
Por Renato Galardo
Rihanna, desde seu lançamento no mercado fonográfico em 2005, estabeleceu-se como uma gigante dentro da indústria e, ano após ano, mostra sua competência na gerência de seu nome e de seus trabalhos, compondo diversas listas de atos com os maiores números de gravações vendidas. Após entregar álbuns que muitas vezes não ganhavam nem ao mesmo um ano inteiro de hiato entre um e outro, a cantora, mais recentemente, tem estabelecido um tempo maior entre a produção de seus projetos musicais e, com isso, enveredado sua atenção para a exploração de novos terrenos. E é nesse contexto que nascem as linhas de produtos de beleza e cuidado com a pele: Fenty Beauty e Fenty Skin, respectivamente; estendendo seu nome também à indústria têxtil, com a marca de roupas Fenty e a de moda íntima, Savage X Fenty.
Esta última é notória, desde seu lançamento em 2018, pela sua preocupação em ser inclusiva. Desde seus preços aos diversos tamanhos e tonalidades de nude que compõem o catálogo, a Savage, que inicialmente atendia apenas o público feminino, teve como objetivo satisfazer todos os tamanhos e cores de corpos: magros, gordos, negros, brancos, amarelos, e suas combinações. Rihanna não poupou capital e logística para que a pluralidade dos corpos e suas díspares demandas fossem um dos principais focos de sua linha. Além de designar uma positiva evolução, do ponto de vista ético e social, é uma atitude mais que coerente, tendo em vista que a marca teve exportação disponibilizada para mais de 200 países, abrangendo as mais diversas sociedades e etnias.
Mostrando-se visionária, a empresária não se ateve apenas aos meios tradicionais na promoção de Savage X Fenty, e fechou um contrato com a Amazon Prime Video para lançar na plataforma de streaming o desfile de suas criações, cujo primeiro volume foi disponibilizado em 20 de Setembro de 2019. Mantendo a mesma consciência que teve na idealização e confecção das peças, Rihanna convidou um número significativo de modelos dos mais diversos fenótipos, famosos e anônimos, para o primeiro volume de seu show. A inclusão se estendeu até mesmo à configuração musical do desfile, que contou com sons e instrumentais de diversos países, corroborando mais uma vez seu comprometimento com a multiculturalidade e a representatividade.

A partir do sucesso de seu primeiro desfile, foi elaborado o “Savave X Fenty: vol. 2” e lançado em 2 de Outubro deste ano. Contando agora com peças masculinas, o alcance da linha íntima se tornou ainda maior, o que propiciou também o dobro de oportunidades de representação nos palcos do desfile. A peça fashionista teve a participação de modelos, artistas e outras personalidades em voga, como Bella Hadid, Lizzo (muito conhecida por promover empoderamento sobre o próprio corpo), Big Sean, entre outros. Parte do entretenimento musical foi entregue nas mãos de Miguel, Roddy Rich, DJ Mustard, Travis Scott e Rosalía.

A configuração inclusiva proposta é percebida ainda mais claramente quando notamos membros da comunidade LGBT nas passarelas. Um exemplo é a atriz e modelo transsexual Indya Moore, que ficou conhecida nos últimos anos pelo seu protagonismo na série Pose. A apresentação também contou com as drag queens Jaida Hall, Shea Coulee e Gigi Goode, famosas pelas suas participações no reality show estadunidense RuPaul’s Drag Race.

Com o percebido declínio de produções como o Victoria’s Secret Fashion Show, que foi oficialmente cancelado pela marca no ano passado, e a ascensão de outras, como a comandada por Rihanna, podemos indicar uma necessitada reconfiguração cultural, que não se atém mais à cultuação exclusiva de corpos magros e majoritariamente brancos. A sociedade agora passa a exigir um maior reflexo de si mesma nas composições publicitárias e, concomitantemente, nos produtos que consome. As pessoas passam a querer investir em empresas pelas quais se veem atendidas e representadas, e são nesses termos que Robyn Rihanna Fenty ascende além do mercado no qual ficou conhecida, e estabelece-se como uma magnata promotora de novos paradigmas, e que não lucra com a promoção de uma beleza utópica e inalcançável, mas sim a partir de um engajamento democrático e sincero de sua marca com seu público-alvo.