Foto de Capa: Renata Pfisterer
Por Lucas Furtado Isaias
No Dia da Mentira (01/04), a FACHA promoveu um evento sobre epidemia da desinformação com a pesquisadora em temas relacionados a Mídia e Saúde, professora do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação na Saúde (PPGICS) do ICICT/Fiocruz e jornalista, Pâmela Pinto. Na palestra, ela abordou o impacto da desinformação em nossa sociedade e analisou as reações de governos e da imprensa na luta contra as fake news. O evento teve a mediação da coordenadora do curso de Jornalismo da FACHA e editora-chefe do Em Todo Lugar, Ivana Gouveia.
A pesquisadora começou falando sobre o que é desinformação e a evolução da comunicação desde o primeiro debate presencial na TV estadunidense em 1960 até a era da sociedade de plataformas, onde consumimos informação de maneira instantânea. A desinformação é feita de maneira intencional para prejudicar o alvo e mexer com as emoções do leitor.

Pamela explicou como é feito o processo de criação de uma informação falsa usando como base apurações de estudiosos da comunicação. De acordo com a jornalista, a criação é feita de maneira apócrifa, sem a possibilidade de identificar o seu autor e são levadas à internet para trazer credibilidade. As mensagens são publicadas em veículos com posicionamento radicalmente partidário e crítico às mídias tradicionais. Com esta base, a desinformação é distribuída de maneira orgânica ou através de instrumentos mecânicos, como robôs, por exemplo.
O papel para o combate da desinformação foi outro tópico da palestra. A pesquisadora falou sobre o papel do ensino do combate à desinformação na educação citando estudantes de comunicação e alunos da educação básica como focos centrais neste processo: “Vocês da comunicação são o público privilegiado deste processo porque vão sair para este mercado e serão atores deste processo e na educação básica para estabelecer e fortalecer a visão crítica. Muitos jovens tiveram essa relação de credibilidade criada na internet, então a crítica e a dúvida podem não ocorrer. Ter consciência deste fenômeno, entender e pensar criticamente é fundamental”, comentou.
Nas considerações finais, Pâmela lembrou que a comunicação é um direito e isso é inegociável. Ela defendeu a regulamentação dos meios de comunicação nacionais e estrangeiros, articulação multissetorial no combate à desinformação no contexto neoliberal, políticas de proteção dos dados, respeito à privacidade e inclusão digital, além de transparência na relação com os cidadãos e respeito aos valores democráticos.
Na sessão de perguntas, a jornalista comentou sobre leis de regulamentação da internet e o impacto delas na sociedade. Ela lembrou da necessidade dos poderes Executivo, Judiciário e Legislativo se unirem sobre o tema. Após a criação da Lei Azeredo com medidas que, segundo a pesquisadora, eram danosas à democracia, os parlamentares passaram a ouvir mais as entidades ligadas à segurança digital. As discussões renderam o Marco Civil da Internet em 2014, considerado um dos pioneiros sobre o tema no mundo. Entretanto, os ventos da política mudaram e políticos com discursos de ódio em suas campanhas foram eleitos mesmo com toda a legislação. De acordo com Pâmela, para eles não interessa mexer na legislação, pois isso os afetaria diretamente.
O segmento de questões do público contou com a participação da plateia e do público que assistiu o evento ao vivo com perguntas lidas pelo colaborador e editor do Em Todo Lugar, Bruno Laude. Esta é a segunda vez que um evento da FACHA tem o modelo híbrido de transmissão e participação. A novidade começou no I Seminário de Gestão e Produção de Carnaval realizado em 19 de fevereiro.
Após o evento, Pâmela conversou com o Em Todo Lugar e falou sobre o papel do judiciário no combate à desinformação que entrou em debate após a suspensão por mais de 24 horas do Telegram no país. A pesquisadora lembrou que o assunto é discutido desde 2016 por conta do cenário eleitoral e que tentar limitar a liberdade de expressão é sempre polêmico. Ela apontou caminhos para a discussão: “A gente também deve pensar no interesse das diversas instâncias em uma regulação conjunta e não apenas penalizar um veículo. Acho que existem outras alternativas para você modificar enquanto Estado, este ator privado que atua no país. Mas também pensar em soluções junto com outras instâncias e de legislações que valorizem a liberdade de expressão e que também tem uma atenção nos seus limites, sobretudo na democracia”.
A jornalista falou sobre o papel da palestra na discussão sobre a desinformação no meio acadêmico: “Eu achei fundamental a discussão. A gente está pensando juntos em uma instituição que forma profissionais de comunicação e sabemos que a desinformação é um fenômeno que contempla grandes segmentos da sociedade. Eu acho que é fundamental que se discuta, problematize e colocar essa semente do senso crítico (nos estudantes)”, analisou.
Ivana Gouveia também fez sua avaliação e afirmou estar satisfeita com o sucesso do evento: “Eu acho que foi muito positivo. A gente teve um auditório cheio, perguntas muito interessantes e uma interação muito bem feita. A transmissão no Youtube teve público, perguntas vindas dos espectadores e funcionou super bem. Foi um sucesso total”, comentou.
Comunicação do Ministério da Saúde em Brasil e Portugal
Pâmela também falou sobre o seu projeto de pós-doutorado realizado em Portugal sobre a comunicação dos perfis do Ministério da Saúde no Brasil e em Portugal. O trabalho também foi o tema de uma das edições do FACHA Lives em maio de 2020. Ela comentou que o Brasil foi pioneiro, em 2013, na atuação do Ministério da Saúde no Instagram com dicas de saúde, vacinação, qualidade de vida e prevenção de doenças. Durante a pandemia, o perfil passou a trazer recomendações de prevenção ao coronavírus, mas com as trocas de ministros na pasta, o perfil se tornou mais voltado às ações do governo na área, o que causou um desinteresse do público.
Em Portugal, antes da pandemia, a conta do Ministério da Saúde local tinha muito texto e poucas fotos, mas a pandemia transformou a forma de atuação: “Eles começaram a postar nas ferramentas atuais, com mais dinâmica de conteúdo e passaram a defender a ciência e a seguir a Organização Mundial da Saúde, então criaram uma base gigante de seguidores. E no Brasil teve um ápice de seguidores no começo da pandemia, mas a base começou a enxugar porque não acreditavam no que viam”, comentou.
Você pode assistir o evento aqui: