Multiplicidade espelhada para todos

Por Fernanda Martins

O Museu Nacional do Rio de Janeiro, patrimônio da Humanidade e um dos maiores acervos de memória brasileira, recebeu em suas fachadas a exibição da 16ª edição do evento Festival Multiplicidade. A festividade foi completamente digital e gratuita e suas apresentações foram feitas pelo Youtube do Festival Multiplicidade e do Oi Futuro. 

Teaser do Festival

Inspirado em um texto do livro “Perto do Coração Selvagem” de Clarice Lispector, essa edição do evento levou o nome “O Festival Multiplicidade 20_21 – O que eu quero ainda não tem nome”. Aproveitando o centenário da escritora, celebrado em 2020 com a mensagem “Liberdade é pouco. O que eu quero ainda não tem nome”, que foi o título do evento. 

Museu Nacional com a projeção “O que eu quero ainda não tem nome” (Foto: Divulgação Multiplicidade)

De 21 até 24 de janeiro, o festival recebeu a participação de diversas atrações nacionais e internacionais. Dentre eles Bianca Turner, Génesis Victoria, Ana Frango Elétrico, Carlos do Complexo, L_cio, entre outros. 

A estreia, no dia 21, contou com um show especial de Tom Zé e com a exibição dos trabalhos mais recentes do artista japonês Daito Manabe expostos em um vídeo-mapping no Museu Nacional, que foi incendiado em 2018.  

Show de Tom Zé na projeção (Foto: Blog Multiplicidade)

O dia 22 contou com a exibição de Carlos do Complexo, que declarou que essa foi uma apresentação muito especial, pois ele fez poucas durante a pandemia. Para o artista, a parte de montar a tracklist o deixa apreensivo pois é um quebra-cabeças interessante porque o deixa ansioso para saber o que as pessoas vão sentir no momento. 

O diretor de cinema Renato Vallone também apresentou o seu projeto no mesmo dia. Para ele foi uma surpresa receber o convite de seus amigos de longa data, Batman Zavareze e Nado Leal, para participar do festival, quando estava no Acre para visitar o seu filho.  

Durante a sua viagem, ele produziu,  com a ajuda do ator Cléber Barros e do assistente Yuri Montezuma, um curta com uma alta dimensão política contra o governo atual, mas que acabou não cabendo no festival. Então, durante três dias, Renato fez um trabalho de montagem no qual remixou os materiais do seu arquivo, imagens de filmes de diretores como Glauber Rocha e Rui Guerra, áudios de rádios falando sobre o Covid-19 e sobre como ele afeta as minorias, formando um trabalho de 5 minutos. Todas as imagens apresentadas já haviam sido utilizadas anteriormente e elas receberam texturas e reprocessamentos para serem apresentadas novamente. 

A apresentação do trabalho de Renato Vallone começa em 1:11:33

No dia 23 teve a presença de treze artistas nacionais e internacionais convidados, que apresentaram repertórios sobre multiplicidade. Foram exibições de cinema do VJing- manipulação e criação de imagens em tempo real por meio de equipamentos tecnológicos- da música, da arte digital, das artes visuais, da vídeo-arte, da performance e do xamanismo.  

Entre esses artistas, diretamente do Chile, Génesis Victoria, se sentiu muito feliz em participar como artista não-binário, trazendo os seus vídeos que exploram a identidade queer-não binário, expondo algo pessoal, atingindo uma certa vulnerabilidade ao se expor, ainda mais digitalmente. O fato mais importante foi se conectar com uma sensibilidade comum levando a sua visão ao viver em Berlim, na América Latina e em todo o mundo, formando uma nova visão da sua arte com toda a experiência de vida.

Para Bianca Turner, receber o convite para participar do evento foi uma enorme alegria. Primeiro porque para artistas autônomos receber convite de festivais para mostrar o que estão produzindo durante a pandemia é um privilégio e segundo porque o festival tem como tema uma frase de Clarice Lispector, de quem ela é praticamente uma devota.  

Bianca Turner é artista multimídia e possui diversas exposições e apresentações dentro e fora do Brasil (Foto: AVXlab.studio)

Mesmo tendo participado de eventos como o Zona Mundi de Salvador, de um festival do Centro Cultural de São Paulo pelo mês LGBTQ+ e do Pink Umbrella, uma residência artística virtual, bateu o frio na barriga na hora da apresentação de Bianca Turner. Mesmo tendo sido gravado, ainda resta a sensação de estreia. Para ela, a maior diferença da apresentação ao vivo para a virtual é que não existe uma relação corpo a corpo, tornando a relação mais fria, já que ela passa a ser gravada. 

Para L_cio, a maior diferença foi na tecnologia, na transmissão e na falta de público. Mas ver sua arte sendo compartilhada mundialmente foi algo extremamente interessante, pelo alcance proporcionado pela internet e pensa que o streming será incorporado em todos os tipos de eventos após a pandemia. 

O encerramento no dia 24 contou com a presença única do japonês Ryoji Ikeda, considerado um dos maiores nomes do mundo na arte digital, que apresentou o premiado Data-verse 1, uma instalação de sucesso exposta na última Bienal de Veneza em 2019. 

O último dia do evento focou no recomeço e em nossas essências, incorporando futuros, resistência, sobrevivência e tudo que ainda não tem nome. Sendo uma grande fonte de esperança, renovação e cultura para os artistas e para os telespectadores. 

Foto: Blog Multiplicidade

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