Foto de Capa: Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
Por Breno Braga e Nathália Machado
O Setembro Amarelo é uma campanha anual de conscientização sobre prevenção ao suicídio. Criado em 2015 pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de Medicina) e ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), tem como proposta associar a cor ao mês que carrega o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, o dia 10 de setembro. Maria das Graças Araújo, voluntária do CVV há 20 anos, explicou durante a sua participação no Facha Lives a razão por trás dessa associação cromática: “O Brasil não tem uma política pública oficial, então nós resolvemos criar um alerta, porque vimos que aqui funciona muito bem colorir, por exemplo, Outubro Rosa para prevenção ao câncer de mama, Novembro Azul para prevenção ao câncer de próstata”. O tema da edição deste ano é “Esperançar”, que significa saber que o hoje pode ser diferente amanhã.
O CVV
Luzia Da Costa, voluntária há um ano do CVV, ONG que atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio, afirma que os pedidos de ajuda nem sempre são críticos. “Surgem pessoas com todo tipo de dúvidas e questões que estejam lhe afligindo, e isso é muito bom, porque saúde mental é prevenção também. E isso significa que não precisamos atuar somente em situações limite”, diz.
Em setembro de 2015, o CVV iniciou atendimento pelo telefone 188, primeiro número sem custo de ligação para prevenção do suicídio. De qualquer linha telefônica do território brasileiro, fixa ou celular, as ligações são gratuitas e funcionam 24 horas por dia, em todos os dias da semana. O atendimento é feito por um voluntário, de forma respeitosa e sigilosa. Segundo Luzia, quem entrar em contato “irá encontrar pessoas dispostas a oferecer escuta acolhedora, sem julgamentos ou direcionamentos que lhe tirem o direito e a independência de fazer suas próprias escolhas”. Quem preferir escrever, pode utilizar atendimento via e-mail ou chat.
Para quem quiser se tornar voluntário, a inscrição pode ser feita através do site do CVV, que fará uma entrevista com o candidato e um treinamento de alguns dias. Após isso, o candidato escolherá o turno e trabalhará on-line ou presencialmente na sede da região onde mora, participando de eventos e reuniões mensais. Durante o seu aprendizado como voluntária, Luzia disse ter tirado uma grande lição: “Aprendi a escutar e só falar quando realmente tenho algo útil e/ou acolhedor a dizer. Porque cada um sabe o que é melhor para si e tem em si mesmo a saída para os próprios problemas”.
Agir salva vidas
Em 2020, 12.895 pessoas cometeram suicídio no Brasil, de acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021. Houve um aumento de 0,4% em relação ao ano anterior, quando foram registradas 12.745 ocorrências.
O assunto é delicado, mas não pode ser ignorado. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019, entre jovens de 15 a 29 anos, o suicídio foi a quarta maior causa de morte no mundo, perdendo para acidentes no trânsito, tuberculose, e violência interpessoal, o que levou a OMS a produzir orientações para ajudar os países a prevenirem o suicídio.
As causas variam e os dados são alarmantes: o Plano Nacional de Saúde divulgado em 2020 aponta que um em cada dez brasileiros com mais de 18 anos já recebeu diagnóstico de depressão. Um estudo da Unicamp revela que 17% dos brasileiros, em algum momento, pensaram em tirar a própria vida. Destes, 4,8% chegaram a elaborar um plano para isso.
O Setembro Amarelo possibilita a visibilidade de um assunto que por muito tempo foi um tabu – e ainda é – e permitiu o acesso a recursos de prevenção.
No mundo, cerca de 800 mil pessoas tiram a própria vida por ano. No Brasil, são 32 pessoas por dia. A educação é prevenção. Discutir prevenção hoje significa salvar vidas amanhã. É necessário falar sobre o assunto com responsabilidade e ficar atento aos sinais que indicam necessidade de ajuda: isolamento, mudanças repentinas de comportamento, perda de interesse em atividades de que gostava, falar muito sobre sumir, alterações no apetite e no sono. Não duvide de quem ameaça cometer suicídio, não arrisque. Agir salva vidas. Encaminhe a pessoa a um serviço de saúde, a um médico psiquiatra e vá junto, marque terapia, não deixe a pessoa sozinha. É importante que ela saiba que você está do lado dela.
O educador Paulo Freire, cujo centenário é celebrado em setembro deste ano, dizia: “É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo…”
Se você precisa de ajuda ou conhece alguém que precise, não hesite e entre em contato:
Serviços de saúde
CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, postos e Centros de Saúde).
Centro de Valorização da Vida – CVV
Ligue 188 ou acesse o chat on-line.
Serviços de emergência
SAMU 192, UPA, Pronto Socorro e Hospitais.