Evento da Jornada de Cinema fala sobre as poéticas etnográficas no cinema experimental contemporâneo

Foto: Divulgação

Por Lucas Furtado Isaias

O cinema experimental contemporâneo vem trazendo para produção ideias que fazem o diferencial no mundo audiovisual. Com várias técnicas, cineastas mudam as formas de se fazer cinema e trazem um olhar diferenciado, crítico e pessoal às produções. Estes experimentos mesclados com histórias foi o tópico da segunda mesa da III Jornada de Cinema FACHA. A mediadora e cineasta experimental Cris Miranda conversou com a documentarista e cineasta, Lívia Sá, a diretora de fotografia, Louise Botkay, o diretor, produtor e roteirista Lucas Rossi dos Santos e o artista Marcos Bonisson sobre o tema.  

A conversa começou com Lívia que, mora nos Estados Unidos há 14 anos, e de maneira nômade há um por conta da pandemia do coronavírus, comentou sobre como as diversas questões da vida de um estrangeiro impactaram as suas produções. Em 2016, em San Francisco, ela começou a ligar sua distância do Brasil e suas memórias em seus trabalhos feitos, em grande parte, com uma câmera Super 8 e alguns de maneira não-linear e sendo evoluídos com o passar do tempo. Ela falou um pouco sobre seu processo de criação que foge dos padrões comuns de produções: “Quando você está filmando com o digital ou em equipe, você tem um roteiro a seguir, mas eu gosto de quebrar esta estrutura e ir para um lugar de vivência, de conectar com as pessoas. Muitas vezes nos meus projetos como Terra a Vista e o Invisíveis, eu estava filmando sem saber o que eles iam se tornar”, afirmou.  

Louise Botkay, diretora de fotografia e realizadora, que trabalha com filmes produzidos em diversas formas como celular, Super 8, 16 e 35 milímetros e que muitas vezes são revelados “à mão”, afirmou que assim que chegou ao Brasil em 2013 abandonou definitivamente o uso da película em suas produções. A diretora também comentou um dos seus trabalhos mais recentes, o Pena Verde, produzido em 2017 num período em Itaparica, cidade onde as religiões de matrizes africanas são muito fortes, e mostra uma destas festas. A produção usou looping em seu plano sequência “Tem festa em terreiro todo fim de semana e algumas pessoas sabiam que eu estava interessada (em produzir um filme). Tinha uma festa na casa do Cosme e fui muito bem recebida e filmei em uma tarde uma festa de Caboclo. E quando filmei esse momento já sabia que era um momento muito especial e acabou virando um filme inteiro. É a primeira vez que trabalhei com o looping dentro do plano que vai e volta”, afirmou. 

O diretor Lucas Rossi dos Santos contou sua história até ser um dos mais renomados diretores da atualidade. Falou sobre o mais recente trabalho Ser Feliz no Vão, sobre o racismo e o que há de mais conservador no Rio de Janeiro: “Decidi fazer um ensaio meio poético com vozes da diáspora como Tim Maia, Fela Kuti, Nina Simone que desde a infância ouvi, mas não só ouvir a música, mas também como enxergam o mundo. O filme surgiu desta exposição à elite carioca e ao que tem de conservador desta cidade. Eu acho que o filme tenta caminhar por este lugar de expor e refletir ao mesmo tempo, mas sem afirmar muita coisa trazendo mais questionamentos e reflexões”, afirmou. O diretor também mencionou que a obra aborda a ideia, que algumas pessoas têm, de privatização da praia, lugar de lazer gratuito e aberto a todos, resgatando o episódio “Os Pobres vão a Praia” do Documento Especial em 1989, na época exibido pela TV Manchete, e que retrata o preconceito da elite com a presença de pessoas de baixa renda na praia e todo caminho em busca de lazer no fim de semana. Lucas está trabalhando na finalização da montagem cinebiografia sobre Grande Otelo e que deverá estrear em 2022.  

O artista Marcos Bonisson falou sobre sua trajetória na arte e sobre o premiado filme “Tupianas”, que foi feito com o seu arquivo de cartuchos Super 8 gravados nos anos 1970 e 1980 e montado por ele e Khalil Charif. “Tupianas foi uma epifania porque foi marcante em muitas formas: trabalhar som experimental e trabalhar o corpo colagem que eu venho fazendo ao longo de minha vida em todos os trabalhos. Colagem meio Frankstein, mas é uma colagem e isto foi relevador. O Khalil é muito bom de inscrever obras nos festivais e o filme ganhou o mundo”, afirmou dizendo que ficou surpreso quando viu o filme ser veiculado na Anthology Film Archieves em Nova York.  

Durante toda a conversa, o tema foi sobre as diferentes formas de produção com olhar pessoal e como estas criações vêm contribuindo para o reconhecimento do nosso mercado audiovisual com sua ousadia, com o seu olhar crítico e íntimo sobre as questões mais importantes da sociedade. Esta conversa, você pode acompanhar aqui: 

A Jornada de Cinema prossegue até sexta (28/05), com eventos no canal da FACHA no Youtube, falando sobre os documentários que abordam questões sociais, as chanchadas e o Cinema Novo, além de outros temas importantes sobre a produção audiovisual no Brasil.   

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