Foto de capa: Rafael Cruz
Por Matheus Guimarães
Se superação tivesse nome e sobrenome, provavelmente seria Aída dos Santos. Nascida em primeiro de março de 1937 e vinda de uma família humilde do Morro do Arroz, em Niterói, Aída teve sua trajetória esportiva iniciada no vôlei, mas uma amiga a levou para praticar atletismo. No início, sua família nunca quis que ela fosse atleta e não apoiava.

Foi descoberta pelo Fluminense e já na primeira competição em que participou, ganhou. Seu pai, que era a principal pessoa a não aprovar suas práticas esportivas, a agrediu e lhe falou que ‘medalha não enche barriga’. Ele defendia que não se ganhava nada com os esportes e pobre tinha que trabalhar. Aída foi atleta do Vasco, contudo não ia aos treinos porque o dinheiro do transporte era usado para comprar comida para a família. Sua passagem pelo Vasco se encerrou depois do clube acabar com os esportes olímpicos e foi para o Botafogo, seu time do coração.
Essa questão familiar fez com que ela fizesse o inverso com seus três filhos Rogério, Patrícia e Valeska, que sempre receberam todo tipo de apoio por parte da mãe para praticarem esportes. Inclusive Valeskinha, como é conhecida, foi campeã olímpica de vôlei nos Jogos de Pequim em 2008.
A falta de incentivo e recursos sempre estiveram presentes em sua vida, porém nunca foram empecilhos para ter uma carreira vitoriosa. A chave para o sucesso foi seu próprio esforço e dedicação nos treinos, que fazia sozinha muitas vezes observando suas rivais.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_bc8228b6673f488aa253bbcb03c80ec5/internal_photos/bs/2021/o/L/zOA8aYSJqGLPM7pTG6OA/download.jpeg)
Diante de todas as dificuldades, Aída dos Santos eternizou seu nome na história olímpica brasileira, uma vez que alcançou o quarto lugar no salto em altura nos Jogos de Tóquio de 1964. Esteve poucos milímetros atrás da russa Taisia Chenchik, da australiana Michele Brown e da romena Iolanda Balaş. Sua marca de 1,74m foi a melhor entre as brasileiras por mais de três décadas.
Nesses mesmos Jogos, treinou e competiu sem material esportivo adequado e torceu o pé (um cubano sentiu pena e ajudou improvisando um calçado). Participou sem intérprete, apoio, técnico e não tinha, inclusive, roupa para a Cerimônia de Abertura. Na ocasião foi improvisado um traje de outra disputa.
“Em Tóquio eu chorava todos os dias. Ficava sozinha. Não tinha nem trena e por isso marcava com meu pé”,
lembra a ex-atleta em matéria para a Folha de São Paulo.
Através do esporte, diversas portas foram abertas e a ex-esportista se formou em geografia, educação física e pedagogia. Também foi professora de educação física na UFF (Universidade Federal Fluminense) entre 1975 e 1987. Fundou um instituto com seu nome que promove a inclusão social via vôlei e atletismo, contando, ainda, com reforço escolar gratuito e apoio de psicólogo e serviço social.
Neste ano, Aída completou 84 anos no último dia 01 de março. No dia seguinte, postou um vídeo agradecendo às felicitações e afirmando que seu maior presente foi a primeira dose da vacina contra o coronavírus.
“Estou aqui para agradecer a todos que me felicitaram pelo dia do meu aniversário. ‘Tô’ contente pela lembrança, mas o meu maior presente foi a vacina, recebi ela hoje, a primeira dose”
Declaração de Aída aos seguidores no seu Instagram.
Aída dos Santos, como mulher negra, é um dos maiores exemplos do mundo esportivo. Tem uma história que merece ser reverenciada, celebrada e honrada por todas suas lutas, conquistas e glórias.
Conquistas, Prêmios e Títulos:
Campeã Estadual, Brasileira, Sul-Americana e Pan-Americana de salto em altura; | |
1964 – Olimpíadas de Tóquio – 4° lugar no salto em altura com a marca de 1,74m; | |
1967 – Pan-Americano (Winnipeg – Canadá) – Medalha de Bronze no Pentatlo; | |
1968 – Olimpíadas no México ficando na 22ª colocação na prova do Pentatlo; | |
1971 – Pan-Americano (Cáli-Colômbia) – Medalha de Bronze no Pentatlo; | |
1995 – Homenageada na inauguração da pista de atletismo da UFF (Universidade Federal Fluminense) que tem o seu nome; | |
2006 – Troféu Adhemar Ferreira da Silva no Prêmio Brasil Olímpico; | |
2009 – Diploma Mundial Mulher e Esporte (Premiação especial do Comitê Olímpico Internacional – COI). |
Maravilhosa !! agradeço por tomar conhecimento da matéria, e sim um Reconhecimento pelo COI!
CurtirCurtir