Foto de Capa: Rafael Cruz
Por Sandro Maia
Afonso Celso Garcia Reis, mais conhecido como Afonsinho (São Paulo, 3 de setembro de 1947), é um médico e ex-jogador de futebol brasileiro, atualmente com 73 anos de idade. Um dos poucos jogadores que defenderam os 4 grandes clubes do Rio de Janeiro. Ele jogava como meia-armador. Começou sua carreira em 1962 no XV de Jaú, onde foi revelado, e ficou por lá até 1964, quando foi contratado pelo Botafogo carioca.
Estreou no time de General Severiano em 1965, com apenas 17 anos de idade, substituindo o volante Elton para formar o célebre meio de campo com Gerson. Viveu o seu melhor momento na carreira. Conquistou vários títulos, como o Torneio Rio-São Paulo em 1966, o bicampeonato da Taça Guanabara, em 1967 e 1968, o bicampeonato carioca de 1967 e 1968 e o campeonato brasileiro de 1968 (A Taça Brasil), competição na qual também foi capitão.

Jogou ainda no Olaria em 1970 e 1971, antes das suas passagens nos 4 grandes do Rio de Janeiro: Vasco da Gama em 1971, Flamengo em 1972 e 1973, Fluminense em 1981 e 1982. Jogou também no Santos em 1972, no América mineiro em 1975, retornou ao XV de Jaú em 1977 e jogou no Madureira em 1980.
Depois de sua passagem pelo Olaria, para o qual foi emprestado em julho de 1970, já com o nome consolidado no futebol brasileiro, voltou ao Botafogo com cabelos e barba grandes. Isso foi motivo de revolta, causando um grande transtorno para sua vida. Foi perseguido e até impedido de treinar, pois o visual era tido como agressivo e rebelde pelos conservadores da época, e o Botafogo sofria fortes interferências externas da ditadura. A diretoria do clube carioca proibiu Afonsinho de treinar, enquanto não tirasse a barba e os cabelos compridos, diziam que o futebol não aceitava essa aparência; eles falavam que ele parecia com Che Guevara, um subversivo, um hippie ou um roqueiro.

Ficou 8 meses sem jogar. Afonsinho resolveu então deixar o clube e pediu a liberação de seu “passe”, mas os cartolas do Botafogo negaram, e o jogador recorreu ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva, praticamente sozinho, sem o apoio dos outros jogadores.
Afonsinho entrou para a história do futebol brasileiro, ao ser o primeiro jogador do Brasil a conseguir o passe livre. Na época, o clube poderia ser considerado “dono” de um jogador. Ao estabelecer um contrato de trabalho, o atleta ficava preso à instituição, mesmo após o término do tempo do vínculo. Somente teria o passe liberado com o pagamento de uma multa rescisória ou um acordo com outro time. Caso contrário, ele ficaria vinculado a equipe.

Era um sistema muito rígido, em que o jogador deveria aceitar a situação e não questionar. Tudo a ver com o período pelo qual passava o Brasil, com a ditadura militar governando o país. Afonso Celso Garcia Reis descobriu essa dura realidade ao enfrentar a antiquada estrutura do futebol brasileiro. Se hoje os jogadores são livres para negociar com qualquer clube, isso se deve a Afonsinho. O confronto com o Botafogo na Justiça, em março de 1971, o premiou com o passe livre e representou uma revolução na legislação esportiva. A vitória nos tribunais serviu como uma brecha para que outros atletas seguissem o mesmo caminho. Mas foi só em 1998, quando Pelé era secretário do esporte, que todos os jogadores passaram a ser donos do próprio destino.
Formado em medicina na Faculdade de Ciências Médicas da Uerj, profissão que exerceu depois de encerrar a carreira, trabalhando no Pinel por 30 anos, até se aposentar. Afonsinho era um jogador que não gostava só de futebol, era interessado em outros assuntos. Ele sabia que o mundo não se resumia apenas ao futebol, e sua postura liberal e progressista sempre incomodou, mas para enfrentar isso tudo, ele era politizado, combativo, articulado, inteligente.
Liderou vários movimentos, com suas ideias, como: a regulamentação da profissão de jogador de futebol, junto à criação de um sindicato forte que pudesse lutar pelos direitos da classe. Não aceitava, por exemplo, os frequentes atrasos nos salários e nos bichos (prêmios por vitórias). Afonsinho sempre foi um jogador polêmico e não tinha medo de enfrentar os cartolas, até mesmo na Justiça. Essa postura acabou atrapalhando a sua carreira na seleção brasileira e, infelizmente, ele não chegou a atuar defendendo o seu país. As portas se trancaram. Poderia ter disputados as copas de 1974 e 1978, mas com os ditadores no poder, não teve chance. Sua história deu origem ao documentário Passe Livre de 1974, e a uma música em sua homenagem, composta por Gilberto Gil, em 1973: meio de campo.
