – assim como todos – e buscaram uma maneira de reverter esse problema, aumentando seus ganhos com patrocínio, deixando de lado o espírito esportivo e de redistribuição de receitas para equipes menores. O aspecto esportivo está em jogo, mas o econômico ganha cada vez mais protagonismo, uma vez que os 15 clubes fundadores devem receber milhões de dólares para a realização de investimentos.
A pandemia afetou as rendas com bilheteria, então não havia como aumentar receitas e obter lucros para clubes como Manchester United, Liverpool e Juventus, comandados por grandes empresas e voltados para gerar mais capital de seu investimento. Nesse contexto, surgiu a oportunidade de anunciar a iniciativa da Superliga, ponderaram Lacerda e Carvalho.
Além disso, também foi discutido, na live, a situação dos torcedores, em que muitos não conseguiriam acompanhar os jogos e torcer por seus times do coração, devido à falta de dinheiro.
Grande rejeição
Com rejeição ampla das torcidas e da mídia, a Superliga gerou críticas de torcedores nas redes sociais, de comentaristas e ex-jogadores. Eles afirmaram que o objetivo dela é apenas enriquecer com uma competição que disputariam apenas os maiores jogadores, gerando muito dinheiro, através de grandes contratos televisivos. Com a desaprovação, em dois dias, os clubes perceberam que a briga em que entraram ameaçava seus próprios negócios.
A Heineken, patrocinadora da Champions League desde 1994, também criticou a iniciativa, ironizando nas redes sociais com a postagem: “Não beba e comece uma liga. #MelhorJuntos”.
Diante dessa repercussão negativa, alguns clubes acabaram anunciando sua desistência de participar da criação do projeto. Para Alexey Carvalho, a Liga dos Campeões da UEFA vai precisar escutar e receber esses clubes que participaram desse movimento, no sentido do que pode ser feito em termos de receita e de uma maior arrecadação por parte dessa elite do futebol europeu, mesmo que a iniciativa da Superliga tenha fracassado.
Assista a live aqui: