Por Letícia Brazão e Manuela Claro
Créditos: eairolou.com.br
Cada vez mais populares no Brasil e no mundo, sites e aplicativos de lojas com modelo de produção fast fashion apostam no uso do photoshop para vender seus produtos. O recurso tem sido utilizado, de forma exagerada, tanto em suas mercadorias quanto nas próprias modelos. A grande problemática desta prática ocorre quando a cliente experimenta a peça e ela não veste como o prometido nas fotos disponibilizadas, gerando grande insatisfação.
A Shein se autointitula como uma varejista eletrônica global de moda e tem sistema fast fashion de confecção. Suas fotos têm ganhado destaque negativo nas redes por conta da edição exagerada no corpo das modelos que exibem as roupas. A empresa já tinha envolvimento com outras polêmicas, como mão de obra infantil e trabalho análogo à escravidão.
Modelos, socialites e influencers contribuem com a farsa do “corpo perfeito”. A empresária norte-americana Kylie Jenner, ícone de beleza da geração z, faz parte da família Kardashian e foi flagrada no Instagram ao abusar do uso de photoshop em foto de biquíni. Os internautas logo perceberam e a bilionária excluiu a publicação da rede social. Suas irmãs Kendall Jenner, Kim Kardashian e Khloe Kardashian também já foram acusadas de modificar seus corpos com a plataforma.
Em contrapartida, a modelo plus size Raquel Santos tem apenas 19 anos e já inspira milhares de meninas e mulheres em suas redes sociais. Nascida e criada em Niterói, a influencer se mudou recentemente para a capital carioca e mergulhou de cabeça no mundo da moda. Ela falou sobre o início da sua carreira, os desafios internos que enfrentou, as lições aprendidas durante esse processo e seus planos para o futuro.

Em março de 2022, Kel foi selecionada pela marca e-commerce Makai para participar de um shooting (sessão de fotos). “Foi muito significativo para mim”, relatou a modelo que desde pequena tem problemas de autoestima. A jovem ainda contou que nunca gostou de ser fotografada, mas que, depois da experiência, descobriu uma verdadeira paixão por estar atrás das câmeras.
Embora bons frutos tenham sido colhidos desta primeira experiência, situações desagradáveis também aconteceram. Marcas que procuraram Raquel para fechar parcerias às vezes não se atentaram ao manequim dela e, quando a roupa chegou até sua casa, não coube. “É um pouco frustrante porque quando uma marca entra em contato com você sabendo que se trata de uma modelo plus size, a gente espera que tenha uma grade de tamanhos que te atenda. Falar para o contratante que não vai dar para seguir com a parceria porque a peça não entrou é uma situação constrangedora”, lamentou.
A influência que os corpos considerados perfeitos tinham sobre Kel iam muito além do que as revistas, sites e fotos do Instagram mostravam. Antes de entrar para a indústria da moda, ela deixava de fazer atividades que gostava quando percebeu que de fato havia uma exclusão de corpos por parte da sociedade. Coisas simples como uma ida à praia com as amigas se tornou uma grande dificuldade. O medo de ser comparada com o resto das meninas era grande.
A volta da estética dos anos 2000 trouxe à tona a magreza profunda como tendência. Diante deste cenário, a influencer conta que se compromete a verificar se as marcas interessadas em fechar parcerias são engajadas com a diversidade de corpos. “Até porque se o objetivo for propagar a magreza não tem nada a ver comigo. Não é esse tipo de imagem que eu quero passar para quem me segue e me acompanha, não faz sentido para mim”, pontuou Raquel.
A modelo pretende seguir carreira, mas também tem outros planos. Seu grande sonho é cursar medicina. Por enquanto não quer deixar de lado o ofício que tem sido tão importante em questões pessoais como o desenvolvimento de sua autoaceitação e autoestima. Além disso, ela conta que modelar lhe concedeu o privilégio de conhecer pessoas incríveis que tem sido fundamentais para este processo.
O professor de Edição de Fotografia Marden Nascimento, que leciona na FACHA, defende a importância de estabelecer normas éticas para a manipulação de imagens e como é indispensável que as pessoas sejam educadas para desenvolverem um olhar crítico. O fotógrafo faz um alerta: “a evolução das técnicas de manipulação podem representar uma ameaça à sociedade, dificultando a distinção entre o que é verdade e o que é mentira, contribuindo para a desinformação política e afetando decisões de consumo. Portanto, é fundamental ter em mente os princípios éticos e morais na hora de editar e divulgar imagens.”

Marden chama atenção para as expectativas irreais em relação ao corpo perfeito: “quando as pessoas são expostas constantemente a esse tipo de imagem, elas podem começar a desenvolver uma percepção distorcida da realidade, o que pode gerar problemas de autoestima, ansiedade e, até mesmo, depressão.”
O professor finaliza com dicas que ajudam a descobrir se uma imagem foi ou não manipulada, entre eles estão:
- verificar a fonte da imagem
- observar se ela tem uma resolução uniforme em todas as suas partes
- conferir se a iluminação e sombras estão consistentes
- observar as proporções
- procurar por duplicação de padrões
- utilizar ferramentas de análises de imagens como o FotoForensics
Matéria muito boa, parabéns!!! 👏🏻👏🏻👏🏻
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Uma excelência de texto!!!!! Informações relevantes com uma escrita impecável. Parabéns às jornalistas envolvidas com a certeza de um futuro brilhante!!!!!
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Matéria está incrível! Maravilhosa!
Parabéns! Sucesso!
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Fast fashion ta acabando com a moda😪😪
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Que matéria ótima, tema super importante! Linda a modelo Kekel! 🥰
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