Inglaterra e Itália decidem final da Euro 2020/2021

Depois de as seleções irem para as prorrogações, Federico Chiesa e Raheem Sterling se consagraram como principais personagens das semifinais 

Foto de capa: Reprodução/Eurocopa

Por Rodrigo Glejzer

Itália Espanha (06/07) 

Desde 1924, quando realizaram o primeiro amistoso, Itália e Espanha montaram uma das maiores rivalidades dentro da Europa. Separados por mais de 1.972 km, os dois países já se enfrentaram mais de 36 vezes, com histórico empatado: são dez vitórias para cada lado e dezesseis empates. O primeiro grande desafio foi nas Olimpíadas de 1928, em Amesterdã, nos Países Baixos, com direito a goleada italiana por 7 a 1.  

Nos últimos tempos, os rivais têm causado certos traumas um ao outro. Primeiro com a dolorosa goleada que a Espanha infligiu à Itália na final da Euro de 2012, um 4 a 0 inapelável, e depois com a Azzurra devolvendo o favor ao vencer por 2 a 0  e eliminar os espanhóis no campeonato europeu seguinte, em 2016. O último confronto teve nova goleada, desta vez por 3 a 0, da “Fúria Vermelha” sobre os italianos durante as eliminatórias para a Copa de 2018, na Rússia.  

Na atual Eurocopa, a Itália, segundo a crítica esportiva, veio favorita para o duelo, pois apresentou mais consistência em suas partidas durante todo o campeonato. Enquanto isso, a Espanha só veio a crescer a partir das oitavas de final, depois de fazer uma fase de grupo com muitos altos e baixos.  

Em 2012, a Espanha se deu melhor na final da Euro – Foto: Veja/AFP 

Escalações 

Para a primeira etapa, o técnico espanhol Luis Enrique surpreendeu quem estava acostumado a acompanhar os jogos da equipe vermelha. Até então defendendo com unhas e dentes o tão criticado Álvaro Morata, principalmente pela imprensa da Espanha devido aos gols perdidos no torneio, o treinador optou por tirá-lo da equipe titular, pela primeira vez, e começar com Mikel Oyarzabal. Também voltou com Dani Olmo no lugar de Pablo Sarabia, machucado, e Eric Garcia substituindo Pau Torres na zaga. 

No lado azul, Roberto Mancini manteve a base da equipe e apenas sacou Berardi para a entrada de Federico Chiesa, um dos destaques italianos na atual Euro. Por causa da contusão do lateral esquerdo Leonardo Spinazzola, fora da competição, Emerson Palmieri começou a partida como titular.  

Espanha: Unai Simón; Azpilicueta, E. García, Laporte e Alba; Koke, Busquets e Pedri; Ferrán Torres, Dani Olmo e Oyarzabal. Técnico: Luis Enrique.  

Itália: Donnarumma; Di Lorenzo, Bonucci, Chiellini e Emerson; Barella, Jorginho e Verratti; Chiesa, Immobile e Insigne. Técnico: Roberto Mancini. 

Primeiro tempo 

Sem perder desde 10 de setembro de 2018, quando foi batida por Portugal por 1 a 0 pela Liga das Nações 2018/2019, a equipe italiana possui mais de 30 jogos de invencibilidade.Todavia, apesar do bom retrospecto da Azzurra, e da bola chutada na trave, em impedimento, no lance inicial do jogo, o que se viu no primeiro tempo foi um grande domínio espanhol.  

Sempre controlando a posse de bola, a “Fúria” criou duas ótimas oportunidades, ambas perdidas por Oyarzabal, aos nove e 12. A pressão continuou até Dani Olmo ter uma das melhores chances de abrir o placar aos 24. O meia conseguiu chutar dentro da área, depois de a bola sobrar em finalização bloqueada de Oyarzabal, mas Donnarumma, um dos principais personagens italianos na competição, conseguiu espalmar para fora.  

Mikel Oyarzabal foi um dos destaques do primeiro tempo – Foto: Kiryll Kudryavtsev/AP 

Sufocada pela marcação espanhola, a Itália não conseguia trocar muitos passes e ainda viu Olmo tentar marcar novamente ao chutar de longe, e para fora, aos 32. O domínio espanhol era tão grande que a posse de bola beirava mais de 60% durante quase todo o primeiro tempo. E, enquanto a Espanha já havia criado ao menos cinco chances de arrematar ao gol, os italianos ainda estavam zerados nas oportunidades criadas.  

Demorou até os 44 minutos para que a  seleção azul conseguisse assustar o goleiro Unai Simón. Depois de receber lançamento do meio de campo, Insigne carregou a bola pela esquerda e entregou para o lateral Emerson Palmieri chutar e carimbar o travessão. Com o primeiro tempo já à beira de terminar, o juiz alemão Felix Brych não estendeu muito mais o jogo e terminou com o placar zerado.  

Segundo tempo 

Após uma primeira etapa bem aquém das outras partidas, quando era a Itália quem dava as cartas, a Azzurra pareceu voltar mais ligada no jogo. Novamente no primeiro minuto, os italianos conseguiram chegar na meta adversária, com Immobile lutando entre os dois zagueiros e chutando fraco para fora. A resposta da Espanha veio com Sergio Busquets aproveitando passe de Oyarzabal e chutando rente ao travessão de Donnarumma.  Ainda nos dez minutos iniciais, a Itália voltou a encurralar os espanhóis na defesa, e Chiesa arrematou para defesa firme de Unai Simón.  

Com o segundo tempo mais franco, a “Fúria” viu os italianos crescerem na partida e, apesar de os espanhóis ainda terem criado boas chances com Ferrán Torres e Oyarzabal,  abrirem o placar aos 14 minutos. Em jogada que começou com Donnarumma lançando para Barella, o volante da Inter de Milão-ITA acionou Insigne no ataque, que, de lá, repassou para Chiesa. O ponta da Juventus-ITA puxou a bola para o meio e, de dentro da área e marcado por Eric Garcia, acertou belo chute no canto de Unai Simón. 

Chiesa abriu o marcador com belo gol – Foto: Reprodução/Football Italia 

Com o placar a favor, Mancini recuou mais sua equipe e passou a querer jogar nos contra-ataques. Já Luis Enrique também não demorou a agir e sacou Ferrán Torres para a entrada de Álvaro Morata. A partir desse momento, lá para os 20 minutos, a Espanha passou a pressionar ainda mais a defesa italiana. A Azzurra até conseguiu armar boas oportunidades, com Berardi aos 24 e 34 minutos, mas o jogo passou a ser quase que completamente espanhol.  

A imposição vermelha se fez valer aos 34, quando Morata conseguiu fugir pelo meio da defesa italiana, recebeu o passe de Dani Olmo e bateu o arqueiro adversário para empatar a partida em 1 a 1.  Já bastante debilitadas pelo cansaço, ambas as seleções até tentaram armar novas chances, mas sem nada de muito perigo. Com o jogo empatado, o tempo regulamentar foi terminado, e os times passaram a se preparar para a prorrogação 

Tempo extra e pênaltis 

No tempo extra, Álvaro Morata quase marcou aos três minutos da primeira parte, mas o zagueiro Chiellini conseguiu interceptar antes de chegar no gol. Na segunda parte, a Itália conseguiu desempatar depois de Berardi se desvencilhar da marcação e escorar para as redes. No entanto, para azar de Mancini e companhia, o atacante estava impedido, e o gol invalidado pelo VAR. De resto, basicamente a Itália tentando se segurar para os pênaltis, enquanto a  Espanha rodava a bola tentando achar algum espaço. 

Sem ainda ter um vencedor, a partida teve sua prorrogação encerrada e as penalidades iniciadas. Os italianos foram quase perfeitos em suas cobranças: dos cinco primeiros, apenas o volante Locatelli errou. Pela Espanha, a situação já foi diferente: Olmo, isolando, e Morata, parando em Donnarumma, não conseguiram marcar.  

Mesmo pressionada o jogo todo e sem apresentar o mesmo bom futebol das fases anteriores, a Itália conseguiu se segurar e chegar à sua quarta final, tendo sido campeã em 1968 e vice em 2000 e 2012. Apesar de eliminados, os espanhóis podem se orgulhar da campanha de recuperação que sua seleção fez. Depois de começar muito mal a fase de grupos, com dois empates, a seleção tricampeã da Euro sai de forma honrosa na semifinal. 

Morata foi de herói a vilão na partida – Foto: Laurence Griffiths/AP 

Inglaterra x Dinamarca (07/07) 

São mais de vinte partidas entre as duas nações, a primeira em 1948 em um amistoso, com retrospecto muito a favor da Inglaterra (13 vitórias contra apenas quatro derrotas), mas com o último confronto, pela Liga das Nações 2020/2021, vencido pelos dinamarqueses por 1 a 0. É o quarto embate entre os países em uma Eurocopa, já haviam se enfrentado pelas fases de grupo em 1980, 1984 e 1992.  

Apesar de não ser a maior das rivalidades na Europa, o dinamarquês Kasper Schmeichel não perdeu a chance de provocar os adversários. Com a torcida inglesa entoando sempre que pode a frase “Está voltando pra casa”, pelo fato de o Reino Unido ser considerado a região em que nasceu o futebol, o arqueiro do Leicester-ING não perdeu a chance de relembrar que o campeonato europeu nunca esteve em posse da Inglaterra. Ao contrário da Dinamarca, vencedora em 1992 quando era liderada por Peter Schmeichel, pai de Kasper, e Brian Laudrup.  

Escalações 

Depois de começar com Jadon Sancho no lugar de Bukayo Saka contra a Ucrânia, o técnico Gareth Southgate desfez a mudança e voltou com a jovem promessa do Arsenal-ING no time titular. De resto, manteve a base que vem jogando praticamente junta desde a primeira partida na Eurocopa 2020. 

Para a semifinal, a Dinamarca também manteve a mesma escalação das demais partidas. A única observação foi a manutenção do centroavante Kasper Dolberg, autor de dois gols contra Gales, no lugar de Yussuf Poulsen no comando do ataque dinamarquês.  

Inglaterra: Pickford; Walker, Stones, Maguire, Shaw; Phillips, Rice; Saka, Mount, Sterling; Kane. Técnico: Gareth Southgate. 

Dinamarca: Schmeichel; Christensen, Kjær, Vestergaard; Stryger, Hojbjerg, Delaney, Maehle; Braithwaite, Damsgaard e Dolberg. Técnico: Kasper Hjulmand. 

Um dos destaques da Dinamarca, Schmeichel provocou os adversários ingleses antes da partida – Foto: Reuters 

Primeiro tempo 

Com uma equipe muito mais qualificada que a adversária, por ter alguns dos mais relevantes jogadores da Premier League, a liga inglesa e principal centro futebolístico da última década, a Inglaterra era dada como favorita tanto pela crítica esportiva como por boa parte dos torcedores.  

No entanto, como no futebol nem sempre dá para se aplicar a lógica, os “Três Leões” começaram com muita dificuldade em furar a boa defesa dinamarquesa, liderada pelo excelente zagueiro Kjær, jogador do Milan-ITA. Com o jogo sendo bastante estudado por ambas as equipes, que tentavam se expor o mínimo possível, poucas chances eram criadas.  

A primeira oportunidade inglesa veio só aos 12 minutos com Raheem Sterling chutando fraco para fora. No lance seguinte, a Dinamarca passou a tentar procurar mais o ataque e conseguiu armar duas oportunidades com Braithwaite, aos 12, e Damsgaard, aos 24. Com o jogo morno e tendo a Inglaterra com problemas para construir jogadas, parecia que a primeira etapa não sairia do 0 a 0. Isso foi até os 29 minutos, quando a equipe de Southgate cometeu falta perto da área. O atacante Damsgaard, de 21 anos e com passe pertencente à Sampdoria-ITA, se postou a bater e, com uma ajudinha de Pickford, que demorou a reagir para defender, marcou o primeiro gol de falta da Euro 2020.  

Damsgaard colocou a Dinamarca na frente no primeiro tempo – Foto: Reprodução/UEFA 

Agora atrás no placar, a Inglaterra pareceu ter acordado para a partida e correu para pressionar no ataque. Quase 10 minutos depois do primeiro gol, Sterling conseguiu uma enorme chance para empatar. O jogador do Manchester City-ING conseguiu entrar na área e rebater um cruzamento inglês, mas Schmeichel conseguiu se posicionar bem e bloquear a tentativa.  

 
Os dinamarqueses mal tiveram chance de comemorar a boa defesa de seu goleiro e, na jogada seguinte, levaram o empate. Com o meio-campo em dificuldades para criar jogadas, Harry Kane mostrou porque foi o líder de assistência da última edição da liga inglesa. O centroavante saiu da área para receber a bola, fez o pivô e encontrou Sterling livre dentro da área para empatar.  

Porém, junto a Sterling, estava Kjær, que, ao tentar impedir a continuidade do ataque adversário, acabou empurrando para o próprio gol, marcando o décimo primeiro gol contra da Euro 2020, aos 38 minutos. Com a igualdade do placar, a Inglaterra passou, novamente, a controlar a posse de bola, enquanto os dinamarqueses tentavam apenas se segurar até o apito final.  

Kjær tentou parar Sterling e acabou jogando contra o próprio patrimônio – Foto: Reprodução/UEFA 

Segundo Tempo 

A segunda etapa regulamentar foi basicamente um jogo de ataque contra defesa. Os dinamarqueses até tiveram duas boas chances com Dolberg, aos seis e 13 minutos, mas ficou apenas nisso. Os ingleses é que dominavam a partida, porém sem também conseguir ficar à frente no placar.  

Mason Mount, Luke Shaw, Harry Maguire e Kalvin Philipes tentaram de longe, de cabeça e dentro da área, mas tanto Schmeichel, bastante perseguido pela torcida inglesa pelas provocações antes do jogo, como a defesa da Dinamarca continuaram firmes o tempo todo.  

Southgate também não fez muito para mudar o panorama do jogo e preferiu apenas tirar Saka para colocar Jack Grealish. Por outro lado, Hjulmand fez quase todas as mudanças possíveis para tentar oxigenar seu time e assim conter as investidas adversárias. Com a partida bem morna, o árbitro holandês Danny Makkelie terminou o segundo tempo e abriu a prorrogação.  

O juiz Danny Makkelie foi um dos principais personagens do jogo – Foto: ANP 

Prorrogação 

Quase que um repeteco dos tempos regulamentares, a primeira etapa extra continuou sendo basicamente a Inglaterra tentando abrir a retranca dinamarquesa, que parecia já satisfeita com a ideia de decidir nos pênaltis e não tentava atacar muito. Dessa vez, Southgate resolveu mudar mais a equipe e tirou Declan Rice e Mason Mount, colocando, respectivamente, Jordan Henderson e Phil Foden. A mudança não pareceu surtir muito efeito, e, com mais de 10 minutos de prorrogação, apenas um chute foi dado, com Grealish aos sete. 

O jogo parecia rumar mesmo para as penalidades até o lance capital da partida acontecer. Depois de receber a bola no ataque, Sterling partiu para dentro da área e ficou entre dois jogadores. Enroscado com Vestergaard e Maehle, o atacante caiu na área, e Makkelie assinalou pênalti. O VAR fez a checagem e, apesar das dúvidas se o inglês não teria forçado a queda, confirmou a marcação, sem nem mesmo precisar que o juiz fosse até o monitor rever o lance.  

O capitão Harry Kane se postou para bater e perdeu. Schmeichel foi muito bem e defendeu a cobrança, mas não conseguiu segurar o forte chute e acabou soltando. Esperto, Kane se adiantou aos defensores adversários e virou o placar para os “Três Leões”.  

Agora em desvantagem, a Dinamarca se atirou para o ataque, porém sem conseguir ser efetiva. Cansados, os dinamarqueses não conseguiram armar nada que levasse muito perigo a Pickford, fora um bom chute de Braithwaite. Desta forma, os ingleses passaram a tentar administrar o tempo até o árbitro encerrar a partida.  

Agora, a Inglaterra terá a chance de ganhar o seu primeiro título Europeu e, ainda, em casa, já que a partida será em Londres. Para os dinamarqueses, foi o fim do conto de fadas de uma equipe quase eliminada na primeira fase, depois de perder os dois primeiros jogos, que virou uma semifinalista de Euro. Eriksen, craque da Dinamarca e fora do torneio depois de infartar na primeira rodada, pode se dizer orgulhoso de seus companheiros.  

Pênalti polêmico decidiu o jogo a favor da Inglaterra – Foto: Getty Images  

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