Foto de Capa: Lucas Furtado Isaias
Por Lucas Furtado Isaias
Foto de Capa: Lucas Furtado Isaias
A equidade de gênero é uma pauta que cada vez mais está em discussão na sociedade. A luta por igualdade de oportunidades vem crescendo em todo o mundo, mas ainda há muito a avançar. No Brasil, apenas 7 das 250 maiores empresas têm mulheres na presidência. As mulheres negras estão ocupando menos de 1% dos cargos de CEOs. Em empresas públicas, apenas 5% das mulheres estão nos cargos máximos.
O Palestras FACHA abordou o tema com uma das maiores referências em liderança feminina, no Brasil, a mentora e escritora Lucelena Ferreira. Em 2021, ela lançou o livro Mulheres na Liderança e entrevistou mulheres que estão em cargos de liderança de grandes empresas. O evento realizado em 1° de junho foi mediado, remotamente, pela coordenadora do curso de Publicidade e Propaganda, Renata Nogueira, e com apoio do coordenador da graduação de Relações Públicas, Rafael Melo, no Auditório Barbosa Lima Sobrinho.
Lucelena começou o evento trazendo dados sobre a desigualdade de gênero no Brasil e falando sobre como o patriarcado age para perpetuar o predomínio dos homens no poder, das mais diversas maneiras e lugares, como na publicidade e na sociedade. Pesquisa publicada em 2019, pelo Meio & Mensagem, feita com as 30 maiores agências de publicidade, revela que apenas uma mulher comandava a área de criação de agência de publicidade, 14% das mulheres estavam em áreas de liderança e 26% integravam a criação como vice-presidente, diretoras de criação, redatoras ou diretoras de arte.
A pesquisadora explicou as barreiras de gênero e falou sobre os vieses inconscientes de gênero que são originários da educação, das experiências vividas, na mídia e na religião e impactam percepções e criam julgamentos inconscientes e instantâneos. Ela explicou que o gerenciamento de percepções, a conscientização para evitar os julgamentos e a criação da cultura da inclusão é importante para superar este obstáculo.
Outra pesquisa mostrada na apresentação foi da empresa de consultoria empresarial McKinsey que mostra que empresas com, ao menos, uma mulher em cargos de comando executivo têm 47% a mais de margem de lucro. O estudo foi feito com 345 empresas listadas em bolsas de valores de 6 países da América Latina, incluindo a brasileira B3. Com o resultado, a consultoria fez um programa interno para aumentar a participação feminina para 40% e dobrar o número de sócias em dois anos.
O duplo padrão de julgamento é outro obstáculo a ser superado, quando atitudes normalmente elogiadas para homens são criticadas quando feitas pelas mulheres. Ela também citou a violência que as mulheres sofrem cotidianamente como o assédio sexual e moral, manterrupting (quando homens constantemente interrompem a fala das mulheres) e mainsplanning (quando homens explicam algo que as mulheres já têm conhecimento).
Outro desafio a ser superado é a dupla jornada de trabalho que as mulheres têm, já que maioria dos homens ainda não dividem de maneira igualitária as tarefas domésticas, além disso ela fala que os homens acabam tendo um privilégio: o tempo. Segundo as pesquisadoras, os homens usam este privilégio para explorar as mulheres nas tarefas domésticas, já que não há essa divisão. Um levantamento, apresentado na palestra, mostra que os maridos causam 30 horas a mais por mês de atividades domésticas às esposas. Ela mencionou um exemplo do que pode ser feito para combater esse obstáculo: demonstrações de que as responsabilidades devem ser compartilhadas. Na Suécia, a licença é parental, ou seja, tanto homem quanto a mulher tem o mesmo período para cuidar da criança e poder dividir as tarefas. No Brasil, a licença-maternidade é de 120 dias e a paternidade de cinco dias, mas podendo ser ampliada por convenção coletiva ou acordo com o empregador.
Ela deu outra dica para combater os pequenos comportamentos violentos, como a interrupção constante que mulheres sofrem dos homens, expondo de maneira clara a postura misógina. “Você está me tratando assim apenas por eu ser mulher?”, foi a pergunta mencionada por Lucelena. Ela citou duas personalidades que adotam está tática: Kamala Harris, que pediu para que Mike Pence parasse de a interromper e deixasse concluir o pensamento no debate entre os candidatos a vice-presidente em 2020 nos Estados Unidos, e a empresária Luzia Helena Trajano. Para casos de assédio, ela reforçou a necessidade de denunciar os casos.

Você pode assistir o evento na íntegra aqui: