Foto de Capa: Thiago Maia
Por Sabrina Freitas
No dia 8 de agosto, a Facha promoveu mais uma palestra com tema atual e relevante a ser discutido: “A Guerra da Ucrânia e os desafios da cobertura jornalística.’’ A conversa teve como convidado o Mestre em Relações Internacionais Nelson Franco Jobim e foi liderada pelo jornalista Bruno Filippo. A dupla coordena o curso de MBA em Jornalismo Internacional da instituição.
O bate-papo iniciou com a pergunta chave acerca do tema feita pelo professor: qual o maior desafio ao participar de uma cobertura de guerra? O mestre prontamente citou o primeiro e mais importante desafio, as operações militares no campo de combate, que é o ponto de maior perigo para não só os profissionais da área, mas também para os nativos.
A dificuldade em conferir a veracidade dos fatos também é um desafio para os profissionais, principalmente ao se falar sobre objetivos políticos. O mestre afirmou que o jornalista não vai à guerra para fazer propaganda de um dos lados, e sim para relatar o mais próximo possível da realidade.

Para contextualizar, Nelson explicou um pouco sobre o início da guerra: ‘’A Rússia apresentou como objetivos políticos de desmilitarizar a Ucrânia, ou seja, que a Ucrânia não entre para a OTAN, e desnazificá-la. Seria um dos argumentos da Rússia, que o regime ucraniano tem apoio de forças nazistas. O presidente [Volodymyr Zelensky] e o primeiro-ministro [Denys Shamgal] são judeus, então é meio estranho dizer que tem dois judeus no regime nazista… Putin disse que queria proteger as populações etnicamente russas e as que falam russo no leste da Ucrânia… e uma das justificativas da guerra é que teria havido desde 2014 um massacre desses russos étnicos no leste da Ucrânia’’.
O mestre em Relações Internacionais acredita que, se esses acontecimentos realmente tivessem acontecido, a guerra teria se iniciado antes e também diz não acreditar na versão russa para justificar a guerra.
Ele afirmou que a Rússia não atingiu até agora nenhum dos seus objetivos políticos, sendo o primeiro de derrubar, prender ou matar o governo ucraniano, o presidente Zelensky. Afirmou também que Putin não acreditava em guerra, e que o regime ucraniano cairia facilmente. O que não aconteceu, já que a guerra completará 6 meses no dia 24 de agosto de 2022. O nacionalismo ucraniano crescente também foi pauta, já que, segundo ele, “o outro objetivo da Rússia era enfraquecer a aliança militar ocidental e a OTAN’’.
Voltando à pergunta inicial da conversa, Nelson citou como terceiro ponto de desafio na cobertura de uma guerra a tragédia humanitária e contou a dificuldade de verificar a veracidade de informações básicas, como número de mortos, por exemplo. A questão econômica dos países envolvidos não poderia deixar de ser comentado como quarto ponto, já que além de afetá-los, prejudica também países de todo o mundo, podendo ver o impacto até mesmo no Brasil.

Ao ser questionado sobre a cobertura dessas quatro áreas, o mestre disse que “o maior problema na cobertura brasileira é a falta de gente na Ucrânia”, muito por conta do medo das emissoras locais de seus jornalistas correrem risco de vida. O caso de Tim Lopes foi citado como exemplo, jornalista da TV Globo morto em uma favela do Rio de janeiro enquanto fazia uma reportagem sobre abuso sexual de menores em bailes funks, há 20.
O professor Bruno ainda abordou Nelson sobre a importância do conhecimento das teorias das relações internacionais para uma cobertura de guerra, como o caso da Ucrânia. “Te dá uma visão mais ampla do que é a guerra, da história das guerras, do comportamento, causas, origens, como elas funcionam, tentam estabelecer pontos em comum para tentar criar uma teoria’’, afirmou Jobim.
O tema Fake News não ficou de fora, e foi pontuado o valor da verdade e a dificuldade trazida pela desinformação para a cultura e sociedade.
Para finalizar a live, foram abertas as perguntas do chat e a questão de como retratar os fatos sem cair em uma propaganda de guerra foi levantada. Nelson enfatizou a necessidade de checagem e atribuição da informação à fonte de onde foi retirada.
Outra pergunta do chat, foi sobre a existência da cobertura presencial brasileira na guerra, na qual não é constado nenhum profissional atuando, já que durante o combate, quase trinta profissionais da comunicação foram mortos nesses 6 meses de conflito direto. Isso se dá pelas denúncias de crime de guerra e principalmente pela falta de preocupação na proteção dos jornalistas pelos russos, de acordo com o especialista.
Você pode assistir o evento aqui: